28/07/2021 às 18h55min - Atualizada em 28/07/2021 às 18h55min

Espião saudita e seus segredos, um julgamento que preocupa os EUA

AB NOTICIAS NEWS
Agência AFP
Reprodução/AFP
Os Estados Unidos tentam intervir em um julgamento no Canadá de um antigo espião saudita, conforme documentos aos quais a AFP teve acesso - uma iniciativa incomum em meio a uma disputa pelo poder na Arábia Saudita que ameaça expor segredos de Washington.

Casos judiciais abertos em tribunais americanos e canadenses se concentram em alegações de corrupção de empresas estatais sauditas contra Saad Aljabri, um ex-chefe de espionagem que há muito trabalha em estreita colaboração com as autoridades americanas em operações secretas de contraterrorismo.

Este é o último capítulo de uma longa disputa entre o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman (MBS) e Aljabri.

O chefe de Aljabri, o príncipe Mohammed bin Nayef (MBN), está detido na Arábia Saudita, após ser deposto como herdeiro do trono em 2017.

O conflito legal lança luz sobre rivalidades nos escalões superiores da família real saudita, e Washington teme que um confronto nos tribunais exponha informações confidenciais.

Vários funcionários dos EUA que trabalharam com Aljabri expressaram seu apoio a ele, e alguns reconhecem que ele tem conhecimento de informações sigilosas.

Em uma carta, à qual a AFP teve acesso, o procurador do Departamento de Justiça dos EUA pediu ao advogado de Aljabri que "adie qualquer transmissão de documentos" até 30 de setembro. Isso dará tempo a Washington para tomar medidas para proteger suas informações confidenciais.

Os Estados Unidos podem recorrer à regra do "privilégio dos segredos de Estado", o que lhe permite se opor à divulgação de informações consideradas prejudiciais para a segurança nacional do país. A norma se aplica, no entanto, apenas aos tribunais sob sua jurisdição.

"Os temas relacionados às relações exteriores e à segurança nacional dos Estados Unidos (...) requerem um tratamento 'delicado' e 'complexo'", escreve o procurador Malcolm Ruby, em sua carta com data de 29 de junho.

Washington "não toma posição" no caso, mas se preocupa com a "proteção de informação sensível relacionada com a segurança nacional", insiste.

Segundo Ruby, a divulgação dos documentos ativaria automticamente o artigo 38 da lei de provas nos Canadá, obrigando os adogados de Aljabri a entregarem qualquer informação confidencial.

Para provar que é inocente, Aljabri solicitou à Justiça canadense que examine as finanças da Sakab Saudi Holding, uma das empresas demandantes contra ele, assim como os "financiamentos de programas sensíveis" em associação com a CIA (a Agência Central de Inteligência) e a NSA (a Agência de Segurança Nacional), ambas americana, assim como com o Departamento da Defesa dos EUA.

Elizabeth Richards, advogada do Departamento de Justiça do Canadá, e a defesa de Aljabri ainda não reagiram às perguntas da AFP. Também se entrou em contato com Ruby, do Departamento americano de Justiça, que não quis comentar o caso.

"É algo nunca visto nos tribunais canadenses", disse à AFP, sob a condição do anonimato, um advogado de Toronto.

"Se o artigo 38 puder impedir temporariamente a divulgação de segredos relacionados com a segurança nacional americana, isso privará a Aljabri do uso de provas essenciais para a defesa", explica.

No ano passado, em um outro processo, Aljabri havia denunciado que o príncipe MBS enviou os assassinos do "Esquadrão Tigre" para matá-lo no Canadá, onde vive no exílio, enquanto mantinha dois de seus filhos para pressioná-lo a voltar para casa.

O caso tomou um novo rumo em março, quando a estatal Sakab Saudi Holding acusou Aljabri de desviar US$ 3,47 bilhões, enquanto trabalhava no Ministério do Interior a mando de MBN. A empresa também pediu ao tribunal de Massachusetts que congelasse seus ativos imobiliários de US$ 29 milhões em Boston.

A acusação ocorreu semanas depois de várias empresas estatais processarem Aljabri em Toronto por atos semelhantes. Posteriormente, um tribunal canadense anunciou o congelamento dos bens de Aljabri em todo mundo.


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