17/09/2021 às 11h58min - Atualizada em 17/09/2021 às 11h58min

Cinema Glauber Rocha fecha as portas e amantes do cinema lamentam

Banco Itaú, que gerenciava o espaço, decidiu encerrar a parceria em Salvador e em outras duas capitais. Espaço era ponto de encontro para todas as idades

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Tribuna da Bahia
Reprodução

Assistir um filme depois de passar por pontos históricos do Centro Antigo de Salvador, tomar um café e depois aproveitar o pôr-do-sol, tudo num mesmo lugar. Estas são apenas algumas das saudades que ficarão no coração dos cinéfilos e dos amantes da cultura como um todo, com o anúncio do fechamento do Espaço Itaú de Cinema Glauber Rocha, feito nesta quinta-feira (16). A decisão de encerramento das atividades foi tomada pelo banco, que vinha gerindo o espaço desde os anos 2000, e afeta também os espaços de cinema situados em Curitiba e em Porto Alegre, que terão suas portas fechadas por não ter como manter as despesas. Segundo o Itaú, o motivo é a baixa frequência no espaço, que estaria abaixo de 20% nas três praças onde ocorrerá a saída dos cinemas, mesmo antes da pandemia do novo coronavírus. O Cine Glauber Rocha tinha quatro salas, com ambientação mais parecida com a de um teatro, dando uma melhor visão independentemente do assento onde se está sentado.

História

O que muitos não desconfiam é de que o espaço é um respeitável senhor de 102 anos: a inauguração aconteceu em 1919, e o seu nome original era Cine Teatro Guarani. O prédio fica encravado entre dois pontos icônicos da cidade: a Praça Castro Alves e o Edifício Sulacap. Onze anos depois, em 1930, os soteropolitanos puderam presenciar o primeiro filme falado: Inocente Paris, com atuação estelar de Maurice Chevalier. O espaço só receberia o nome que tem hoje em 1982, homenageando Glauber Rocha, um dos grandes expoentes do Cinema Novo e que tinha como lema “Uma ideia na cabeça, uma câmera na mão”. Para o público, um dos maiores atrativos do Cine Glauber era a sua programação, que contemplava filmes independentes com maior frequência do que nas grandes redes de cinemas. O Itaú Cultural, braço do banco que gere as iniciativas artísticas e de entretenimento, disse em nota à imprensa que a intenção agora é fortalecer a presença nas plataformas digitais, de forma a ampliar o alcance e o acesso.

Saudade

Nas redes sociais, não faltam pessoas chorosas pelo encerramento das atividades do cinema. Para elas, ir ao Glauber não era só para assistir aos filmes: era um programa completo, pois ali havia uma cafeteria, o restaurante Na Praça (hoje La Pasta Gialla, do chef Sergio Arno), uma unidade da livraria LDM, que oferecia um catálogo diferente das grandes redes, além da deslumbrante vista da Bahia de Todos os Santos no alto do edifício. Embora as operações das outras lojas continuem, a sensação é de que algo ficará faltando. “Cada dia que passa, são menos opções culturais”, lamentou Mariana Carnaúba. Outro fator lembrado pelos órfãos do cinema é o fato de este ser um dos poucos espaços de rua para assistir filmes; além do Glauber, as alternativas eram as salas Walter da Silveira (Biblioteca Pública dos Barris), do Museu Geológico da Bahia e no Pavilhão de Aulas do Canela (PAC), na UFBA. “Uma pena. Salas lindíssimas. Não ficam devendo nada a shopping algum”, disse o DJ Igor. 

Esperança

No momento, o futuro das salas é incerto, mas ainda há uma luz no fim do túnel. Claudio Marques, diretor e idealizador do cinema, tem esperanças de achar outro meio de custear a operação, mesmo com a retirada do Itaú, e garante estar fazendo tudo o que está ao seu alcance para que as cortinas se fechem de uma vez. Admite, porém, que é uma corrida contra o tempo. “Nós continuamos a acreditar nas salas de exibição e no Centro Histórico de Salvador. O Cine Glauber vai renascer depois dessa pandemia, desse momento terrível, ainda com mais força. Espero realmente poder contar com o apoio de toda a nossa sociedade. Precisamos de novos parceiros e vamos atrás”, frisou, agradecendo ao banco por ter viabilizado a parceria e exaltando a longevidade do espaço, que resistiu em meio ao boom dos grandes complexos instalados dentro dos shoppings.


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