MANÁGUA — Pelo menos cem nicaraguenses presos durante os últimos protestos contra o governo de Daniel Ortega foram transferidos nesta sexta-feira para a cadeia La Modelo, em Manágua, a maior do país, sem que soubessem quais as acusações contra ele, denunciou a Associação Nicaraguense de Direitos Humanos (ANPDH). O país amanheceu nesta sexta-feira com ruas vazias e lojas fechadas, em meio à greve geral decretada pela oposição para exigir a saída do presidente. A segunda greve geral de 24 horas em menos de dois meses começou na madrugada (3h no horário de Brasília), convocada pela Aliança Cívica para a Democracia e a Justiça, coalizão da oposição que inclui setores da sociedade civil.
A greve faz parte de uma série de ações de três dias lançada pelo campo anti-Ortega para reforçar a pressão sobre o governo.
— Esvaziamos as ruas para mostrar que não queremos mais repressão e que queremos que eles vão embora — lançou a oposição no início da mobilização, referindo-se ao casal presidencial Daniel Ortega e Rosario Murillo, que além de primeira-dama também é vice-presidente.
Diante do agravamento da situação, a Organização dos Estados Americanos (OEA) convocou uma sessão extraordinária sobre a Nicarágua nesta sexta. Um informe da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) denuncia que 507 foram detidas desde o inícion das manifestações, em 18 de abril, até o começo de junho, a maioria adolescentes entre 14 e 17 anos. Até agora, 264 foram mortas, segundo o último relatório da comissão.
— Eles são presos políticos porque eles estão detidos ilegalmente por mais de 48 horas, prazo estabelecido por lei para investigar e apresentar acusações contra alguém. — explicou o secretário geral da ONG, Álvaro Leiva, à AFP. — Foram enviados para a cadeia sem qualquer processo.
Na quinta-feira, um mar azul e branco — as cores da Nicarágua — invadiu as ruas da capital e de outras cidades. Confrontos durante uma marcha a Morrito, no sudeste do país, deixaram cinco mortos: quatro policiais e um manifestante.
E em plena greve geral, Ortega deve convocou, para esta sexta, uma marcha em memória da revolução sandinista de 1979, rumo a Masaya, a cerca de 30 quilômetros de Manágua. O “repliegue" (recuo), como é chamado o ato, remonta ao histórico episódio, em 27 de junho de 1979, quando milhares de guerrilheiros se entrincheiraram em Masaya para reunir forças para derrubar o ditador Anastasio Somoza.
— A marcha para a vitória não para — convocou Rosario Murillo, mobilizando os fiéis da Frente Sandinista da Libertação Nacional (FSLN, de esquerda), o partido da situação.
Masaya, bairro indígena de Monimbo, está em alerta. No sábado, uma carreata da oposição deve percorrer bairros da capital, onde a Polícia e grupos paramilitares lançaram violentas operações para acabar com as barricadas dos manifestantes.