25/10/2021 às 09h35min - Atualizada em 25/10/2021 às 09h35min

Lídice nega fusão do PSB com PDT e defende federação partidária

Ela avalia que fusões, como a dos dois partidos, são mais viáveis no campo da direita em função do pragmatismo.

AB NOTICIAS NEWS
Tribuna da Bahia
Sérgio Francês/Lid. PSB na Câmara

A presidente do PSB na Bahia, Lídice da Mata, afirma desconhecer os movimentos para uma eventual fusão entre PSB com outros partidos na esfera nacional - a exemplo do que aconteceu recentemente entre o DEM e o PSL, que formaram o União Brasil. "Estamos assumindo o nosso desafio de construção partidária. O que se conversa nesse momento é a possibilidade de criação de uma federação. Que nada tem a ver com fusão. A federação é uma composição eleitoral de longo prazo e com um programa específico. Portanto, não é uma fusão eleitoral", avalia, em entrevista à Tribuna. Ela avalia que fusões, como a dos dois partidos, são mais viáveis no campo da direita em função do pragmatismo.

"Os partidos de esquerda precisam de mais. Eles se organizam em torno de programas, em torno de ideias, em torno de proposições - tanto voltadas para uma visão de mundo, quanto de imediato, de gestão... Por isso eu creio que fica mais fácil as composições no campo liberal ou de centro-direita", avalia. Ainda na entrevista, Lídice comenta as eleições do ano que vem na Bahia e no Brasil e faz críticas ao governo do presidente Jair Bolsonaro.

Tribuna - Qual foi a sua avaliação desse do relatório da CPI da Covid e também qual é a sua expectativa?

Lídice - Olha, a CPI da Covid teve um resultado extraordinário. Conseguiu revelar para o Brasil uma teia de movimentos de corrupção, de improbidade administrativa do governo na venda de vacinas, na negociação de vacinas que o Brasil não desconfiava que existia.  Conseguiu também demonstrar que a negociação com os tais remédios sem eficácia comprovada também estava ligada a negócios. No que diz respeito à investigação de outros assuntos, como a responsabilidade de cada um sobre isto, ele demonstrou com os depoimentos que foram feitos no Senado Federal o quanto foi nociva essa política negacionista para a vida dos brasileiros.

Tribuna - A senhora acredita nesse momento que pode ter um impeachment de Bolsonaro ou a senhora acha que o tempo já passou?

Lídice - O impeachment não passou porque a qualquer tempo o Presidente da Câmara assumindo, encaminhando, ele pode existir. Acho, no entanto, claro, está se aproximando o processo eleitoral e vai ficando mais difícil a viabilidade do impeachment.  Eu lutarei por ele até enquanto for possível que estabeleça, a qualquer tempo. O afastamento desse presidente é melhor para o Brasil do que a sua manutenção.

Tribuna - O governo anunciou o Auxílio Brasil em substituição ao Bolsa Família. Qual a sua avaliação desse novo programa? A senhora acha que ele vai ser sustentável com o tempo? Considerando essa questão do teto de gastos...

Lídice - Justamente o que o programa não é, é um programa sustentável. Não há na política do governo uma apresentação de um projeto que substitua de fato o Bolsa Família. Pelo contrário. O Bolsa Família era um projeto estruturante de assistência social, de proteção dos mais vulneráveis na sociedade e por isso mesmo ele tinha um regramento e uma possibilidade de atendimento de mais de 40 milhões de famílias brasileiras e com valores diferenciados para as suas condições. E com sustentabilidade econômica. Tanto é que sobreviveu por 18 anos e só agora esse presidente da República, que é o primeiro presidente após a presidente Dilma, que ousou acabar formalmente com o projeto Bolsa Família. O seu projeto é um projeto eleitoral, né? Um auxílio eleitoral, porque ele existe só para o ano de 2022. Começa em dezembro de 2021 para terminar em dezembro de 2022. Não há nada tão assumidamente eleitoreiro e demagógico quanto esse projeto.

Tribuna - Considerando o cenário atual, a senhora acredita que, se a eleição fosse hoje, Bolsonaro teria chance de algumas chances de se reeleger?

Lídice - Se a eleição fosse hoje o presidente teria muita dificuldade de se eleger. Então, eu acredito que esse cenário deve se manter daqui até a eleição.  acho que é um cenário de grande dificuldade para o presidente da República. Por isso mesmo que ele está lançando uma estratégia desesperada de gasto público voltado para o objetivo eleitoral deste último ano.

