06/02/2022 às 14h59min - Atualizada em 07/02/2022 às 11h11min

Livro “Misoginia”, de Rebeca Ucelli, serve como apoio a mulheres que são vítimas da violência doméstica e ao combate de relacionamentos abusivos.

SALA DA NOTÍCIA Rebeca Ucelli
Claudiana Assessoria de Imprensa
Divulgação
Misoginia é um termo se refere a um problema psíquico que afeta os homens e pode ser uma das causas que desencadeiam a violência doméstica.

Por ser um problema pouco explorado a informação pode ser um gatilho para combater anos de sofrimento em relações tóxicas. A ideia de escrever o livro ‘Misoginia: o lado obscuro de um relacionamento’ nasceu exatamente da necessidade de informações sobre o tema, que Rebeca, a autora, percebeu ser escassa. Rebeca lamenta não ter tido acesso a esses conhecimentos na época de seu namoro: ‘Se eu soubesse o que era misoginia e tudo o que envolve esse problema eu jamais teria permitido tantos anos de relação, no mínimo teria proposto uma terapia ou simplesmente me afastado’.


Para esclarecer melhor, a Dra. Silvia Rodrigues, psicóloga e especialista em relacionamentos, responde algumas dúvidas sobre o assunto.



Dra Silvia, o que é misoginia?

Silvia Rodrigues: O termo pode parecer um pouco estranho, você pode até achar um pouco difícil de pronunciar, mas saiba que muitas mulheres já estiveram em um relacionamento com o misógino mesmo sem saber.

O termo grego “misoginia “é utilizado por psicólogos para designar a pessoa que odeia mulheres, também pode ser entendido por pessoa que sente angústia no convívio com mulheres.

Como identificar um misógino? Quais as principais características?

S.R.: Para identificar um homem como misógino é necessário o conhecer como pessoa. Fica quase impossível dizer se um homem tem esse problema apenas o conhecendo superficialmente. O homem não vem com o problema estampado no rosto.

A relação misógina geralmente vem repleta de rejeições, insultos disfarçados de conselhos, mudanças de humor repentinas, comportamento instável, controle excessivo, invasão de privacidade, sexo forçado e por fim agressões físicas.

E essa relação costuma seguir um padrão: o início costuma ser incrível, e com o tempo se deteriora culminando em histórias de violência. No começo da relação ele representa um homem carinhoso, atencioso, apaixonado, cheio de gentilezas e elogios e quando a mulher se dá conta o príncipe encantado se transformou em um sapo, roubando a auto estima, os valores, as opiniões e até mesmo a vida dela! O comportamento do misógino muda de forma sutil, e o romantismo é substituído pela frieza.

E o que leva um homem a se tornar um misógino?

S.R.: A misoginia é um problema decorrente de traumas sofridos na infância. e envolvem mulheres que representam um papel confiável: como mãe, professora, irmã, cuidadora. Esse trauma vai abrindo caminho nas áreas cerebrais responsáveis pelo medo e memória e em outras áreas mais frontais, que afetam a emoção e tomada de decisão.

Algumas pesquisas apontam a misoginia como um transtorno psíquico embora não esteja classificada no DSM (Manual de diagnóstico e estatística de transtornos mentais).

Vale lembrar que nem toda criança que presencia ou abusos contra a mãe, ou que tem um pai autoritário e machista, ou que foi abandonado pela mãe, ou que tenha sofrido qualquer prejuízo na infância carrega esse problema. Tem crianças que sofrem, mas que se desenvolvem adultos saudáveis mentalmente.

Pelo que eu entendi o misógino sente aversão pela figura feminina, então não é contraditório o fato dele namorar, casar e até construir uma família com uma mulher?

S.R.: Apesar do sentimento negativo em relação às mulheres, o misógino sente atração sexual por elas, e é capaz de manter uma relação durante anos, porque o relacionamento pode servir, não apenas para suprir suas necessidades sexuais, mas também como válvula de escape, onde ele desconta suas raivas e frustrações, sentindo prazer ao ver que suas atitudes surtem efeitos.

No entanto, nem todos os misóginos têm total consciência do sentimento de prazer com o sofrimento feminino, ou seja, não sabem que carregam um problema e isso é um fator que ajuda na hora de ceder à pressão social de construir uma família.

Por que tantas mulheres aceitam esse tipo de relacionamento?

S.R.: Os motivos são diversos, mas é importante destacar que o misógino é um manipulador. Ele é sutil em suas ações. O misógino é aquele cara que todo mundo ama, um exemplo de pessoa. Os abusos são disfarçados de boas intenções, de cuidado e preocupação.

Facilmente o misógino convence de suas boas intenções, não só a mulher, como a todos que estão a sua volta.

Um bom exemplo é o homem que não permite que a mulher coloque uma roupa bonita que chame a atenção, justificando que é para própria proteção da mulher para não se expor e ser desrespeitada. Outro exemplo comum é o “excesso de zelo”, quando o homem quer saber cada passo da mulher. Inclusive há casos que maridos instalam aplicativos no celular da esposa para saber exatamente onde ela está a qualquer instante do dia. A verdade é que o “zelo e preocupação” não passam de controle.

