20/09/2021 às 13h13min - Atualizada em 20/09/2021 às 13h13min

Na ONU, Bolsonaro se divide entre imagem internacional e acenos a eleitorado

Bolsonaro chega a Nova York, nos Estados Unidos, com a missão de conciliar duas tarefas quase antagônicas

AB NOTICIAS NEWS
BBC News Brasil
Alan Santos/PR

Às vésperas de fazer seu terceiro discurso na Assembleia Geral da ONU, onde o mandatário do Brasil tradicionalmente abre os trabalhos do maior encontro de líderes do mundo, Bolsonaro chega a Nova York, nos Estados Unidos, com a missão de conciliar duas tarefas quase antagônicas.

Por um lado, segundo diagnóstico do Itamaraty, o Brasil precisa reverter uma crise de imagem internacional. Para isso, o presidente brasileiro teria que abordar exemplos de avanços ambientais em sua gestão, celebrar o aumento da taxa de vacinação e o recuo da pandemia entre os brasileiros, repetir o mantra da responsabilidade fiscal na economia e reafirmar o compromisso do Brasil com direitos humanos e valores democráticos.

Por outro, depois de atrair centenas de milhares de apoiadores às ruas no último sete de setembro e recuar de suas próprias palavras dois dias depois, Bolsonaro vê no evento espaço ideal para reafirmar valores caros à sua base eleitoral - e produzir conteúdo replicável por ela na internet. Um dos temas que ele garante que defenderá na ONU é a aprovação pelo Supremo Tribunal Federal do marco temporal - que limita a demarcação de terras indígenas aos territórios ocupados pelos grupos em 1988, assunto que entusiasma a fatia ruralista de seu eleitorado.

"Na próxima terça-feira, estarei na ONU, participando no discurso inicial daquele evento. Podem ter certeza, lá teremos verdades, realidade do que é o nosso Brasil e do que nós representamos verdadeiramente para o mundo", afirmou o presidente em discurso em Minas Gerais na última sexta, 17.

A pouco mais de um ano da eleição que tem chamado a atenção de agentes políticos internacionais, como o ideólogo do trumpismo Steve Bannon ou expoentes da extrema direita alemã AfD, Bolsonaro pretende ainda usar o palco da ONU para se projetar como uma liderança da direita global. Ao ex-porta-voz de Trump, Jason Miller, Bolsonaro demonstrou intenção de fazer a defesa da liberdade de expressão dos conservadores, que ele vê como alvos de censura das grandes redes sociais por defender suas posições políticas.

"O discurso que veremos é o resultado da queda de braço entre a diplomacia tradicional do Itamaraty e a política externa bolsonarista", afirma o embaixador Paulo Roberto de Almeida.

Sem Trump, sem Ernesto, sem Olavo

Quando subiu ao palco da Assembleia Geral da ONU pela primeira vez, em 2019, Bolsonaro estava embalado pela chancela das urnas ao projeto de poder que ele pretendia apresentar ao mundo naquele discurso.

Na audiência, contava com a simpatia do líder mais poderoso do mundo, o então presidente americano Donald Trump.

Ao seu lado tinha o chanceler Ernesto Araújo, o assessor internacional Filipe Martins, além da presença de seu filho Eduardo Bolsonaro, todos seguidores das ideias do ideólogo de direita Olavo de Carvalho, então radicado nos EUA, que ainda dava o tom de boa parte das decisões da gestão.


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