27/07/2018 às 05h20min - Atualizada em 27/07/2018 às 05h20min

Ingra Lyberato sobre sua família de traficantes em ‘Segundo sol’: ‘Bandidos por sobrevivência, pegos pela crise’

Marcelle Carvalho e Paulo Víctor Mafrans

Agência O Globo -
Agência O Globo -

Fátima, essa mulher com nome de santa, promete chocar muita gente pela maneira como conduz sua família, em “Segundo sol”. Vivida por Ingra Lyberato, a mãe de Narciso (Osmar Silveira) chega hoje à trama para comandar um clã de traficantes profissionais de drogas, incluindo ainda a filha Berta (Raíssa Xavier) e o marido Juarez (Tuca Andrada).

— Ela é uma mulher com sentimento maternal forte, apesar de ter atividades diferentes das famílias comuns. Eles são bandidos por sobrevivência, foram pegos de surpresa na crise. Isso pode estar acontecendo com algumas pessoas hoje em dia. É um contraste vê-los tão unidos e exercendo esse tipo de atividade — analisa Ingra, que fará 52 anos em setembro.

Falar sobre consumo de drogas não é tabu para a atriz baiana. Sem meias palavras, ela confessa já ter usado substâncias ilícitas.

— Experimentei maconha, que não gostei de cara, e cocaína, que eu fiquei experimentando por um tempo. Depois, pensei: “Gente, a pessoa que aparece com o efeito dessa droga não tem nada a ver comigo”. E não me pegou, estava só curiosa — confessa ela, que conta sobre como trata desse assunto com o filho, Guilherme, de 15 anos: — Falo sobre isso, mas não posso ser hipócrita de achar que ele nunca vai querer provar nada. É preciso ser dito que coisas podem acontecer no caminho. Mas não tenho a ilusão de que vou controlar a vida do meu filho nem suas experiências. Ninguém controlou as minhas.

A entrada na trama de João Emanuel Carneiro se dá 17 anos após sua última aparição em tramas da Globo, quando participou de “O clone”. Tratando a ocasião como “uma grande responsabilidade”, ela foi selecionada após um teste de elenco.

— Estou realmente muito tocada com esse trabalho. Fui bem recebida por toda a equipe e é uma história que fala sobre a minha terra. Há anos não encaro teste como avaliação de capacidade, mas de adequação ao papel — analisa ela, que acrescenta: — Eu procurei muito as pessoas da minha época e encontrei uma nova geração produzindo. Tive que me apresentar para todo mundo novamente. Feito isso, resolvi confiar no universo e algumas oportunidades começaram a aparecer.

Na década de 1990, Ingra Lyberato ganhou o Brasil com suas personagens nas novelas “Pantanal” e “A história de Ana Raio e Zé Trovão”, ambas na extinta TV Manchete. Já com a carreira consolidada depois de algumas outras tramas, a atriz resolveu “virar as costas”, como define, para a profissão.

— Me dei conta de que, quando estava num momento de muita exposição, eu me retirava. Primeiro para criar cavalo, depois pra ir a Porto Alegre (RS) constituir família... Com o tempo, comecei a pensar que eu poderia ter feito tudo isso e continuar honrando o meu espaço — diz ela, que avança: — Essa humildade era, na verdade, arrogância. É desdenhar de uma história. A ficha começou a cair e eu escrevi o livro “O medo do sucesso”. Tirei as máscaras e resolvi contar as mentiras que propagava para mim mesma.

A atriz afirma ainda que tinha medo “de crescer, errar, se tornar dona da própria história...”. Mas ela atesta, também, que tudo passou e, em 2012, resolveu recomeçar:

— Tive dificuldade de entender o que estava acontecendo, refazer contatos. Mas as coisas foram frutificando aos poucos e agora estou de volta à Globo. Há 30 anos, tento esconder o meu sotaque. É um trabalho natural dos atores tentar neutralizá-lo. Agora, estou podendo contribuir com a minha baianidade. Nunca mais eu preciso sair de cena. Esse é o meu dom.


Link
Tags »
Notícias Relacionadas »
Mande sua denuncia, vídeo, foto
Atendimento
Mande sua denuncia, vídeo, foto, pra registrar sua denuncia