26/08/2022 às 18h21min - Atualizada em 26/08/2022 às 18h21min

Lula no JN: colunistas comentam entrevista do candidato do PT à Presidência da República; as análises

William Bonner e Renata Vasconcellos conduziram a entrevista com o candidato do PT nesta quinta-feira (25), às 20h30, com transmissão por TV Globo, Globoplay e g1

AB Notícias News
G1
Marcos Serra Lima

Jornal Nacional entrevistou ao vivo nesta quinta-feira (25) Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato à Presidência da República. Na análise de colunistas do g1 e da GloboNews, o líder nas pesquisas de intenção de voto tentou falar a um público mais amplo do que aquele a que costuma atingir e "foi firme nas respostas em relação ao seu ponto fraco, a corrupção", passando "uma impressão de convicção".

Além disso, observam, o petista citou diversas vezes – e de forma espontânea – o vice de sua chapa, Geraldo Alckmin (PSB), no que pode ser visto como um aceno "em relação a um deslocamento para o centro e a um governo de aliança". Na avaliação deles, o ex-presidente mostrou "uma disposição para conquistar o eleitor indeciso, visto como estratégico" e "admitiu os erros da Dilma", mas reconstruindo esse "passivo para que a retórica funcionasse" (veja comentários mais abaixo nesta reportagem).
Lula foi o terceiro sabatinado na série de entrevistas ao JN conduzida por William Bonner e Renata Vasconcellos. A estreia ocorreu nesta segunda-feira (22), com Jair Bolsonaro. O presidente, que disputa a reeleição, repetiu mentira sobre urnas eletrônicas, disse que aceitará o resultado das eleições "desde que sejam limpas e transparentes" e defendeu aliança com o Centrão. 
Nesta terça-feira (23), foi a vez de Ciro Gomes (PDT), que prometeu reavaliar tom das críticas a adversários para reconciliar o país e propõe plebiscitos diante de impassesA próxima entrevistada vai ser Simone Tebet (MDB), nesta sexta-feira (26).
Andréia Sadi
"Ele citou a primeira vez o Geraldo Alckmin de forma espontânea. Ele disse: 'Eu quero voltar para fazer o que eu nem sabia que dava para fazer. E é por isso que escolhi o Alckmin para ser vice, para a gente poder voltar e fazer...'. Ele está repetindo agora, para essa entrevista do Jornal Nacional, o que ele tem dito em conversas reservadas com empresários, com integrantes desse centro, que o governo Lula não vai ser o governo Lula. Vai ser o governo Lula-Alckmin. Ele conseguiu reproduzir o recado, a mensagem que a campanha quer passar desde o começo. Que o governo Lula vai ser o governo do Lula, do Alckmin, dessa frente ampla, da democracia versus a barbárie."
"Você fala que ele citou, nas suas contas, nove vezes [o nome do Alckmin]. Depois, ele fala do Alckmin também acenando para a articulação política, quando ele fala de formar bancadas. Então, ele também está apontando o que ele espera do Geraldo Alckmin como vice, se ele de fato for eleito. Primeiro, é convencer esse eleitor médio, de setores médios, inclusive com esse discurso de enfrentar a corrupção, que sempre foi de fato um ponto sensível para o PT..."

