20/11/2020 às 21h48min - Atualizada em 20/11/2020 às 21h48min

Sim, existe racismo no Brasil e devemos lutar contra ele

Aline Imercio
Neste dia 20 de novembro, várias cidades do Brasil acordaram no feriado da Consciência Negra, que lembra a figura de Zumbi dos Palmares, um herói histórico na luta dos negros por seus direitos. Mas esse dia teve uma razão ainda mais forte para gente pensar no quanto, mesmo 132 anos após a abolição da escravatura no Brasil, o racismo é forte na nossa sociedade. Hoje a gente acordou com a notícia de que um homem negro, após discutir com uma funcionária de uma famosa rede de supermercados, no Sul do país, foi morto a pauladas pelos seguranças do local.

E ver o vídeo do rapaz sendo espancado até a morte, lembra os filmes em que vemos negros sendo espancados no tempo da escravidão. Você pode pensar que essa é uma comparação longe, mas, não, não é. Há uma coisa muito séria em nossa sociedade chamada racismo estrutural e, infelizmente, isso cresce cada vez mais. Em 2020, o estudo do Atlas da Violência no Brasil mostrou que o assassinato de negros no país cresceu 11,5%, nos últimos dez anos.

O racismo estrutural começa quando nós olhamos para os bancos universitários e vemos muito mais brancos que negros, quando a gente assiste a filmes, séries, novelas com negros fazendo papeis secundários, quando a diretoria de uma empresa raramente é composta por um negro, quando raramente vemos um negro como médico - porque ele não teve oportunidade. E essa falta de oportunidade, gerou um efeito dominó em sua família, que mais trabalhou do que estudou, tudo isso porque na estrutura houve racismo. E tão ruim quanto viver numa sociedade racista, é ela não admitir que é racista.

Recentemente, a empresa Luiza Trajano, do Magazine Luiza, abriu um programa de trainee voltado só para negros em sua empresa. E, ao invés de choverem elogios, afinal, ela estava isso num ato de promover a igualdade racial, porque ela observava um racismo estrutural nas empresas, uma falta de oportunidade, ela acabou sendo criticada. Quando alguém mexe na ferida, ela dói, e as pessoas se incomodam com isso.

Só para se der ideia, a população negra ocupa os piores cargos de emprego no Brasil, foram eles os maiores afetados pela crise do coronavírus e que sofreram o maior número de desemprego. E isso acontece porque a gente ainda vive no racismo estrutural. E precisamos admitir isso, para curar esse buraco social que vivemos.

Mas admitimos? Parece que não. Mesmo com todos os dados que mostrei aqui, e tantos outros dados que mostram como o negro sofre no Brasil, o nosso vice-presidente General Mourão disse hoje, no Dia da Consciência Negra, que “Não existe racismo no Brasil”, mesmo diante de todos esses números, mesmo diante do fato triste de hoje. Resta para nós admitirmos: há racismo no Brasil, mas há também uma luta, pessoas que lutam diariamente para combatê-lo. E é mais bonito e valoroso, a gente lutar para combater o racismo, ao invés de mascarar o que sabemos que existe.
 
 
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