25/09/2021 às 11h21min - Atualizada em 25/09/2021 às 11h21min

Bolsonaro diz que Michelle se vacinou nos EUA; políticos e infectologistas veem 'absurdo' e 'desprezo' ao SUS

Para vice da CPI, atitude desvaloriza o Programa Nacional de Imunizações e o trabalho de profissionais brasileiros. Infectologistas lembram que vacinas do Brasil são seguras.

AB NOTICIAS NEWS
G1
Reuters

O presidente Jair Bolsonaro afirmou em entrevista à revista "Veja", publicada nesta sexta-feira (24), que a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, se vacinou nesta semana nos Estados Unidos. Michelle integrou a comitiva presidencial que foi a Nova York por ocasião da Assembleia Geral da ONU.

Para políticos e infectologistas, a opção da primeira-dama de se vacinar nos Estados Unidos, e não no Brasil, é um "absurdo" e um "desprezo" ao Sistema Único de Saúde (SUS) e ao Programa Nacional de Imunizações (PNI).

Bolsonaro foi questionado pela revista se é um mau exemplo o fato de ele ter declarações contra vacinas e ter demorado para comprar imunizantes para o Brasil. Na resposta, o presidente contou que Michelle quis se vacinar na viagem ao exterior. Bolsonaro reforçou que ele ainda não se vacinou.

"Tomar vacina é uma decisão pessoal. Minha mulher, por exemplo, decidiu tomar nos Estados Unidos. Eu não tomei", revelou o presidente para "Veja".

Michelle poderia, se quisesse, ter tomado a vacina no Brasil. Em Brasília, cidade onde a primeira-dama mora, a vacinação para a idade dela (39 anos) está disponível desde o dia 23 de julho.

Segundo a assessoria do Palácio do Planalto, a primeira-dama teve que fazer exame de PCR antes de embarcar de volta para o Brasil, e aceitou a vacina que lhe foi oferecida na ocasião. A assessoria declarou que Michelle "reitera a admiração e o respeito pelo SUS e, em especial, pelos profissionais da área, que se dedicam incansavelmente ao cuidado da saúde do povo".

Repercussão

O presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), disse que a primeira-dama poderia ter se vacinado no Brasil, para dar exemplo aos brasileiros. Isso, segundo ele, seria patriotismo de verdade, e não patriotismo "da boca para fora".

"Primeiro, ela está de parabéns por ter se vacinado. A vacina salva. Fez a coisa correta. Isso é nota 10. [Por outro lado,] nota zero, porque a vacina que é aplicada nos Estados Unidos é a mesma que é aplicada aqui no Brasil. Então, ela poderia aqui ter se vacinado, mostrado aos brasileiros ela se vacinando, para dar um bom exemplo aos brasileiros e aí, sim, veríamos o patriotismo de verdade, não patriotismo da boca pra fora", disse Omar.

O vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues, afirmou que a atitude de Michelle é "lamentável" e desvaloriza o trabalho da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Programa Nacional de Imunizações (PNI), ligado ao Ministério da Saúde, e de cientistas do país.

"Essa cena da primeira-dama se vacinando nos Estados Unidos é lamentável. O Brasil não merece isso. Desvaloriza a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, desvaloriza uma conquista do país nos últimos 30 anos, que é o Programa Nacional de Imunizações, desvaloriza o esforço de milhares de cientistas, de milhares de profissionais de saúde por todo país. Lamentável e triste. Mais uma página triste da história nacional", declarou Randolfe Rodrigues.

O epidemiologista Pedro Hallal, que coordena o Epicovid, estudo epidemiológico sobre coronavírus no Brasil, disse que a atitude da primeira-dama de preferir se vacinar no exterior mostra desprezo ao SUS.

"Se confirmada, é uma notícia que mostra desprezo com o SUS e com os brasileiros. Demonstra falta de confiança no sistema universal de saúde, acessível a todos os brasileiros", afirmou.

Questionado sobre a decisão de Michelle, o infectologista Jamal Suleiman, do Instituto de Infectologia Emilio Ribas, disse que o PNI é um programa sério, que as vacinas aplicadas no Brasil são seguras e eficazes e que a população deve ir aos postos de saúde e tomar a vacina que estiver disponível.

"Quero reforçar ao povo brasileiro, embora esse reforço devesse ser feito pelo governo da República brasileira, no entanto isso não vem acontecendo, que este programa [PNI] é serio e visa proteger pessoas. E que os brasileiros corram às unidades e recebam a vacina que estiver disponível, porque a Agência Nacional de Vigilância Sanitária tem responsabilidade na aprovação desses produtos de tal forma que garantam a segurança e a eficácia para o povo brasileiro", afirmou Suleiman.

Para Renato Kfouri, infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunização, a decisão da primeira-dama é "um absurdo". Ele também reforçou que as vacinas aplicadas no Brasil são seguras e que não há motivo para tomar em outro país.

"Se for verdade, é um absurdo. As vacinas licenciadas no Brasil são seguras. Não há motivo para fazer esse tipo de distinção. Ela tinha direito aqui. Eu não entendo a motivação. Não há motivo nenhum para isso. A única vacina diferente que nós não temos aqui é a Moderna. Se ela tivesse alguma restrição às outras vacinas, uma alergia específica, o que é absolutamente improvável, seria uma justificativa técnica", afirmou Kfouri.

Rodrigo Stabeli, pesquisador titular e diretor da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em São Paulo, lembrou a saúde pública no Brasil oferece vacinas de qualidade contra a Covid.

"O que é importante salientar é que o Bolsonaro fala para os seguidores dele, pessoas que, como ele, se acham ricos no Brasil e têm condições de pegar um avião de primeira classe e ir aos Estados Unidos para se vacinar. A saúde pública, aqui representada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Instituto Butantan e a Anvisa, fala para o povo brasileiro que se proteja da Covid com as vacinas disponíveis no SUS, que são da mesma qualidade das ofertadas em outros países", disse o especialista.
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