30/11/2021 às 10h21min - Atualizada em 30/11/2021 às 10h51min

ESG ou você adota como prática ou está fora do jogo!

*Monalisa Gomes

SALA DA NOTÍCIA Gabriela Teodoro Cruz

ESG ou você adota como prática ou está fora do jogo!

*Monalisa Gomes

Não dá para negar que estamos num período em que a conscientização a respeito de assuntos com o meio-ambiente, governança sustentável e questões sociais está bem mais avançada do que jamais poderíamos imaginar (ainda bem!!). E vai muito além de ser apenas uma questão geracional: as novas e antigas lideranças estão mais atentas à prioridade que deve ser dada a esses assuntos e cada vez mais atuantes em busca de como construir um mundo mais igualitário, juntamente com uma sociedade sustentável e consciente.

 

No mundo corporativo, essa preocupação se dá através da sigla: ESG (Environmental, Social and Governance) — que, em português, significa “Ambiental, Social e Governança” — tem ganhado destaque e engajamento com práticas social e ambientalmente sustentáveis. Basta considerarmos que, de acordo com um relatório da PwC, 77% dos investidores irão parar de adquirir produtos de empresas que não produzem de acordo com as normas da ESG.

 

Logo, empresas que desejam se posicionar melhor nesta questão essencial e tão ampla, assim como startups que estão nascendo já com a compreensão de que precisam ser criadas com questões de ESG em vista, já entenderam que essa prática agrega na estratégia e impulsiona a empresa em aspectos como inovação, eficiência e agilidade operacional, marketing e vendas, identificação e fidelidade do cliente, sem contar o mapeamento e gerenciamento de riscos.

 

Então, fica aqui comigo e vamos olhar com muita atenção os assuntos de que trato neste texto.

 

Quais são os marcadores ESG?

 

Primeiro, vamos entender como cada uma das três letras de ESG funciona separadamente, para não corrermos o risco de pensarmos que a ESG se trata de uma política unitária para ser adotada pela sua empresa.

 

Ambiental - Esse indicador, entre vários itens, aborda por exemplo, a energia que a empresa consome, os resíduos que gera e os recursos necessários para seu funcionamento, além de se preocupar com os impactos que a organização causa na qualidade de vida dos seres vivos. A emissão de carbono na atmosfera e efeitos climáticos negativos causados para a comunidade também são considerados.

 

Social - Esse indicador, por exemplo, demonstra os relacionamentos que a empresa constrói com a comunidade onde faz negócios. Como parte atuante da sociedade, as empresas devem ter um corpo de colaboradores inclusivo e diverso, conhecer e reconhecer sua cadeia de partes relacionadas (stakeholders) além de perceber seu impacto nessa cadeia de valor.

 

Governança - Esse indicador que, na minha opinião, é o direcionador de tudo e sem esgotar suas possibilidades e importância, está relacionado ao sistema interno da empresa e observa as estratégias que a organização adota em sua atuação, proteção de dados, transparência e políticas, divulgação de informações, composição de conselho e quadro de diretoria, analisa se as decisões são eficazes e se a empresa persegue melhorias nas questões ambientais e sociais.

 

E ainda existe um quarto marcador, muito bem defendido por Sonia Favaretto que é o “E” de Economic, que deve ser incorporado a sigla e compor o EESG. Esse marcador econômico é

aquele que defende a sustentabilidade interna, ou seja, o resultado financeiro, a lucratividade do negócio e interligar as estratégias.

 

Ao contrário do que muitos céticos acreditam, os resultados positivos na adoção de uma política EESG como direcionador dos negócios, além de um alto impacto na reputação e financeiro, traz uma série de benefícios como demonstra este estudo feito pela Universidade Harvard.

 

Uma boa baliza pode ser acompanhar os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU que estão contribuindo a fim de que possamos atingir a Agenda 2030 no Brasil e entender como você pode posicionar a sua empresa ao assumir uma ou mais das ODS no seu negócio.

 

Capitalismo consciente

 

A ideia da ESG também converge com um outro conceito, o que eu chamaria de “conceito-irmão” que é o capitalismo consciente. Quem pensa que o mercado só segue a lógica predatória e utilitarista que tornou a imagem do mundo empresarial negativa aos olhos do público está por fora: estamos diante de um novo cenário, um que olha para diversidade, inclusão, inovação e abertura dentro das empresas — e as empresas que aceleraram a implementação de práticas ESG lideram este novo momento.

 

Uma prova disto é a própria B3 (Bolsa Brasileira), que mudou a metodologia de índice de sustentabilidade empresarial (ISE) e permitirá que os investidores acompanhem a agenda ESG das empresas na Bolsa a partir de janeiro de 2022.

 

A ideia por trás do capitalismo consciente vem do livro de mesmo nome de John Mackey, co-CEO da Whole Foods Market, e do prof. Raj Sisodia. Como eles descrevem, o capitalismo consciente é uma forma de “pensar sobre o capitalismo e os negócios de maneiras que reflitam melhor onde nós estamos na jornada humana, no estado atual do mundo hoje e no potencial inato aos negócios de criarem um impacto positivo no mundo.”

 

Essa ideia pode servir como um outro parâmetro para pensarmos a ESG. Porque, da mesma forma que a ESG serve para orientar as lideranças para a maneira que suas organizações podem lidar com cada um dos seus indicadores, o capitalismo consciente coloca as organizações dentro de um panorama ‘sociomercadológico’ ainda mais amplo.