O misógino é tão convincente que a mulher acaba se sentindo culpada e acreditando que ela é a errada da história e aí temos a inversão de papéis.

E assim ele vai minando a autoestima e fazendo com que a mulher faça tudo da maneira como ele deseja. A mulher acaba perdendo o controle da sua vida própria e acreditando que sem ele não pode viver.

Por que é importante saber o que é misoginia e por que dividir a experiência da Rebeca?

S.R.: Primeiro porque a informação salva vidas, a informação liberta e é capaz de amenizar o sofrimento. Muitas mulheres permanecem em relacionamentos abusivos, tóxicos por falta de conhecimento ou por acreditar que é normal. De certa forma fomos ensinadas que é normal um homem ser um pouco mais agressivo ou violento, que se trata da personalidade ou da pressão das responsabilidades. Acabamos por aceitar esse tipo de relacionamento pela crença de que é assim mesmo. E acabamos vivendo com a velha filosofia: “ruim com ele, pior sem ele”.

A misoginia está intimamente ligada aos relacionamentos abusivos e entender sobre o tema, que inclusive está muito bem colocado no livro, é importante para que a mulher tenha uma visão mais ampla das atitudes do homem e tenha recursos para identificar os abusos.

Um exemplo que posso dar é a respeito das manipulações e das alterações bruscas de humor do misógino. Em um momento estão super carinhosos, em outro estão agressivos e em outros indiferentes. Colocando em dúvida muitas vezes a própria sanidade mental da mulher. Ela mesma passa a se questionar: “será que estou ficando doida”, ou “será que estou exagerando”?

E por ser tão manipulador ele consegue passar a ideia de que suas ações são reflexos de um dia ruim, ou consequência de um cansaço, ou até mesmo que são atitudes tomadas para o bem da relação ou da mulher.

A informação permite que a mulher identifique situações como descrita acima, e reconheça que o problema não está com ela.

O homem pode se reconhecer como misógino?

S.R.: Sim. Através do livro, é possível se identificar com as características. O misógino também é uma vítima, é o homem que em algum momento da vida sofreu. É claro que não queremos aqui justificar a violência seja ela psicológica ou física e nem mesmo desculpar as atitudes do misógino.

Mas, talvez, no fundo, alguns não desejem ser assim. Isso também não é algo saudável para eles. Por isso, talvez muitos homens misóginos não sabem o motivo de nutrir o sentimento negativo pelas mulheres, e desenvolvem relacionamentos deteriorados com a família (mãe, irmã, madrasta), tem dificuldades no ambiente de trabalho (colegas de trabalho) e não conseguem manter uma relação “normal” com uma namorada. Alguns podem se sentir confusos sem saber o motivo para o caos na vida social. A partir do momento que homem compreende que há algo de errado, toma consciência da existência de um problema, ele pode buscar informações que o ajude. E até mesmo um profissional que o ajude a se entender melhor. E isso a princípio vai depender dele identificar que existe um problema e querer ser diferente.

Como evitar a misoginia, Dra?

S.R.: Não existe uma fórmula mágica que possa ser aplicada para evitar que um homem se torne misógino. Mas acredito que a nossa melhor arma ainda é a informação. Quanto mais falamos sobre um assunto, debatemos, expomos este assunto, maiores são as chances de relações familiares mais funcionais.

A raiz do problema está ligada geralmente à família, apesar de não ser um problema exclusivo do âmbito familiar. Acho que se tiver uma família que tem os conceitos baseados no respeito, isso já ajuda muito.

Para finalizar Dra. Silvia, qual a importância do livro Misoginia: o lado obscuro de um relacionamento?

S.R.: Se trata de uma história real vivida por Rebeca, como leitora o livro me despertou para situações que tantas vezes presenciamos nos relacionamentos de amigas, parentes ou até de algum relacionamento que vivemos.

O livro nos faz refletir sobre o machismo, sobre o papel da mulher na sociedade, a maneira como fomos educadas em relação ao amor e aos relacionamentos. Nós aprendemos muito pouco sobre relacionamentos saudáveis, nossas mães e avós nos ensinaram que a mulher precisa “aguentar tudo” e esse conceito ainda hoje se perpetua entre as mulheres.

Ao ler o livro da Rebeca eu mesma identifiquei o meu avô como um homem misógino e tenho certeza que minha avó e meus familiares jamais tiveram conhecimento a respeito.

Por isso eu acredito que o livro pode contribuir imensamente para que as mulheres identifiquem um relacionamento fora da curva. Um relacionamento que faz mal, que a deixa triste, que destrói sua saúde emocional.

O livro está disponível a venda pela Amazon e na Livraria PoloBooks.

www.misoginia.com.br

Instagram da Dra. Silvia Rodrigues: @psicologasilviarodrigues


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