Na última quarta-feira (30), a família do Bruce Willis anunciou que o ator fará uma pausa em sua carreira para cuidar do seu estado de saúde. Segundo as informações divulgadas, Bruce enfrenta no momento um quadro de afasia, que consiste em um transtorno de ordem neurológica que afeta a linguagem e a capacidade de se comunicar.
O neurocirurgião Dr. Feres Chaddad, Professor e Chefe da disciplina de Neurocirurgia da UNIFESP e Chefe da Neurocirurgia da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, explica que o quadro geralmente surge após um AVC ou outro problema no cérebro. "Na maioria dos casos, é provoca de forma abrupta após um Acidente Vascular Cerebral ou traumatismo cranioencefálico na parte esquerda do cérebro, área predominantemente responsável pela produção e compreensão da linguagem. Outras condições, como tumores cerebrais ou doenças neurodegenerativas, também podem causar afasia", reforça Feres.
Aneurisma Cerebral
A história de Bruce Willis não é única no mundo cinematográfico. Outros famosos também enfrentam acometimentos neurológicos importantes, que podem levar à morte. Um dos exemplos é a atriz norte-americana Sharon Stone, que veio a público em 2021 para contar sobre o aneurisma que teve no passado. Em seu relato, Sharon disse que começou a sentir uma dor de cabeça súbita e muito forte, que chegou a deixá-la inconsciente. Quando acordou, ainda sentia as dores de cabeça e apresentava também confusão mental.
De acordo com Chaddad, Sharon teve o que é chamado de hemorragia subaracnóidea, condição que em 50% dos casos é causada pelo rompimento de um aneurisma cerebral. "A rotura normalmente ocorre quando há algum dano na parede dos vasos sanguíneos ou algum tipo de deficiência genética. A demora em buscar ajuda médica é grave e pode aumentar as chances de um novo sangramento, contaminando ainda mais a região, além de pressionar o cérebro, já que o crânio não se expande", conta o especialista.
Emilia Clarke, conhecida pelo seu papel como Daenerys em "Game of Thrones", viveu uma experiência parecida com a de Stone e Willis. Após descobrir dois aneurismas cerebrais entre 2011 e 2013, a artista evoluiu com um quadro de afasia durante sua recuperação depois de sofrer um derrame e precisar passar por uma cirurgia delicada. O tratamento foi longo e incluiu um acompanhamento multidisciplinar entre neurologista, fonoaudiólogo e fisioterapeuta.
Acidente Vascular Cerebral
O ator francês Alain Delon recentemente solicitou ao seu filho Anthony Delon que o ajudasse a realizar um suicídio assistido. A decisão veio após Delon ter sofrido um AVC em 2019 – ano em que conquistou o prêmio Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes – acrescido da tristeza em acompanhar a morte de sua esposa em 2021 devido a um câncer de pâncreas.
Associado também à ocorrência de aneurismas, o AVC decorre da alteração do fluxo de sangue no cérebro, sendo responsável pela morte de células nervosas da região atingida. Esse acometimento neurológico pode se originar de uma obstrução de vasos sanguíneos (acidente vascular isquêmico), ou ainda de uma ruptura de vaso (acidente vascular hemorrágico).
"Os sintomas dos acidentes vasculares cerebrais podem variar de caso a caso. Porém, os mais comuns e que costumam acender o alerta são as dores de cabeça extremamente fortes e de início súbito, acompanhadas por vômito; fraqueza ou dormência na face, nos braços ou nas pernas, geralmente afetando um dos lados do corpo; dificuldade ou incapacidade de se movimentar; perda súbita da fala ou dificuldade para se comunicar e compreender o que se diz e também perda da visão ou dificuldade para enxergar com um ou ambos os olhos", reforça Feres.
Atenção e acompanhamento global
A grande preocupação com os problemas de ordem neurológica é que eles correspondem a uma das mais importantes causas de mortalidade em todo o mundo. Aneurismas, AVCs, afasias e outras condições desse espectro estão correlacionadas, ou seja, em grande parte dos casos, não aparecem de forma isolada.
O não rastreamento e acompanhamento de sintomas neurológicos leves e intermediários tem se mostrado como um problema grave e urgente, pois muitos pacientes podem apresentar manifestações neurológicas e psicológicas tardias e ter seu tratamento impactado, além de suas vidas afetadas. Para o neurologista, o acompanhamento global com equipes multidisciplinares e check-ups médicos regulares é fundamental para os pacientes com acometimentos no cérebro.
"A identificação de alterações neurológicas, de maneira precoce, aumenta as chances de trabalharmos na redução da incidência de danos graves e riscos futuros, podendo evitar mortes por rupturas de aneurismas, AVCs e outros desdobramentos importantes", finaliza Chaddad.
