26/11/2021 às 09h07min - Atualizada em 26/11/2021 às 09h07min

Militar da Saúde afirma que indígenas "têm que ter vergonha na cara e trabalhar"

Críticas foram realizadas pelo coordenador do Distrito de Saúde Especial Indígena; lideranças pedem investigação ao Ministério Público

AB Notícias News
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Um militar que integra a coordenação do Distrito de Saúde Especial Indígena (DSEI) - órgão do  Ministério da Saúde - na região do Araguaia criticou os indígenas da região e declarou que os nativos precisam ter "vergonha na cara", pois nada produzem. "Querem só ficar vivendo do governo", disse o subofivial reformado da Marinha, Ronalde de Barros Ramos. As informações são do jornalista Rubens Valente.

A declaração ocorreu na sede do DSEI, em São Félix do Araguaia, no Mato Grosso, após o militar ser questionado pelo educador indígena Luiz Flávio Juanahu Karajá sobre o atendimento do órgão na região.

 

Barros, que foi nomeado ao cargo no segundo ano do governo Bolsonaro, afirmou que os indígenas "não sabem porra nenhuma. Nem trabalhar vocês sabem. Um monte de terra e ninguém produz nada".

O militar continuou com as críticas e acusou os índios de querer viver às custas "do governo". "Vocês têm que ter vergonha na cara e trabalhar, pô. É isso que vocês têm que fazer. Aprender a trabalhar com 'tootori' [expressão que remete a não indígenas]".

Rolande disse que ganha R$ 12 mil mensais da Marinha e que "não precisa trabalhar mais". Segundo o militar, este deveria ser o caminho a ser trilhado pelos indígenas. "É isso que vocês tem que aprender a fazer. Trabalhar. Vocês não eram para precisar de saúde indígena, de saúde de merreca de governo, nosso povo era para ser milionário pela terra que nós temos. O que falta para nós é disposição para o trabalho".

Em nota, a Associação Indígena do Vale do Araguaia (Asiva) e o Coletivo de Mulheres Iny consideraram que as afirmações possuem "cunho racista, agressivo e preconceituoso contra os povos indígenas e o profissional indígena que atua no distrito Araguaia".

Em resposta, a Sesai do Ministério da Saúde defendeu Rolande Barros e afirmou que houve uma "tentativa de desmoralização" ao atacar o servidor que trabalha com "qualidade técnica".

 

Confira a nota na íntegra:

A Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) informa que o Coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Araguaia, Ronalde de Barros Ramos, vem exercendo a coordenação do distrito com qualidade técnica de modo a manter a assistência de saúde dos indígenas da região, com apoio dos profissionais do DSEI e do controle social.

Conforme explicações dadas pelo coordenador, as palavras proferidas não se referem à população indígena atendida pelo distrito, mas sim a uma situação pontual envolvendo um indígena e outros colaboradores que trabalham no distrito e, há tempos, não vêm desempenhando suas atividades a contento sendo que, quando cobrados, acabam não corrigindo as falhas identificadas.

A parte da conversa que foi gravada não apresenta a totalidade do diálogo, omitindo parte importante da conversa já em andamento. A gravação, feita sem conhecimento do coordenador, possibilitou que o contexto da conversa fosse colocado de acordo com os interesses do profissional, numa clara tentativa de desmoralizar o coordenador.

O Distrito informa que trabalha em harmonia com o controle social, composto por conselheiros, e que o Conselho Distrital está acompanhando a apuração dos fatos.


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