03/09/2022 às 07h00min - Atualizada em 04/09/2022 às 00h36min

Avô de autor do ataque contra Cristina Kirchner matou esposa em 98: 'Ele tinha ciúmes, fazia diário da rotina dela', diz parente

José Ernesto Montiel Ahumada se matou após o crime em SP. Filho dele, o chileno Fernando Ernesto Montiel Araya também tem passagens por crimes e é pai de Fernando Andrés Sabag Montiel, que foi preso suspeito de tentar matar a vice-presidente da Argentina.

G1
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/09/03/avo-de-autor-do-ataque-contra-cristina-kirchner-matou-esposa-em-98-ele-tinha-ciumes-fazia-diario-da-rotina-dela-diz-parente.ghtml

José Ernesto Montiel Ahumada se matou após o crime em SP. Filho dele, o chileno Fernando Ernesto Montiel Araya também tem passagens por crimes e é pai de Fernando Andrés Sabag Montiel, que foi preso suspeito de tentar matar a vice-presidente da Argentina. Cristina Kirchner: quem é o suspeito de tentar matar a vice-presidente da Argentina
O avô do brasileiro Fernando Andrés Sabag Montiel, que foi preso por tentar matar a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, assassinou a esposa, de 31 anos, em 1998, e depois se matou. O casal tinha três filhas.
O crime ocorreu em um prédio na capital paulista, na esquina da Avenida São João com a Avenida Ipiranga, no Centro. O g1 conversou com um parente, que preferiu não ser identificado.

