25/10/2021 às 10h19min - Atualizada em 25/10/2021 às 18h21min

Round 6 e a relação da banalização do mal na gestão empresarial

Elizeu Barroso Alves*

SALA DA NOTÍCIA Danieli Crevelaro
 Netflix/Divulgação

Sem dúvidas, um dos seriados mais comentados ultimamente é o Round 6 que, inclusive, se tornou a série mais vista da história da Netflix. Sem spoiler, mas a ideia do seriado é simples: pessoas endividadas que assumem o risco de morte para auferir algum sucesso financeiro e assim pagar suas contas. Só que, quem perder em um dos 6 jogos (daí a ideia de 6 rounds) perde nada mais, nada menos, que a vida.
 

Se a arte imita a vida, é interessante pensar no sucesso desta série e analisar outras perspectivas, vou dar um exemplo: um diretor de uma empresa que assedia moralmente um dos seus colaboradores, e este, por medo de perder o emprego, se submete a tal tortura psicológica, podendo, inclusive, culminar em suicídio, não me parece muito diferente de pessoas que se arriscam em morrer em um jogo.

 

A gestão empresarial é permeada pelo poder, onde bons gestores o usam para o bem-estar de todos os empregados e outros, usam desse privilégio ocupacional para de forma sádica molestar aqueles que do emprego necessitam, principalmente em um país onde muitos deixaram de comer carne e voltaram a andar de ônibus. Uma verdadeira crueldade.

 

Toda empresa existe para auferir lucro. Assim, não é o lucro em si o que se questiona, e sim, os meios para esse alcance. Qual a diferença da criação de uma meta comercial inalcançável ou pular por vidros que podem se quebrar? Inclusive, a série demonstra todo o mau no individualismo, onde uma pessoa acaba por dar cabo à vida de outra, para que ela continue no jogo. Isso não nos lembra a prática de “puxar o tapete” nas empresas.

 

A gestão tem a capacidade de naturalizar os maus feitos. Frases como: “isso sempre foi assim” ou “ele é uma péssima pessoa, mas traz resultados financeiros para a empresa”, tem a essência por esconder o mal, o sadismo, a falta de escrúpulos de gestores. E, por incrível que pareça, é muito comum encontrar esse tipo de ação nos gestores de porte médio.

 

Com isso, a arte segue imitando a vida, e salvo melhor juízo, acredito que o sucesso da série é que ela espelha nossos tempos atuais em diversos sentidos. A aplicação dessa lógica cruel à gestão, infelizmente é uma forma de entendermos como o mal feito, está para nós banal e inserido em parte do nosso dia a dia.

 

*Elizeu Barroso Alves é doutor em administração e coordenador dos cursos de Gestão Comercial e Varejo Digital da Uninter.


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