23/07/2018 às 08h30min - Atualizada em 23/07/2018 às 08h30min

A China está pronta para o futuro, mesmo que ainda não tenha chegado

Apaixonados por tecnologia, os chineses amam até mesmo os robôs garçons que não conseguem servir

Agência O Globo -
Agência O Globo -

XANGAI - Os headsets de leitura da mente não leem mentes. A máquina de detecção de incêndio foi declarada um risco de segurança. Não se pode confiar em um robô carregando sopa. A China está pronta para o futuro, mesmo que o futuro ainda não tenha chegado.

A China se tornou uma força tecnológica global em poucos anos. Está moldando o futuro da internet. Suas ambições tecnológicas ajudaram a administração Trump a iniciar uma guerra comercial. Centenas de milhões de pessoas na China agora usam smartphones para fazer compras on-line, pagar suas contas e investir seu dinheiro, às vezes de maneira mais avançada do que nos Estados Unidos.

Isso levou muitas chineses a adotarem a tecnologia com toda a força, não importa quão questionável isso possa ser. Robôs aguardam pelos clientes no restaurante; a inteligência artificial corrige o trabalho escolar; a tecnologia de reconhecimento facial ajuda a distribuir tudo, desde pedidos do Kentucky Fried Chicken ao papel higiênico. A China está em competição com o recorde mundial de robôs dançantes.

Esse abraço da tecnologia pela tecnologia - e os resultados, às vezes duvidosos, aos quais ela leva - foram exibidos na Conferência Global de Inteligência e Negócios Mundial, realizada no mês passado em Xangai, em que vários especialistas chineses em tecnologia e da Academia deveriam fazer exercícios práticos.

Usando faixas negras na cabeça, que mais pareciam aparelhos de eletrochoque, os sete homens e duas mulheres no palco foram instruídos a imaginar que estavam apertando um botão. As faixas na cabeça deveriam transmitir sua atividade cerebral para a mão robótica que compartilhava o palco e que então apertava um botão para iniciar oficialmente a conferência.

Uma contagem regressiva começou. Uma câmera focalizou a mão robótica em uma enorme tela acima do palco. As pessoas no palco pareciam se concentrar. E então, nada aconteceu. A mão permaneceu imóvel. A câmera se afastou. Um porta-voz da Yiou, a consultoria de tecnologia que sediou o evento, se recusou a comentar, exceto por dois emojis mostrando lágrimas de alegria.

Tudo isso embaraça algumas pessoas na cena tecnológica chinesa. Eles advertem que o excesso de exuberância é um sinal de uma bolha de capital de risco, que pode estar prestes a explodir. Enquanto mostram o novo poder da tecnologia chinesa, uma espetacular dança de robôs e um leitor de mentes ineficaz, encobrem a falta de progresso do país em outras áreas.

Algumas dessas deficiências foram demonstradas em abril, quando os EUA proibiram as empresas americanas de venderem chips, softwares e outras tescnologias à ZTE, empresa chinesa de telecomunicações. O argumento é que a ZTE violou as sanções dos EUA ao vender produtos ao Irã e à Coreia do Norte. A proibição levou a empresa a um impasse virtual.

“O povo chinês não deve perder contato com a realidade”, alertou Liu Yadong, editora-chefe do Science and Technology Daily. Em um discurso recente, ela disse que a China ainda está atrasada em relação aos Estados Unidos em matéria de tecnologia, e que aqueles que argumentaram o contrário correram o risco de "enganar os líderes, enganar o público e até se enganar".

A China não é o primeiro país a se antecipar na tecnologia. O Japão, no auge de seu potencial econômico, tinha robôs que preparavam sushi. Mais recentemente, o Vale do Silício ficou ultrapassado com alguns produtos apresentados, como Yo - aplicativo que só diz yo - e o Juicero, espremedor de mais de US$ 700. Em última análise, a exuberância pode ser uma coisa boa para a China, pois produtos úteis encontram seu lugar e os ruins desaparecem quando o boom amadurece.

E a China percorreu um longo caminho. O que era um remanso agrário há 40 anos é hoje o lar do maior grupo de usuários de internet do mundo e de algumas de suas empresas de internet mais valiosas.

O país agora avança na tecnologia emergente. Em 2017, as startups chinesas receberam quase metade dos dólares levantados globalmente para inteligência artificial, de acordo com a CB Insights, uma empresa de pesquisa que acompanha o capital de risco. Em 2020, a China deverá responder por mais de 30% dos gastos mundiais em robótica, segundo a empresa de pesquisa tecnológica IDC. Muitos na China vêem a supremacia do país sobre os Estados Unidos como tecnologia inevitável, e estão ansiosospara que esse dia chegue logo.

"Os chineses estão muito mais dispostos a tentar algo novo só porque parece legal", disse Andy Tian, ​​executivo-chefe do Asia Innovations Group, de Pequim, que administra aplicativos móveis. “Parece superficial. É superficial. Mas esse é o motor do progresso em muitos casos. ”


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