José Ernesto Montiel Ahumada era conhecido pela família da vítima como Pepe. Ele era cerca de 30 anos mais velho que Rosimeire de Souza. Na época, Rose, como era conhecida, trabalhava como gerente de um salão de beleza. A vida da esposa fora de casa era mal vista pelo marido machista.
"Foi uma menina muito bonita, inclusive ela chegou a ser até rainha de Carnaval. Se casou com ele, começou ter filhos e esqueceu um pouquinho dela mesma. Nos últimos tempos ela tinha conseguido um trabalho. Então, ela começou a se arrumar, fez dietas e começou a ficar bonita de novo. Ele ficava com ciúmes", disse.
"Como ela participava de muito evento para fazer maquiagem de modelos, desfiles e coisas do tipo, ele começou a ter ciúme doentio. Era uma menina maravilhosa, alegre, bacana, tinha as crianças pequenas."
Fernando Andrés Sabag Montiel, o brasileiro com nacionalidade argentina que atacou Cristina Kirchner com uma arma.
Reprodução/Instagram
Diário da rotina da esposa
Segundo o parente, dois dias antes do crime ele foi até a casa de outro familiar, uma semana depois do Ano Novo. Quando ele chegou no prédio acabou a luz.
"Abriu toda a sacada do apartamento para aquele sol bonito, dourado e ele com uma agenda. Ele perguntou se poderiam cuidar das crianças. Depois foi descoberto que naquele foi o dia que ele adquiriu a arma", lembrou o familiar.
Com a agenda em mãos, José Ernesto anotava tudo o que Rose fazia. "Hoje, a Rose chegou e não me deu um beijo", registrou. “Hoje, a Rose falou que eu sou um velho”, “hoje, a Rose falou que se eu não mudar nada, ela se separa de mim.”
O parente tentou alertar a vítima. Ainda segundo o relato ao g1, o marido tentou tirar a esposa do trabalho para montar um negócio no apartamento.
"Ele me ama. O Pepe fazer alguma coisa para mim? Imagina". Aquele dia à noite ele a matou. Inclusive, ele deu tiro nela e ligou avisando para pegar as crianças."
Fernando Andrés Sabag Montiel, o brasileiro com nacionalidade argentina que atacou Cristina Kirchner com uma arma.
Reprodução/Redes Sociais
Rose não era mãe de Fernando Ernesto Montiel Araya, o pai do jovem que tentou matar Cristina Kirchner.
"Ficamos surpresos. O neto [Fernando Andrés Sabag Montiel] dele fazer aquilo [tentar atirar contra Cristina Kirchne] também. Acho que seja talvez algo no DNA deles ou emocional", desabafou o parente.
Fernando Ernesto Montiel Araya
Fernando Ernesto Montiel Araya também tem passagens por crimes em São Paulo entre os anos de 2001 e 2014. Em um deles, chegou a ter a prisão preventiva decretada e ficou detido quase um ano no Guarujá, no litoral
Ele é chileno e já foi alvo de processo de expulsão do Brasil, em 2020, pela Polícia Federal por condenações por furtos, estelionato e falsificação de documento. (veja detalhes abaixo).
No documento da Polícia Federal, divulgado no site do governo, consta que o inquérito foi instaurado por conta da existência de sentença penal pela Justiça em seis processos contra Fernando Ernesto. Ele foi notificado para ir à delegacia no dia 14 de abril de 2020 para formalização de sua qualificação e interrogatório.
Fernando Ernesto teve três passagens pela Penitenciária de Itaí, sendo a última entre 19 de agosto de 2015 e 20 de outubro do mesmo ano, segundo a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP).
No Diário Oficial da União, de 20 de agosto de 2021, foi publicada a portaria de nº 3.696, de 18 de agosto, em que a coordenadora de processos migratórios "resolveu pela expulsão de Fernando do território nacional, ficando a efetivação da medida condicionada ao cumprimento da pena a que estiver sujeito no país ou à liberação pelo Poder Judiciário, com o impedimento de reingresso no Brasil pelo período de 24 anos, a partir da execução da medida".
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VÍDEO: momento a momento do atentado
Fontes apontam que o último endereço dele no país foi no Guarujá. Não há informação sobre em qual país Fernando Ernesto está atualmente.
O g1 tentou entrar em contato com advogados que defenderam Fernando Ernesto, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem.
Processos com condenação
Segundo o g1 apurou, uma das primeiras condenações citadas nesse documento da PF é referente ao crime de estelionato registrado em 2001, no 5º Distrito Policial, no bairro Aclimação, São Paulo.
Fernando foi condenado a um ano de prisão e ao pagamento de 10 dias-multa no valor unitário mínimo e no regime semiaberto.
Outro processo citado é do ano de 2009, o qual Fernando foi condenado pelo crime de furto em São Paulo.
Em 2011, ele teve mais uma condenação pelo mesmo crime, também na capital. Consta do processo que Fernando Ernesto foi condenado por furtar a carteira de um homem e falsificar o documento de identidade da vítima dentro de um shopping na avenida Paulista.
A vítima alegou que deixou o paletó na cadeira de um restaurante e, pouco tempo depois, não achou a carteira. A polícia foi acionada e encontraram Fernando Ernesto com documento da vítima e dois cartões tentando finalizar uma compra em uma loja de relógios.
O documento já estava alterado com a foto de Fernando. Ele admitiu à polícia apenas a falsificação e negou a prática de furto, afirmando que achou o documento e cartões de crédito em uma lixeira.
No processo, o réu entrou com recurso e a 14ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça deu parcial provimento “ao recurso para reduzir as suas penas para 4 anos de reclusão, em regime aberto, e pagamento de 20 (vinte) dias-multa, substituída a pena privativa de liberdade por prestação de serviços à comunidade pelo prazo da condenação, e por multa no valor de 10 (dez) diárias mínimas".
Crime no Guarujá
Três anos após essa condenação, Fernando Ernesto foi preso em flagrante no Guarujá, litoral de São Paulo, acusado de furtar um supermercado em 25 de outubro de 2014.
Segundo o processo, ele foi abordado no estacionamento de um supermercado e os seguranças encontraram no interior de sua mochila carne bovina e lombo de bacalhau, avaliados em R$ 370. Foi perguntado se ele tinha o comprovante de pagamento. A polícia foi acionada e o prendeu.
Testemunhas alegaram, na época, que Fernando Ernesto tinha ido ao mercado dias antes e que as mercadorias tinham sumido. O açougueiro o viu novamente e avisou a equipe de segurança.
Ele alegou que colocaram a mercadoria dentro de sua mochila e que teria sido agredido, mas teve a prisão preventiva decretada.
Em 13 de agosto de 2015, ele recebeu o alvará de soltura após a defesa entrar com recurso e a Justiça condená-lo a oito meses e cinco dias de reclusão em regime inicial aberto e pagamento de seis dias-multa.
O que se sabe sobre o ataque a Cristina Kirchner
Atentado
A arma da marca Bersa calibre 32 estava carregada com cinco balas, mas falhou na hora do disparo e a vice-presidente não foi ferida. A motivação do atentado é desconhecida.
Homem é detido após tentar assassinar Cristina Kirchner na Argentina
Reprodução/GloboNews
No momento da tentativa de assassinato, ele levanta a mão esquerda, que está com a arma, e tenta atirar. No vídeo, é possível ver que ele chega a engatilhar a pistola, que falha. A Polícia Federal argentina, que estava cuidando da segurança de Cristina, o deteve rapidamente.
"Agora a situação tem que ser analisada pelo nosso pessoal da (polícia) Científica para avaliar os rastros e a capacidade e disposição que essa pessoa tinha", disse Aníbal Fernández.
Fernando Andrés Sabag Montiel divulgado pela imprensa argentina
C5N
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Até sua prisão, Sabag Montiel, nascido no Brasil, morava em um apartamento alugado de um cômodo no município de San Martín, na Grande Buenos Aires. O dono do lugar, Sergio Paroldi, de 46 anos, falou com o diário argentino e contou da surpresa ao descobrir o que o inqulino havia feito.
“Ontem cheguei tarde em casa. Liguei a TV para ver o que se sabia sobre o ataque a Cristina e de repente vi uma foto do meu inquilino no noticiário. Era o Fernando! Não consigo acreditar”, disse.
O documento do brasileiro obtido pela Polícia Federal argentina mostra que ele nasceu em São Paulo.
Os registros comerciais afirmam que o brasileiro tem autorização para atuar como motorista de aplicativos na Argentina e tem um carro em seu nome.
Mapa mostra local do ataque contra Cristina Kirchner
Editoria de Arte/g1

Fonte: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/09/03/avo-de-autor-do-ataque-contra-cristina-kirchner-matou-esposa-em-98-ele-tinha-ciumes-fazia-diario-da-rotina-dela-diz-parente.ghtml


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