23/07/2018 às 10h15min - Atualizada em 23/07/2018 às 10h15min

Como Henry, carrasco do Brasil, tenta fazer a geração belga ser vencedora

Bernardo Mello e Carlos Eduardo Mansur

Agência O Globo -
Agência O Globo -

Kazan - Thierry Henry é um nome com múltiplos significados, a depender do que o interlocutor estiver buscando. Na França, a imagem é de um atacante muitas vezes decisivo, como nas quartas de final da Copa do Mundo de 2006, quando marcou o gol que eliminou o Brasil. Entre os brasileiros, é lembrado como o carrasco da queda no Mundial da Alemanha. Para a Bélgica, que enfrenta a seleção brasileira nesta sexta-feira, em Kazan, às 15h (de Brasília), em busca da semifinal deste Mundial, Thierry Henry é símbolo de um conhecimento que o país tem pressa para absorver. E que não se limita ao óbvio incentivo psicológico de ter, no banco de reservas, alguém que já derrotou o Brasil em um mata-mata de Copa - algo que os belgas tentaram uma vez, em 2002, e falharam. Trata-se do profundo entendimento do jogo.

Algo que ficou claro há três anos, num vídeo que se tornou famoso no mundo todo. Após pendurar as chuteiras, Henry engatou um trabalho de comentarista na TV inglesa. Em uma de suas intervenções, ofereceu uma das demonstrações mais didáticas de que se tem notícia sobre os pilares do estilo de jogo de Pep Guardiola, que produziu magia no Barcelona. Em seis minutos, Henry, que jogou uma temporada naquele time, detalha paradigmas do treinador catalão e mostra, numa tela, sua eficácia em lances da vida real. Ainda estavam na ponta da língua os três Ps que nortearam o trabalho de Guardiola na Catalunha - “play” (jogar), posse e posicionamento - e o dogma fundamental do treinador: “Meu trabalho é levar vocês até o terço final do campo”, lembra Henry ao citar as palestras de Pep. “E o seu trabalho é concluir o serviço”.

Tite, admirador confesso do trabalho de Guardiola, usou palavras semelhantes nesta sexta-feira ao explicar como planejou o repertório ofensivo da seleção brasileira.

- Nossos atletas se destacam pela criatividade na hora de fazer gols. O técnico trabalha aspectos do jogo sem a bola, da construção pela parte média até chegar ao terço final. Aí entra esta capacidade de fazer gols. É o repertório do atleta - descreveu Tite.

No tal vídeo em que trata dos pormenores táticos de Guardiola, Henry lembra uma passagem curiosa nos tempos de Barcelona, em que irritou Guardiola ao marcar um gol. Tudo porque abandonou sua posição antes de a bola chegar nos últimos metros de campo. Mas não foi apenas para compartilhar memórias que Henry chegou à seleção belga. Um dos grandes beneficiários é o atacante Romelu Lukaku. Conhecido pela capacidade de brigar contra defensores e finalizar, havia o consenso de que precisava desenvolver a sua busca por espaços, as corridas em diagonal às costas dos zagueiros. Henry é tido como peça de extrema ajuda ao centroavante belga.

Após garantir vaga na Rússia, o treinador da Bélgica, Roberto Martínez, elogiou a importância de Henry na campanha. Martínez chamou o francês para sua comissão técnica tão logo assumiu a seleção belga, em meados de 2016. Com menos de dois anos de trabalho até a Copa, o treinador esclareceu que a questão motivacional era, sim, importante - afinal, tratava-se de uma geração bastante criticada, dentro e fora do país, por não corresponder às expectativas elevadas. Antes disso, contudo, havia algo que Martínez fazia questão de destacar em Henry.

- A qualidade de seu trabalho é impressionante. Ele mantém o alto nível de exigência que o transformou em um dos melhores jogadores do mundo - disse Martínez, à época, em entrevista ao site da Fifa. - Para um atacante, conversar com Henry sobre seus movimentos é algo enorme.

Lukaku que o diga. O jogador se impressionou com a obsessão de Henry por acompanhar e estudar futebol.

- É uma das poucas pessoas que vê mais futebol do que eu. É capaz de discutir sobre a segunda divisão da Alemanha - contou o atacante recentemente.

Lukaku e outros membros da badalada geração belga passaram a ter, a cada reunião da seleção, ensinamentos dentro de casa. Não à toa, Martínez contou aos jornalistas nesta sexta, véspera da partida contra o Brasil, que Henry teve uma “enorme participação” no último treinamento para o duelo decisivo.

- Henry traz um “know-how”, porque sabe o que significa para um jogador esta situação, de ter que ganhar contra um adversário forte. O que ele acrescenta ao grupo neste cenário é muito importante - descreveu Martínez.

Saber vencer, quebrar barreiras psicológicas é algo que preocupa os belgas. Martínez, quando perguntado sobre a diferença entre seu time e a seleção brasileira, foi direto ao justificar porque o Brasil é tido como favorito.

- Em termos de capacidade técnica, vejo similaridades. A diferença é que eles já ganharam a Copa cinco vezes. No momento em que você chega neste ponto, há uma barreira psicológica, mental, que não existe para eles. O jogo envolve, além da tática e da capacidade dos jogadores, uma questão de mentalidade - disse o treinador.


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