 

Mas por que o mercado decidiu que esta mudança radical causaria mais benefícios do que solavancos à sua operação?

 

A meu ver, é porque descobrimos que quando pensamos de maneira consciente e sustentável, nós avançamos. E vou oferecer cinco exemplos de áreas em que o cuidado com a ESG e com a consciência evidenciam esses avanços.

 

Inovação

 

Essa nova modalidade de pensamento orientado a sustentabilidade pode trazer diversos fatores positivos no ambiente de trabalho como, por exemplo, estímulo à inovação. Adotar práticas sustentáveis ajudam as empresas a oferecerem serviços melhores e que são capazes de proporcionar valor a longo prazo para a sociedade e planeta.

 

Muitas empresas já estão repensando seus produtos e buscando iniciativas como o design circular, uma forma de produção que visa um mundo sem lixo e elabora produtos pensados para

serem reaproveitados. Uma grande marca que desenvolve seus produtos através do design circular é a Nike, que utiliza materiais pós-industriais reciclados nos lançamentos de novos produtos como o novo tênis Nike Air Vapormax Flyknit e toda a coleção Revival, que conta com camisetas, moletons e windrunners.

 

Os consumidores estão cada vez mais preocupados com os valores da empresa. Eles são leais a marcas que se alinham com suas próprias crenças e são rápidos em rejeitar marcas consideradas prejudiciais à sociedade ou ao meio ambiente.

 

Eficiência operacional

 

Uma gestão baseada em sustentabilidade ajuda a melhorar a eficiência operacional, pois permite uma visão mais ampla do futuro, reduz custos, evita o desperdício e o desgaste de recursos naturais, contribuindo, assim, para aumentar a lucratividade do empreendimento. Através de análise de KPIs é possível tornar as decisões mais eficientes, identificar futuras tendências e prevenir os negócios de desperdícios desnecessários.

 

Vendas e Marketing

 

Com uma sociedade mais informada, consumidores estão dispostos a pagar a mais por produtos que estejam alinhados com seus valores. Marcas que ofereçam produtos e serviços sustentáveis vão se destacar, uma vez que os hábitos de consumo estão mudando e a prioridade deve ser atender às novas demandas baseadas na busca por uma sociedade melhor.

 

Uma análise de dados do IRI, um instituto de pesquisa de mercado americano, mostrou que produtos promovidos com o selo de sustentabilidade cresceram 5,6 vezes mais rápido que os demais, o que demonstra a preocupação e atenção dos consumidores ao tema.

 

Lealdade do consumidor

 

Entregar serviços sustentáveis é a porta de entrada para garantir a fidelização do consumidor, especialmente os da Geração Z em diante que já correspondem a 24% da população brasileira, segundo um estudo do Itaú BBA de 2019. Investir nas métricas de benchmark de sustentabilidade para elaborar estratégias de preservação da natureza contribui para a construção de um setor mais consciente, além de estabelecer uma relação de confiança entre a empresa e o consumidor.

 

Gerenciamento de riscos

 

A opinião dos consumidores e investidores pode ser afetada drasticamente diante de escândalos decorrentes de impactos ambientais. Pensar dentro de uma ótica ética, transparente, íntegra e responsável permite que as empresas diminuam os riscos de impactos financeiros negativos, mesmo quando essa prática exige em um primeiro momento um desembolso de caixa maior ou até mesmo lucratividade menor, mas que a longo prazo pode prevenir escândalos ou até mesmo desastres ambientais. A Vale, por exemplo, teve uma queda de 24% em seus rendimentos após Brumadinho, o que, em termos monetário, representou uma perda de 72 bilhões em valor de mercado, sem contar outro tantos em recuperação de imagem e confiança.

 

A pandemia trouxe um novo panorama e as empresas que aceleraram a implementação de práticas ESG demonstraram maior resiliência diante de momentos de crise e maior solidez ao apresentar estratégia de retomada e entendimento de momento e mercado. O século XXI exige esse pensamento e condução da prática nas empresas em incorporar ESG ao negócio,

independentemente de quantos anos ela esteja no mercado, o “sempre foi assim” não tem mais espaço e precisa ser revisitado se a ideia é buscar e apresentar uma forma de melhorar a gestão e longevidade dos negócios, visto que, agora, os investidores buscam empresas que pensam além da lucratividade e os consumidores por marcar que olham para além do seu próprio “mundo”.

 

A pergunta é: E você? Está atento e aproveitando os benefícios que as mudanças e forma de pensar estão trazendo para o mercado e para o mundo? Já se posicionou e assumiu seu papel nesse todo?

 

*Monalisa Gomes é conselheira para ESG da Edmond e Country Manager LATAM, Espanha e Portugal da SchauerAgrotonic. A executiva possui ampla trajetória no setor de Energia Solar, tendo sido CEO da Fronius no Brasil. Além disto, atua como facilitadora de aprendizado para o curso de Liderança em Inovação no MIT (Massachusetts Instituteof Technology), é professora convidada da Fundação Dom Cabral para programas de desenvolvimento de lideranças em Organizações Humanizadas e Positivas; mentora do programa de liderança feminina do "Nós por Elas"; membro do conselho consultivo do "Fórum da Diversidade e Inclusão" da CKZ Diversidade; e também Associada voluntária influente e idônea para promover o programa em território brasileiro da ONG "Aldeias Infantis" - (SOS Kinderdorf)


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