21/07/2018 às 05h00min - Atualizada em 21/07/2018 às 05h00min

Economista conta em livro como foram os primeiros passos do mercado de capitais no Brasil

Roberto Teixeira da Costa reflete ainda sobre o futuro do setor no país

Agência O Globo -
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O ex-presidente da CVM, Roberto Teixeira da Costa (Foto: Filipe Redondo) 

RIO - O economista Roberto Teixeira da Costa dedicou a vida ao desenvolvimento do mercado de capitais no Brasil. Foi o primeiro presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que regula o setor, e ajudou a criar a primeira empresa de venture capital no país. Com larga experiência no ramo e tendo vivido os altos e baixos da Bolsa, ele continua a apontar o mercado de capitais como a saída para o financiamento de médio e longo prazos, tão necessário para a retomada da economia brasileira. Mas é categórico em afirmar que a inflação sob controle e o juro baixo não são suficientes para fazer esse mercado progredir. O avanço depende de fatores que vão de educação de qualidade - incluindo financeira - e mudança cultural dos investidores a planejamento econômico por parte dos governos.

Essa é a mensagem que Costa transmite em seu novo livro, “Valeu a pena! mercado de capitais: passado, presente e futuro” (Editora FGV), que será lançado em 21 de agosto, na Livraria da Travessa, no Leblon, às 19h. Com prefácio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o preço sugerido do livro é de R$ 59, para exemplares impressos, e R$ 42, para e-book. Em pouco mais de 200 páginas, Costa conta como foram os primeiros passos do mercado de capitais no Brasil e reflete sobre o futuro do setor no país. Resultado de uma temporada de seis meses no exterior, em 2016, quando buscava distanciar-se do Brasil para compreender melhor a realidade que o país enfrentava.

- Estávamos mergulhados na Lava-Jato, havíamos acabado de passar pelo impeachment de Dilma Rousseff e ainda estávamos afundados numa recessão. Eu precisava sair dessa crise para ter uma visão crítica desse processo e decidi passar um semestre fazendo pesquisa na Universidade de Columbia (EUA). Fazia a pesquisa à tarde e me dedicava ao livro de manhã - contou Costa.

Como participou diretamente da história do mercado de capitais no país, o livro tem um cunho autobiográfico, trazendo diálogos curiosos, como o convite do então ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen, para assumir a presidência da recém-criada CVM, e o diálogo travado ao telefone com o também ministro da Fazenda Delfim Netto, sobre por que Costa estava “derrubando o mercado”. Na conversa com Delfim, Costa era gestor do Fundo Crescinco e teve de explicar a ele que, em meio a uma onda de pessimismo, os cotistas do fundo estavam fazendo resgates de forma acelerada. Para tentar equilibrar a situação, Costa tentava vendê-las, o que acabou mexendo com os preços do mercado.

Ele considera o ano de 1964 um marco para o mercado de capitais. Foi quando se criou um arcabouço que favoreceu o desenvolvimento do setor, como a permissão para criação de bancos de investimentos, a possibilidade de usar 10% do Imposto de Renda para investir em fundos de investimentos e a criação de debêntures conversíveis (títulos da dívida de empresas que podem ser convertidos em ações, ou seja, o investidor pode ser tornar acionista das companhias).

 

Desde então, o mercado teve altos e baixos, mas ainda engatinha. Costa considera que houve avanços recentes, como a criação do Bovespa Mais - segmento da Bolsa voltado para pequenas e médias empresas que desejam acessar o mercado de capitais de forma gradual - e a mudança no papel do BNDES, que praticamente acabou com o empréstimo subsidiado.

O economista defende a melhora da qualidade da educação, bem como a disseminação da educação financeira, como fatores fundamentais para o aumento da base de investidores da Bolsa. Mas destaca o planejamento econômico estratégico como um objetivo a ser perseguido pelo governo para tornar o mercado de capitais uma real alternativa de financiamento a grandes projetos:

- A inflação sob controle e a queda na taxa de juros ajudam na retomada da confiança e no desenvolvimento do mercado de capitais, mas é preciso fazer reformas estruturais para o país deslanchar e consolidar alternativas de financiamento, uma vez que o Estado exauriu sua capacidade de investimento.


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