Tribuna - Saíram notícias de que o PSB e o PDT estariam conversando para se unirem na disputa pela presidência do ano que vem. Essas conversas passam pela Bahia também? Como é que está essa questão?

Lídice - Eu desconheço essa conversa do PSB com o PDT. Pode até ser que tenha havido algum tempo atrás. Agora recentemente, do que tenho acompanhado, não vi nenhuma conversa especial do PSB com o PDT, não. O PSB tem conversado com muita gente, com todos os partidos que compõem a oposição para a construção de uma frente de enfrentamento ao governo Bolsonaro. Quanto à eleição presidencial, candidatura, eu acho que não tem sido o foco da conversa com o PSB. Posso estar enganada, mas até onde tenho conhecimento não tem sido.

Tribuna - Há alguma possibilidade de haver uma fusão do PSB com algum outro partido futuramente?
Lídice
- Podemos falar do momento atual. No momento atual, não é essa a proposta e em a ideia que mais movimenta o partido. Estamos assumindo o nosso desafio de construção partidária. O que se conversa nesse momento é a possibilidade de criação de uma federação. Que nada tem a ver com fusão. A federação é uma composição eleitoral de longo prazo e com um programa específico. Portanto, não é uma fusão eleitoral. Ele é sim uma fusão partidária que pode intermediar, quem sabe, até na frente, com algum desses partidos que a compõe. Mas, a minha ideia, principalmente, que posso defender dentro do partido, não é de termos uma federação com um partido apenas. Penso que a federação, para ela ser não só viável para todos, mas principalmente politicamente importante - não apenas eleitoralmente -, ela deveria ser com mais de um partido.

Tribuna -  E como é que a senhora viu essa fusão do PSL com o Democratas e também a mudança de nome do partido, que agora se chama União Brasil?

Lídice - Olha, eu acho como estratégia de fortalecimento pragmático, é uma boa estratégia. Está juntando um com o outro, juntando fundo eleitoral. O partido que surge cresce e é natural. Nos processos políticos isso ocorre em tempos, né? Como disse, é em função principalmente de uma visão mais pragmática do centro-direita. Os partidos de esquerda precisam de mais. Eles se organizam em torno de programas, em torno de ideias, em torno de proposições - tanto voltadas para uma visão de mundo, quanto de imediato, de gestão... Por isso eu creio que fica mais fácil as composições no campo liberal ou de centro-direita.

Tribuna - Quais são os planos do PSB na eleição da Bahia no ano que vem, em termos de candidaturas de deputado estadual ou federal? Inclusive, tivemos a desistência de Alex Lima de concorrer por questões pessoais.

Lídice - Alex Lima é um grande deputado, um companheiro correto e eu sinto muito as dificuldades que ele tá passando. Ele tem todo o nosso apoio, consideração e solidariedade para enfrentar esse momento. O plano do PSB é ter uma chapa que viabilize, tanto a recondução dos seus três deputados, quanto o aumento da nossa bancada. Nós temos, dependendo da chapa que a gente vote, a gente pode ter apenas o projeto para reeleger e crescer. E outro projeto até para dobrar a bancada. É claro que nossa meta é sempre a maior. A gente vai tendo que modular isso de acordo com a realidade. E aquilo que vai se desdobrando como possibilidade.

Tribuna - Na semana passada se especulou que o deputado Marcelo Nilo teria planejado sair do PSB. Ele conversou com a senhora sobre esse assunto em algum momento?

Lídice - O deputado Marcelo Nilo é um deputado muito conhecido na Bahia. E todas as suas posições foram públicas. Ele tem conversado comigo sobre a política normal, os cenários possíveis com coligação e sem coligação. Mas, só quem pode responder é ele. Se sai do partido, se não sai do partido... É um problema dele, é uma decisão pessoal dele que só ele pode responder sobre isso. O PSB tem uma visão política de partido, o convidou e ele está atuando. Nós vamos consolidar esse plano político e eleitoral.

Tribuna - Quais as suas expectativas para a eleição aqui na Bahia? A senhora acha que, enfim, a gente vai ter a princípio o embate entre Jaques Wagner e ACM Neto? A senhora acredita que pode surgir uma terceira candidatura mais forte ou até apoiada pelo Presidente da República?

Lídice - As candidaturas que já se lançaram em tese na Bahia foram as candidaturas do ex-governador Jaques Wagner, pelo PT; a de ACM Neto, que todo dia é falada no jornal e parece que vai se lançar em dezembro; e a candidatura de João Roma, que também já se colocou e já firmou que pretende representar o presidente Bolsonaro nessa eleição.

