13/05/2022 às 14h15min - Atualizada em 13/05/2022 às 15h18min

TRAGA-ME A CABEÇA DE LIMA BARRETO!

Monólogo teatral reflete a contemporaneidade ao discutir racismo e eugenia, ao mesmo tempo em que celebra os 140 anos de nascimento e centenário de morte do escritor Lima Barreto

SALA DA NOTÍCIA Letícia Reitberger
Valmyr Ferreira
Apresentações em maio nos Teatros Sesi Centro, Caxias e Jacarepaguá

Volta à cena no Rio de Janeiro, para três únicas apresentações no mês de maio, o premiado “Traga-me a cabeça de Lima Barreto!” monólogo teatral interpretado por Hilton Cobra que reflete sobre racismo e eugenia a partir da obra o escritor Lima Barreto. As apresentações integram o Circuito Sesi de Teatro percorrendo o Teatro Firjan Sesi Centro (dia 19, quinta-feira às 19h), em seguida o Teatro Firjan Sesi Caxias (dia 27, sexta-feira às 20h), finalizando no Teatro Firjan Sesi Jacarepaguá (dia 28, sábado às 20h).

A nova temporada acontece no mês em que celebramos o nascimento de Lima Barreto (13 de maio de 1881), cujos pensamentos e textos seguem mais atuais do que nunca. Afinal, Lima foi um autor que muito bem traduziu o Brasil através de obras com grande consciência crítica, pautadas na temática social, expressando injustiças como preconceito e o racismo.

Cobra reconhece a importância de se fazer um tributo a Lima Barreto – um autor tão pisoteado, tão injustiçado, que pensou tão bem esse país, abriu na literatura brasileira ‘a sua pátria estética’, os pisoteados, loucos, os privados de liberdade – esses são os personagens do escritor. “Acredito que ele deve ter sido, se não o primeiro, um dos primeiros autores brasileiros que colocaram esse ‘mundo esquecido’ em qualidade e com importância dentro de uma obra literária” destaca o ator.

“Existe uma urgência em frear a perpetuação das estruturas sociais e raciais no Brasil que insistem em colocar homens e mulheres pretos como cidadãos de segunda classe. Por isso, passados três anos da estreia de Traga-me a Cabeça de Lima Barreto!, e diante dos efeitos causados pela pandemia à população negra e pobre, acreditamos que o espetáculo se mantém atual e necessário para refletir e debater racismo e eugenia” explica Hilton Cobra.

Sobre o espetáculo Traga-me a Cabeça de Lima Barreto!
Escrita pelo diretor e dramaturgo Luiz Marfuz, especialmente para comemorar os 40 anos de carreira do ator Hilton Cobra, com direção de Onisajé (Fernanda Júlia), a peça mostra uma imaginária sessão de autópsia na cabeça de Lima Barreto, conduzida por médicos eugenistas, defensores da higienização racial no Brasil, na década de 1930. O propósito seria esclarecer Como um cérebro, considerado inferior pela ciência eugenista da época, poderia ter produzido e publicado inúmeras obras literárias de qualidade, se o privilégio da arte nobre e da boa escrita é, para eles, um privilégio das raças consideradas superiores??. A partir desse embate, a peça mostra as várias facetas da personalidade e da genialidade de Lima Barreto, refletindo sobre loucura, racismo e eugenia, a obra não reconhecida e os enfrentamentos políticos e literários de sua época.                                               

A narrativa ganha força com trechos dos filmes “Homo Sapiens 1900” e “Arquitetura da Destruição” – ambos cedidos gentilmente pelo cineasta sueco Peter Cohen – que mostram fortes imagens da eugenia racial e da arte censurada pelo regime hitlerista. O cenário, de Marcio Meirelles – um manifesto de palavras – contribui para a força cênica juntamente com o figurino de Biza Vianna, a luz de Jorginho de Carvalho, a direção de movimento de Zebrinha, a música de Jarbas Bittencourt e a direção de vídeos de David Aynan. Os atores Lázaro Ramos, Caco Monteiro, Frank Menezes, Harildo Déda, Hebe Alves, Rui Manthur e Stephane Bourgade – todos amigos e admiradores do trabalho de Cobra, emprestam suas vozes para a leitura em off de textos de apoio à cena. 