"A campanha do PT acha que ele pode conseguir quebrar uma resistência de eleitores que estão indecisos e que, de fato, impedem esse crescimento do Lula porque acham que o PT não consegue enfrentar essa barreira do combate à corrupção. E o Lula não só admitiu que teve corrupção, como ele diz: 'Ó, teve corrupção porque a gente deixou investigar, as pessoas confessaram'. Pela primeira vez, acho ficou claro que eles não vão mais cair na armadilha... Porque isso também esvazia a estratégia de campanha do presidente Bolsonaro. Qual é a grande estratégia agora no programa de TV? O antipetismo. O que o Lula está dizendo é: 'Não é a campanha do PT, tem o Alckmin está aqui, o Alckmin que era o PSDB'. E a segunda é a do combate à corrupção."
"Mas ele assume a Dilma, esse é o resumo. Ele diz que foi grato a ela, fala dela na Casa Civil, depois fala que o primeiro mandato da Dilma foi extraordinário. [...] Aí, nesse segundo mandato, aí começaram os erros."
Julia Duailibi
"A ida dele ao Jornal Nacional hoje tinha um objetivo: conquistar o eleitor indeciso. Era esse o objetivo central. E, nas reuniões que eles fizeram na terça-feira, havia muito a preocupação de como ele poderia usar o tema corrupção para chegar a esse eleitor. E eles [coordenadores de campanha] fizeram um monitoramento durante a entrevista ao JN com grupos de pessoas indecisas, por todo o Brasil, para saber como que elas reagiam, principalmente em relação ao tema corrupção. Que é o tema mais sensível para esse eleitor que fica na dúvida se votará em Lula. [...]"
"É um eleitorado muito estratégico, e ele tinha um discurso específico para esse eleitor, que foi já, enfim, explorado desde terça-feira, quando ele se reuniu com o núcleo mais próximo para discutir a estratégia da entrevista. O que era? Falar o que foi feito em termos institucionais. Ele cita aquela lista, coloca a Lei de Acesso à Informação, a entrada da CGU, da AGU e tudo o mais. E uma declaração que é bastante simbólica, importante, que é a seguinte e aparece lá no meio da entrevista: 'Não se pode dizer que não teve corrupção, se as pessoas confessaram'."
"Junto com essa estratégia toda, de chegar ao eleitor indeciso, está tentar evitar que esse eleitor chegue a Bolsonaro. E aí, quando [Lula] fala dos mecanismos de controle da corrupção, cita, e aí de maneira bem rápida, o os decretos de sigilo que foram editados presidente Bolsonaro, e que ele [Lula] sugere que são para favorecer os filhos e aliados. Nesse ponto, eu conversei com integrantes do partido, ele deveria ter explorado mais isso e deixado mais vinculado à imagem do presidente Bolsonaro."
Merval Pereira
"Essa questão de ser o pai dos pobres é a imagem que o Lula quer deixar clara para o eleitorado que é cativo dele: o eleitorado de baixa renda. Ele falou isso porque é o que ele quer ser para esse eleitorado. Agora, tem algumas questões interessantes. Primeiro, foi a primeira vez que ele admitiu que houve corrupção. Até agora ele dizia que não houve mensalão, que não houve petrolão, que não houve nada... Teve que admitir. Agora, ele finge que não tem nada a ver com isso. É impressionante que ele tenha admito a corrupção daquele tamanho no governo dele, e que ele não tem nada a ver com isso. 'Prende. Prende quem quiser, menos eu'. É explicável, né? Dá para entender. Mas é o máximo que ele pode chegar ao mea culpa, que seria uma atitude desejável, não é?"
"Ele falou sobre os mecanismos de investigação, disse que nunca interferiu. É verdade. E eu fiquei pensando aqui que deve ser algum mecanismo psicológico que acontece nesses casos. Porque o presidente Collor, por exemplo, também deixou correr solto tudo, e acabou sendo impichado. Então, é curioso isso, essa reação de um presidente acusado de corrupção, pressionado pela opinião pública, né?"
"E eu acho que ele foi bem. Não há por que não achar que ele não foi bem. Ele foi muito bem, foi enfático, explicou as coisas do ponto de vista dele muito bem explicado. Agora, ele vai ter que retomar toda essa discussão durante a campanha eleitoral. Porque vão bater de novo no mensalão, no petrolão... Ele dizer que o Orçamento Secreto é mais grave que o mensalão... Tudo bem, pode ser mais grave, é pior porque oficializou a corrupção."
"Agora, o governo PT, no mensalão e no petrolão, também usou de mecanismos de corrupção para ganhar o apoio do Congresso. Não vejo como dizer que é melhor ou pior, é a mesma coisa. É interessante, que ele está usando a mesma coisa do Ciro: vai querer usar os governadores e os prefeitos para pressionar o Congresso, para se livrar desse controle do Congresso, que é um controle que até agora não é possível contestar. E é difícil um presidente mudar isso, porque qualquer coisa ele faça, é o Congresso que tem que aprovar."

Flávia Oliveira
"[Lula adotou] Uma estratégia que incorpora mais uma dimensão da crise econômica no projeto de governo. Sem dúvida, Ciro faz essa ênfase, desde 2018, na verdade, não é nem uma agenda desta eleição. Mas é uma dimensão da crise econômica que não vinha sendo contemplada pelo candidato petista, como não é pelo Jair Bolsonaro, essa do endividamento das famílias e do quanto o orçamento está apertado. Não somente pela deficiência da política social e da crise econômica mais ampla, mas também por essa dimensão do endividamento, que inclusive é algo que tende a se agravar com os novos mecanismos de empréstimo, inclusive envolvendo os beneficiários do Auxílio Brasil."
"Houve uma ênfase muito forte numa política social de transferência de renda, inclusive quando Lula lembra, na entrevista, que a Lei de Diretrizes Orçamentárias apresentada por Jair Bolsonaro não prevê a manutenção do Auxílio Brasil de R$ 600. Então expõe essa contradição e essa constatação de que os R$ 200 adicionais foi uma medida para disputar a eleição por parte do atual presidente."
"Acho que a entrevista demarcou muito bem uma estratégia que a gente já vinha antecipando aqui, sobre o Lula trabalhar com a dimensão do sonho, da esperança, do futuro. Então, ele o tempo inteiro remete aos bons números, às boas políticas, lembra de universidades criadas, isso alcança os jovens, isso alcança as mães, o desemprego mais baixo, a inflação que voltou para a meta no primeiro mandato. Então, traz muito essa memória de uma outra realidade econômica."
"Eu queria falar um tiquinho mais sobre a dimensão político-ideológica. Porque me parece que foi demarcada uma faixa, tanto quando fala do Alckmin tantas vezes, como admite corrupção, mas não se compromete, quando fala também de militância, Lula se desloca de um extremismo que está muito presente no debate público, como se ele e Bolsonaro fossem dois extremos opostos. Não são. E acho que isso ficou bastante demarcado nessa entrevista pelos acenos em relação a um deslocamento para o centro e a um governo de aliança, com dez partidos, como ele lembrou, e com o Alckmin."

