11/05/2022 às 16h14min - Atualizada em 13/05/2022 às 00h02min

Sintomas sentidos por Hailey Bieber podem estar associados a sequelas neurológicas de Covid-19

O neurocirurgião Dr. Feres Chaddad explica como o caso da artista pode se tornar comum no panorama pós pandemia

SALA DA NOTÍCIA Feres Chaddad
http://www.fereschaddad.com.br/

Na última quinta-feira (10), Hailey Bieber, modelo e esposa do cantor canadense Justin Bieber, foi hospitalizada devido a um quadro neurológico com sintomas parecidos com os de um derrame cerebral, também conhecido por Acidente Vascular Cerebral (AVC). A notícia, no entanto, só foi divulgada no sábado (12) pelo portal de notícias TMZ, que relatou que após dar entrada na emergência com dificuldades para falar e se locomover, médicos constataram que a condição da artista se tratava de um pequeno coágulo de sangue em seu cérebro, que acabou provocando falta de oxigenação. 

Apesar da melhora natural do corpo e do organismo dentro de algumas horas em observação, Dr. Feres Chaddad, Professor e Chefe da disciplina de Neurocirurgia da UNIFESP e Chefe da Neurocirurgia da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, alerta que esse tipo de acometimento, especialmente no público mais jovem, pode representar uma possibilidade real de pandemia de danos neurológicos tardios à infecção pelo coronavírus.  

"Já temos hoje estudos com estimativas de prevalência que sinalizam que cerca de 50% dos pacientes diagnosticados com Sars-CoV-2 apresentaram problemas neurológicos após a doença. Em muitos casos, a sobrevivência à Covid-19 não aconteceu sem sequelas importantes. Dentre o espectro de síndromes neurológicas associadas podemos citar a encefalite (inflamação no cérebro), a anosmia (perda de olfato), a acroparestesia (sensação de formigamento), o aneurisma, o acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico (AVE), a síndrome de Guillain-Barré e outras diversas enfermidades", explica Feres.  

A suspeita de que o quadro de Hailey esteja associado a danos cerebrais pela Covid-19 foi levantada, segundo o TMZ, pelos próprios médicos que a atenderam e solicitaram exames para estudo do caso. Isso porque, semanas atrás ao ocorrido, seu marido e ela foram diagnosticados com a doença, tendo passado com sintomas leves.  

"Temos visto pacientes, que não apresentaram complicações iniciais ou comorbidades durante a infecção, manifestando meses depois, alterações graves de desorientação, perda de memória e quadros neurológicos críticos, muitos vindo à óbito ou evoluindo para quadros com danos irreversíveis. Por isso, é fundamental ressaltar que o impacto do vírus no sistema nervoso pode ser muito maior e mais devastador do que propriamente o impacto nos pulmões e outros órgãos", comenta Chaddad.  

Entenda o impacto da Covid-19 no cérebro 

A prevalência dos sintomas neurológicos é explicada pela forma como o vírus pode adentrar o cérebro. O Artigo “Lifting the mask on neurological manifestations of COVID-19”, publicado na revista Nature, avaliou que o coronavírus pode entrar no Sistema Nervoso Central (SNC) por duas vias distintas: disseminação hematogênica e disseminação neuronal retrógrada. Na primeira, o vírus se espalha por todo o corpo através da corrente sanguínea e, em seguida, entra no cérebro cruzando a barreira hematoencefálica, enquanto na segunda, o vírus infecta neurônios na periferia e usa a maquinaria de transporte dentro dessas células para obter acesso ao SNC. 

Avaliação e acompanhamento neurológico pós pandemia é uma urgência global 

Casos conhecidos agora como "covid longa", "covid-19 pós-aguda" ou "síndrome pós-covid", têm provado que a doença pós-viral é mais prevalente do que se imaginava.  

“Por esse motivo, o acompanhamento pós-infecção precisa ser indicado o quanto antes para pacientes recuperados e deve incluir avaliação neurológica, de imagem, laboratorial e neuropsicológica cuidadosa para examinar vários domínios cognitivos. Essa medida pode ajudar a reduzir a incidência de danos neurológicos graves e diminuir os riscos futuros e precisa ser aplicada também, de maneira urgente, nos grupos de pacientes com sintomas leves que não acessam o sistema de saúde", reforça Feres.  

O neurocirurgião ainda evidencia que é essencial que sistemas médicos incluam em seus protocolos a anamnese correlacionando a uma possível ligação entre danos neurológicos e a infecção pelo coronavírus. Desenvolver estruturas de acompanhamento longitudinal para pacientes ambulatoriais de rotina também deve ser avaliado com maior atenção, visto que o contexto pode implicar impactos para todos os setores. 

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