12/07/2018 às 04h50min - Atualizada em 12/07/2018 às 04h50min

Média de uma para cada 1,7 pessoa na Rússia viu uma peça, ópera ou concerto em 2017

Obras de nomes como Tolstói, Tchekov e outros estão em cartaz quase o tempo todo

Agência O Globo -
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Um dos teatros de Moscou - Vivian Oswald

MOSCOU No momento em que a seleção da Rússia jogava a partida de abertura da Copa no estádio Lujniki na capital, era longa a fila diante do Teatro Operetta no dia do musical "Anna Karenina”, de Yuli Kim, com direção de Alina Chevik, inspirado no clássico de Leon Tolstói (1828-1910). Dias depois, não havia mais assentos disponíveis para o espetáculo que está em cartaz desde 2016 e já foi visto por centenas de milhares de pessoas, segundo o teatro.

Criada por um grupo de atores russos, é sua primeira produção a ser exportada para o exterior. Foi para a Coreia do Sul. Em uma espécie de quebra-cabeça, nove estruturas de ferro e efeitos de computador montam e desmontam cenários da Rússia do século XIX. Da estação de trem onde Karenina se despede do Conde Alexei Vronsky a um salão de baile, um ringue de patinação do gelo, um palácio ou o campo em pleno verão. Foi aplaudido de pé.

As duas montagens anteriores do Operetta (fundado em 1927 pelo diretor Grigory Yaron), “Monte Cristo” e “Conde Orlov”, foram os musicais que mais tempo estiveram em cartaz na Rússia. Venderam dois milhões de ingressos. E o repertório da próxima temporada, após as férias de verão, tem 20 montagens.

250 casas em Moscou

No famoso Teatro de Marionetes Sergei Obraztsov, só conseguiu ingresso para o “Concerto extraordinário” quem comprou com um mês de antecedência. É disputado desde que estreou, quando ainda se chamava “Concerto ordinário”, em 1946. Sofrera alguns cortes à época, porque, de acordo com a censura, não apresentava “heróis positivos”.

É uma sátira a todos os tipos de arte. Em um dos esquetes, um músico tira um gato de dentro do saco, e o outro puxa uma descarga para garantir a sonoridade da orquestra. Uma comédia inocente, cuja versão completa só foi conhecida em 1968. Desde então, tornou-se o espetáculo de marionetes mais famoso da Rússia no século XX. Com mais de 10 mil apresentações, entrou para o “Guinness”, e enche até hoje a sala do teatro construída na década de 1930 para as peças com os “kukol” (bonecos). A longa programação do Teatro Bolshoi, ou do Stanislavski, da próxima temporada confirma o fôlego das produções russas.

A cena teatral moscovita impressiona não apenas quando comparada à de um país como o Brasil, onde os teatros têm fechado as portas, mas também para outras nações do mundo com mais recursos e que também valorizam a arte da dramaturgia. Somente na capital, há 250 teatros. Deste total, 14 são federais, 82, municipais, e 154, privados. O GLOBO passou pela porta de vários deles ao longo deste mês de Copa, entre grandes e pequenos. Estão sempre cheios. O repertório é majoritariamente russo.

De acordo com dados oficiais, foram sete milhões de espectadores no ano passado. Isso significa que um em cada 1,7 habitante da cidade foi ao teatro no ano passado. No imponente edifício Art-Déco do Teatro Lenkom, “O jardim das cerejeiras”, baseado na obra de Anton Tchekov (todas as peças do autor estão em cartaz em Moscou), arranca aplausos mais do que entusiasmados da plateia diante de estrelas da velha guarda da dramaturgia russa. Todos eles, e muitos dos que já se foram, estão homenageados em fotos pelas paredes do hall da entrada e são alvo de selfies.

Dezenas de fãs, como é hábito na Rússia, vão até o palco ao fim do espetáculo com flores para os artistas. É assim nos concertos das três salas do Conservatório Tchaikóvsky ou na Filarmônica de mesmo nome.

O teatro é uma tradição russa de séculos. O MHAT (Teatro de Artes de Moscou) é uma das companhias mais antigas da capital e continua ativo com uma extensa programação que também atrai longas filas. Foi fundado em 1898 pelo teatrólogo e diretor Konstantin Stanislavski (1863-1938) e pelo escritor e diretor Vladimir Nemirovich-Danchenko (1858-1943). O método Stanislasvki influenciou a arte dramática do resto do mundo, não apenas no teatro, como também no cinema.

A temporada cultural em Moscou acaba praticamente junto com a Copa. Agora, só em 2022, no Qatar. Já os teatros reabrirão as portas em setembro.


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