Monica Waldvogel
"O que é muito interessante na retórica de Lula é que ele tem dois grandes passivos: o da corrupção (e da Lava Jato, da condenação e da prisão) e a gestão econômica do governo Dilma (sua indicação para o governo). Esses dois passivos foram muito bem, digamos, reconstruídos, para que a retórica dele funcionasse. E o que funciona bem com o Lula é que ele é capaz de construir uma alegação para explicar esses dois episódios muito negativos da história dos governos petistas, mas embrulhados na velha e boa retórica do Lula."
"Ele é muito experimentado. Ele está dominando multidões desde que era líder sindicalista, em condições muito mais difíceis. É interessante, porque a gente percebe claramente que foi necessário arrumar esse discurso. Então, ele arrumou desta forma: 'Houve corrupção, houve confissão, houve devolução de dinheiro, isso é inegável. Mas houve uma falha grave da Lava Jato. Eles levaram para o lado político e queriam me atingir'. Pronto, já está aqui, redondinha a argumentação que vai servir... Você pode fazer variações sobre essa versão até o final da campanha. Você vê que é uma construção racional para explicar aquilo que todo o Brasil viu recentemente."
“E, na questão do passivo Dilma – que são os dois anos de recessão, o desemprego, a inflação, enfim, toda a confusão econômica – é muito interessante, porque aí eu achei que foi mais genial ainda a construção. Que foi ele dizer: 'Dilma me disse: 'Se perguntarem sobre o meu governo, fala para eles me chamarem'. Como quem diz: 'Não precisa defender você o meu governo, eu vou lá e falo'."
"Ele também admite o erro da Dilma. Da mesma forma como ele admite a corrupção, ele diz: 'Ela se equivocou no congelamento de preços dos combustíveis e ela errou na desoneração'. São duas construções de equipe. [...] O discurso está embrulhado nessa retórica que ele domina muito bem. Você tem a impressão da mais franca sinceridade, [que] aquilo está saindo de dentro dele. Mas a gente sabe que aquilo foi racionalmente arrumado para as circunstâncias."
Mauro Paulino
"Lula abriu o leque. Ele tentou atingir mais do que o público que ele costuma atingir. Ele foi firme nas respostas em relação ao ponto fraco dele, a corrupção, especialmente em relação ao mensalão. Ele passou uma impressão de muita firmeza, de convicção. E ele tentou, com o discurso de conciliação, atingir aquele eleitor que tem uma certa tendência ou admite votar em Lula e ainda não está com ele. E acho que sutilmente ele acenou para os eleitores de Ciro, não só ao incorporar a questão dos endividamentos, mas também no tom, na forma como ele se comunicou. Porque ele não deixou de ser Lula, né?, ele mostrou até uma certa ansiedade em alguns momentos, mas aquela ansiedade para chamar a atenção do eleitor. Pegar o eleitor pelo colarinho e fazer com que ele preste atenção."
"E Lula é mestre nisso, ele sabe muito bem se comunicar com a parte maior do eleitorado, que são aqueles que se identificam mais com ele, que têm menos escolaridade, uma renda menor e menos acesso à informação. Me parece que a impressão final que fica é que Lula foi bem e conseguiu atingir partes do eleitorado que não são tão afeitas a ele."

"As nove citações ao Alckmin... Isso certamente foi pensado e serve como um símbolo de conciliação. E, no minuto final, ele foi direto. Começou falando de educação, e educação é o tema mais valorizado, o tema que mais os eleitores esperam que um candidato a presidente ou que um presidente da República saiba cuidar. E em seguida falou do endividamento. Então, me parece que foi uma atuação, um desempenho bastante favorável a Lula."

 

 


 


 


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