A concepção do espetáculo Traga-me a Cabeça de Lima Barreto!
O Brasil de Lima, cujos romances, contos e crônicas – especialmente Diário íntimo e Cemitério dos vivos, inspiraram o monólogo escrito por Luiz Marfuz, dirigido por Onisajé (Fernanda Júlia) e interpretado pelo ator Hilton Cobra, permanece como a pátria das desigualdades sociais e ainda mantém na invisibilidade 54% da população brasileira composta de homens e mulheres negros.

Esses dois temas foram entrelaçados na dramaturgia construída por Luiz Marfuz que partiu da ideia de se exumar o corpo do escritor para se fazer uma autópsia de sua vida e obra: “No período em que Lima tentou viver, teorias eugenistas aglutinavam médicos, políticos e estudiosos em pesquisas que defendiam uma pretensa purificação social, incluindo a eliminação de raças consideradas inferiores. Vimos no que isso deu: o genocídio nazista na Alemanha.”

Com isso em mente, Marfuz pensou numa situação dramática extraordinária, mas passível de ocorrer hoje de outras formas: “um grupo de médicos eugenistas exuma o corpo do escritor para descobrir por que um cérebro considerado inferior poderia ter produzido obras literárias de qualidade - romances, crônicas, contos, ensaios, sátiras - se o privilégio da arte e da boa escrita seria, para eles, as raças consideradas superiores?”  Com isso forma-se o eixo dramático da peça, que, segundo Marfuz, é “um embate entre a acusação dos eugenistas para desqualificar a obra de Lima e a luta do escritor para afirmar-se e ser reconhecido; se não foi em vida, que o seja na morte.”

Para a diretora Onisajé (Fernanda Júlia), Traga-me a cabeça de Lima Barreto! é uma montagem vitoriosa e que permanece atual no momento da pandemia. Para ela, “as feridas causadas pelo racismo estão escancaradas na violência policial, no genocídio da juventude negra e na quantidade expressiva de pessoas atingidas pela COVID-19. Nesses tempos de esquecimento e invisibilidade, ao rever a obra de Lima Barreto, escrita nas primeiras décadas do século XX, parece que ele acabou de escrevê-la.”

Onisajé faz uma correlação entre o escritor e autor ao dizer que a montagem tanto reaviva a contribuição de um pensador crítico e politizado como Lima Barreto, quanto a resistência e insistência do artista Hilton Cobra de estar em cena reverenciando um ícone negro vítima das agruras do racismo de seu tempo e expondo a eugenia cultural de nossos tempos

“Não consigo respirar”
Hilton Cobra, que criou a Cia dos Comuns em 2001, com o propósito de trazer à cena uma cosmovisão artisticamente negra especialmente no âmbito das artes cênicas, fala da motivação para encenar Traga-me a cabeça de Lima Barreto!: “É importante e providencial discutir eugenia e racismo a partir de Lima Barreto nesses tempos de pandemia, onde a população negra e pobre é a mais atingida. O Covid 19 nos convida a dilatar as lentes do racismo, da injustiça, do não reconhecimento, das desigualdades e da violência.

O ator lembra que “casos como a morte do menino João Miguel, no Recife, a execução de Mariele Franco, no Rio, ou o assassinato do americano George Floyd, expõem nitidamente as estruturas que alimentam o racismo na sociedade. O Traga-me..., com sua força dramatúrgica, poética e estética, escancara as estruturas racistas e eugenistas nos impondo um grito maior contra essa perversidade secular e diz ao mundo ‘VIDAS NEGRAS IMPORTAM”. É bom ressaltar que como George Floyd, Lima Barreto nunca consegui respirar livremente, mas ainda assim produziu uma das obras mais geniais e consistentes do Brasil pós-império.

Ficha Técnica (Criação):
Hilton Cobra – Ator | Luiz Marfuz – Dramaturgia | Onisajé (Fernanda Júlia) – Direção | Cenário: Vila de Taipa (Erick Saboya, Igor Liberato e Márcio Meireles) | Desenho de Luz: Jorginho de Carvalho e Valmyr Ferreira | Figurino: Biza Vianna Direção de Movimentos: Zebrinha | Direção Musical: Jarbas Bittencourt |Direção de vídeo: David Aynan | Produção executiva: Lud Picosque, Thais Nascimento, Afonso Drumond e Ruth Almeida | Fotos: Adeloyá Magnoni, Leandro Lima, Kaian Alves, Valmyr Ferreira e Vinicius César | Operador de áudio e video: Duda Fonseca | Operador de luz: Lucas Barbalho | Participações especiais (voz em off): Lázaro Ramos, Caco Monteiro, Frank Menezes, Harildo Deda, Hebe Alves, Rui Manthur e Stephane Bourgade  

