23/07/2018 às 10h15min - Atualizada em 23/07/2018 às 10h15min

Roberta Rodrigues, de 'Segundo sol', solta o verbo sobre machismo, racismo e relacionamentos: 'Sou uma mãe gostosa'

Luana Santiago*

Agência O Globo -
Agência O Globo -
Roberta Rodrigues (Foto: Reprodução)

Embora garanta que não possui nada em comum com sua personagem em “Segundo sol”, Roberta Rodrigues transmite a mesma força de Doralice quando fala. Com intensidade, as duas defendem suas convicções — e, perto delas, críticas não têm vez.

— Quando eu acordo e quero estar periguete, boto minha roupa e não tô nem aí! — conta a atriz de 35 anos, que usa e abusa de decotes por achar que eles favorecem o colo, sua parte favorita do corpo de 1,71m de altura e 66kg: — Se a blusa não tivesse decote, eu cortava. Acho lindo porque é sexy, chique, clássico... E pode ser vulgar, se é isso que você quer!

Como de praxe para uma mulher numa sociedade de valores patriarcais, Roberta não fugiu de situações de assédio — potencializados por seu estilo sensual. Apesar das inúmeras situações de constrangimento, ela nunca abriu mão de sua expressão:

— Sempre gostei muito de usar short curto e blusinha com decotão. E nunca deixei um homem encostar em mim. Quando acontecia, eu revidava com agressão. Já até arrumei confusão porque um cara me alisou. Mesmo ele sendo gigante, eu o empurrei, dei soco e tudo. No fim, tiraram o sujeito de perto de mim, mas recebi ameaças: “Vou te matar”. Aconteça o que for, sustento as coisas que quero e os modelos que visto.

A regra não mudou após o nascimento da filha, Linda Flor, de 1 ano, fruto da união da atriz com o administrador Guilherme Guimarães. Algumas adaptações no guarda-roupa, no entanto, foram necessárias por questões de logística. Para correr atrás da criança, peças mais confortáveis e flexíveis passaram a dividir espaço com os looks justos e sensuais.

— Depois que me tornei mãe, ouvi muita piadinha do tipo: “Agora que é mãe não pode usar esses bodies ousados”. Mas respondo: “Não, amor, porque eu sou uma mãe gostosa” — conta, aos risos.

As roupas apertadas também foram motivo de julgamento no início da carreira, ainda no grupo de teatro Nós do Morro. Embora esse tenha sido o menor dos seus problemas. Nascida e criada na comunidade do Vidigal, na Zona Sul do Rio, Roberta admite não ter sido fácil se inserir no meio artístico.

— As portas não estavam todas abertas para mim. Quando se é negro, as pessoas não te enxergam. Você fica invisível — reflete.

A atriz relata ainda que hoje, mesmo tendo no currículo um filme que concorreu ao Oscar e que esteve em Cannes (“Cidade de Deus”, de 2002), a competição no mercado continua injusta:

— Isso não conta para que eu esteja numa publicidade, por exemplo. Meu salário, trabalhando para caramba, não é igual ao dos outros. Não adianta, porque, se o sistema não quiser, você não entra nele.

Olhando para trás, desde sua estreia na TV em “Mulheres apaixonadas” (2003), Roberta sente orgulho de sua trajetória, mas não está cem por cento satisfeita com suas experiências.

— Fico triste, porque queria que nós, negros, fôssemos mais — desabafa ela, que tem vontade de fazer uma vilã na televisão.

Embora não seja má, Doralice não é uma personagem que caiu nas graças do público, devido à obsessão pelo marido, Ionan (Armando Babaiaoff). Sobre o ciúme da baiana, a atriz não economiza:

— Ela precisa de ajuda médica para parar de viver só por esse homem. Muitas pessoas me contam que têm ranço dela; dizem que é muito chata. E se acontecesse o contrário? Se fosse uma mulher refém de um homem possessivo? Quando a obcecada é a mulher, chamam só de chata. O ciúme não é tratado com a gravidade que deveria. Ninguém acredita que essa mulher pode, no futuro, matar esse homem. Porque pode, sim, acontecer.

Em doses controladas, Roberta acredita que o ciúme apimenta a relação. O marido, Guilherme, embora entenda a profissão da atriz, sente-se incomodado com as cenas quentes protagonizadas por Doralice. Para não sofrer, ele evita assistir à novela.

— Justo no dia em que meu marido resolveu ver, minha personagem fazia amor com Ionan. Para piorar, Gabriel, meu enteado (de 4 anos), estava junto e ficou chocado ao me olhar com outra pessoa: “Pai, Beta tá beijando na boca daquele menino! Ela não é sua namorada?”. Então, lá foi Gui explicar que fazia parte. Fiquei supertensa. Por Guilherme não pertencer ao mundo artístico, é difícil separar totalmente a ficção da realidade. No lugar dele, eu também sentiria ciúme e também não veria — afirma ela.

 

Stylist: Erick Maia

Beleza: Aline Albuquerque

*estagiária sob supervisão de Camilla Mota


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