08/11/2021 às 16h15min - Atualizada em 08/11/2021 às 16h15min

Cineasta indígena vai à COP26 denunciar impacto das queimadas e do agronegócio no Xingu: "Cada vez mais rios secando”

AB Notícias News
Olhar Direto
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Takumã Kuikuro deixou o Parque Indígena do Xingu (972 km de Cuiabá), maior terra indígena do país, para embarcar rumo à Europa ainda em outubro. Em Glasgow, na Escócia, o cineasta indígena reconhecido mundialmente está participando do maior evento que discute mudanças climáticas no mundo, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26). Integrante do povo Kuikuro, considerado o de maior população do “Alto Xingu”, Takumã respondeu a perguntas do Olhar Direto sobre o que pretende denunciar no encontro: “Incêndio e agronegócio”, disse. 
 

Em 2020, junto com o Instituto Família do Alto Xingu (IFAX), o cineasta promoveu uma campanha que foi destaque no mundo todo para combater os incêndios que avançaram as fronteiras e invadiram o Parque Indígena do Xingu. Segundo o Monitor de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Parque foi a terra indígena com o maior número de focos de incêndio naquele ano. Ao mesmo tempo, Takumã e o Coletivo de Cinema Kuikuro também filmaram e documentaram a devastação causada pelas chamas.  

“Nossa Terra Indígena do Xingu foi demarcada em 1966, era pouco ainda o agronegócio, não tinha muito. Hoje em dia, isso aumentou e impactou muito a terra indigena. Muito desmatamento, cada vez mais interesse do novo governo, deputados estão muito ligados com terra indígenas. A gente percebe o impacto direto na nossa mata, na nossa terra, sentimos isso”, destaca.“A gente percebe que tá tendo muito impacto, muita mudança climática, cada vez mais rios esquentando, secando, a gente não consegue mais plantar”.

Aos 38 anos, o cineasta participa pela primeira vez da conferência e diz que o encontro deve marcar um espaço importante para o reconhecimento das denúncias do movimento indigena brasileiro, que segundo ele é alvo direto das ações da gestão Bolsonaro. Takumã explica isso ao mencionar os “Projetos de Lei (PL) da Morte”, como os indígenas chamam as propostas governistas ou as que são apoiadas pelo Governo. Entre elas, por exemplo, o PL 490/2007 (restringe a demarcação de terras indígenas), o PL 191/2020 (libera a mineração em terras indígenas) e a votação da tese do chamado “Marco Temporal” no Supremo Tribunal Federal. 

Este último se trata de uma tese defendida pela bancada ruralista que defende que indígenas apenas têm direitos às terras as quais habitavam na data da promulgação da Constituição Federal. Ou seja, cinco de outubro de 1988. “Eu acho que é o momento da gente falar sobre isso, falar a verdade, o que que tá acontecendo no Brasil … [na] Amazônia, desmatamento, muito agronegócio, incêndio florestal. Momento pra gente falar do ponto de vista dos indígenas, moradores daqui da aldeia, moradores daqui da terra indigena”. 

Ao avaliar a atuação do Governo brasileiro, Takumã fez alusão ao “Projeto Independência Indigena” — iniciativa da Fundação Nacional do Índio, presidida por Marcelo Xavier, delegado da Polícia Federal nomeado por Jair Bolsonaro, o Sindicato Rural de Primavera do Leste e do Governo de Mato Grosso, que criou uma cooperativa para a produção agrícola mecanizada de arroz em território Xavante — para enfatizar que a missão da gestão Bolsonaro é criar uma fissura no movimento indígena.

“A atuação do governo é colocar, incentivar a população, até indígenas, não indígenas, à exploração da terra. Uma coisa muito perigosa que tá acontecendo na terra indigena. É isso que o governo quer fazer, quer dividir a população indigena, dividir a luta dos povos indígenas, colocar as pessoas [uma] contra a outra, [contra] seus próprios parentes, seus irmãos, e isso que é o perigo”.


Ainda segundo o cineasta, entre as expectativas do que deve ser determinado através das discussões da COP2 está a inserção da participação dos indígenas no mercado de carbono pelo seu papel na preservação da Amazônia. As regras para este comércio estão em pauta e devem ser firmadas até o fim do encontro, que acontece no dia 12 de novembro. 

O mercado, por sua vez, foi instaurado a partir da assinatura do Protocolo de Quioto, em 1997, e trata da normatização para que países industrializados compensem a sua emissão de gases de efeito estufa através da compra de créditos de carbono de projetos que atuam diminuindo tais poluentes, mesma tarefa que, segundo Takumã, é desempenhada naturalmente pelos indígenas. 

"Quem tá preservando o manto, quem tá cuidando da nossa mata, quem tá cuidando realmente de tudo isso é os indígenas. A gente precisa entender também outro jeito de ganhar com a preservação da mata, a preservação de natureza, da água e lutar pelo meio ambiente, pela recuperação de área que foi desmatada", diz o cineasta ao defender que parte dos recursos do mercado que combatem a crise climática também sejam direcionados aos povos indígenas. 


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