Serviço:
Traga-me a cabeça de Lima Barreto!
Monólogo teatral discute racismo e eugenia a partir da obra de Lima Barreto.
Texto: Luiz Marfuz | Direção: Onisajé | Interpretação: Hilton Cobra
Ingressos: R$ 20,00 (inteira) | R$ 10,00 (meia-entrada). Vendas em https://www.sympla.com.br/

Teatro Firjan SESI CENTRO - RJ
Data: 19.05.2022 - Horário: 19h
Av. Graça Aranha, 1, Centro, Rio de Janeiro, RJ. Fone: (21) 2563-4163
Teatro Firjan SESI CAXIAS - RJ
Data: 27.05.2022 -  Horário: 20h
Rua Artur Neiva, 100, 25 de Agosto, Duque de Caxias, RJ. Fone: (21) 3672-8369

Teatro Firjan SESI JACAREPAGUÁ - RJ
Data: 28.05.2022 -  Horário: 
20h
Av. Geremário Dantas, 940, Freguesia de Jacarepaguá, Rio de Janeiro, RJ. Fone
(21) 3312-3750

      
Reconhecimento do público e crítica especializada
Carreira de grande sucesso, interrompida pelo COVID, no início de 2020, “Traga-me a cabeça de Lima Barreto!”, estava há 3 anos em cartaz, com 170 apresentações para cerca de 20.000 espectadores, em 72 cidades, de 19 Estados (Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Bahia, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraíba, Ceará, Maranhão, Piauí, Brasília, Mato Grosso, Goiás, Amazonas, Rondônia, Tocantins), de todas as regiões do País, onde colheu diversos elogios do público e crítica. O espetáculo foi encenado também na Flip – Festa Literária Internacional de Paraty/RJ/2017, onde o escritor Lima Barreto foi o homenageado. 

Prêmios e reconhecimentos:
  • Contemplado com o 4º PRÊMIO NACIONAL DE EXPRESSÕES CULTURAIS AFRO-BRASILEIRAS-2017 / Nacional;
  • Indicado ao PRÊMIO BRASKEM DE TEATRO-2017 nas categorias “Ator”, “Texto” e “Espetáculo” / Salvador;
  • Contemplado com o PRÊMIO BRASKEM DE TEATRO-2017 na categoria “Texto” / Salvador;
  • Indicado ao 9º PRÊMIO OLHARES DA CENA-2018 nas categorias “Ator”, “Texto” e “Espetáculo” / Porto Alegre;
  • Contemplado com o 9º PRÊMIO OLHARES DA CENA-2018 na categoria “Ator” / Porto Alegre;
  • Contemplado com o PRÊMIO QUESTÃO DE CRÍTICA-2018 Hilton Cobra por sua trajetória dedicada ao teatro e pelo Projeto Lima Barreto / Rio de Janeiro;
  • Contemplado com o PRÊMIO BRASKEM DE TEATRO-2019, na categoria “especial” / Salvador;
  • Contemplado com o PRÊMIO ARCANJO-2020, na categoria “especial” / São Paulo
  • Indicado ao PRÊMIO CENYM-2018 nas categorias “ator” e “monólogo” / Nacional;
  • Revista BRAVO: 30 melhores espetáculos-2018 / Nacional;
  • Jornal O GLOBO: 10 melhores espetáculos-2018 / Rio de Janeiro;
  • Blog do arcanjo: 10 melhores atores do ano-2018 / São Paulo.

LINKS
Videos:
Críticas/materias:
  • Jornal O Globo: Melhores do ano/2018
https://oglobo.globo.com/cultura/teatro/as-pecas-que-se-destacaram-em-2018-23300991?fbclid=IwAR2ZipNBNIWHy7SNdoVVDj0-KhVYkq_7LO2v2RUk1WhExTAfvj1rD6uqe1Y
  • Revista BRAVO: Melhores doano/2018:
http://bravo.vc/seasons/s07e01/?fbclid=IwAR3SBWviInDL6_wxOvn91Tq0u8xoOPPU2ISx6ewc35kVroeRE3ReYRljuE
 


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