Tribuna - A senhora acredita que, se a eleição fosse hoje, o ex-governador Jaques Wagner se elegeria, ou seria uma disputa mais acirrada e difícil?

Lídice - Olha, é sempre difícil responder a se a eleição fosse hoje. Se a eleição fosse hoje, o que estaria expresso é um quadro paralisado, é uma fotografia de um momento - que é muito pequeno. Porque se a eleição fosse hoje, já teria ocorrido antes da eleição pelo menos 30 ou 40 dias de debate político, de construções... Então, a minha posição sobre quem se elegeria hoje, é a mesma de quem se elegerá amanhã - que é a chapa que nesse momento representa a candidatura de Jaques Wagner.

Tribuna - A executiva do PSB já conversou com o prefeito de Mundo Novo, que declarou apoio a pré-candidatura ACM Neto?

Lídice - Não, ainda não conversamos, mas já tenho marcado um encontro. Ele já pediu o contato e nós já marcamos na próxima semana, quando deveremos conversar.

Tribuna - Especulou-se também que o presidente Jair Bolsonaro poderia se filiar ao PP. A senhora acha que, se essa filiação acontecesse, causaria algum tipo de estremecimento na base do governador Rui Costa?

Lídice - Acho que não. Eu tenho muita confiança no PT. Se chegasse a necessidade, nós teríamos um grande número de deputados e líderes do PP que sairiam do partido para continuar acompanhando essa frente política que se montou na Bahia. Mas acho mesmo que hoje essa não é a principal tendência do Presidente da República.

Tribuna - E a questão da os trabalhos da CPMI das Fake News? Como é que vão ficar a partir de agora os trabalhos lá em Brasília?

Lídice - Olha, a CPMI funciona no Senado. Ela é uma comissão de investigação mista. O Senado não teve, durante esse ano que passou, nenhuma comissão funcionando - só a CPI da Pandemia, que foi uma determinação do Supremo Tribunal Federal. Só há dois meses atrás, após o recesso, é que voltou. Está se instalando o funcionamento das comissões normais do Senado. Então, o primeiro movimento nosso de conversa com o presidente do Senado, feito pelo presidente da comissão, senador Angelo Coronel, era de que, após o encerramento da CPI da pandemia, haveria a retomada da CPMI das Fake News. Isso é o que provavelmente irá acontecer. Agora, se ela vai acontecer agora este mês de novembro ou se ela vai acontecer no próximo ano, eu não sei dizer. Aí, nós dependemos de uma decisão do presidente do Senado. E pelo que li na imprensa, o senador Angelo Coronel estava analisando que provavelmente seria no próximo ano.

Tribuna - A gente está vendo a inflação crescente aí no país, puxada o preço do combustível, eletricidade... A senhora acha que o governo federal, de alguma forma, está sendo omisso em relação a essa explosão dos preços? Ou isso foge de alguma forma ao controle do governo?
Lídice
-  Pelo contrário, ele não está omisso. Ele está desenvolvendo uma política que promove a inflação, que promove as dificuldades de recuperação da economia. A política praticada pela Petrobras, por exemplo, é uma política de dolarização da economia. De fazer com que o preço do petróleo no Brasil, dos derivados do petróleo, siga os preços internacionais. E isso leva uma esgarçamento total da economia brasileira, porque com isso aumenta os preços daqueles que dependem do combustível, né? Da gasolina, do diesel... Como nós temos praticamente só a via da rodoviária como via de transporte de mercadorias, imediatamente, impacta sobre todas as mercadorias de venda no país - elevando o preço dos produtos consumidos pela população brasileira e a inflação que nós estamos vivendo. Essa política econômica é resultante de um governo que é incapaz, incompetente, que não tem nenhuma empatia com a vida do povo brasileiro e que é não protegeu a vida do povo brasileiro. Na pandemia, se dedicou a fazer campanha contra o uso de máscara, contra a as vacinas, contra a vacinação, levando a que nós tivéssemos 600 mil mortes em nosso país. E só não foi pior porque temos uma longa tradição de respeito e de adesão a vacinação no Brasil. Isso [o negacionismo] não conseguiu impedir que a maioria do nosso povo confiasse na ciência e buscasse a vacinação. O presidente é responsável pelo mau enfrentamento da crise sanitária, pelo aprofundamento. da crise econômica e também pelas crises políticas permanentes que ele pessoalmente se dedica a alimentar.


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