21/07/2021 às 17h07min - Atualizada em 21/07/2021 às 17h07min

Crise política e pandemia disparam pobreza em Hong Kong

AB NOTICIAS NEWS
Agência AFP
Reprodução/AFP
Morando apertados em um quitinete, "Rainbow" e sua família mal conseguem se sustentar, assim como milhares de famílias que caíram na pobreza nos últimos dois anos, devido ao impacto da crise política e da pandemia da covid-19.

Já faz um ano que, quase todos os dias, o marido de "Rainbow" (apelido para preservar sua identidade) volta para o apartamento de 26 metros quadrados sem ter conseguido trabalho como eletricista.

"Antes da pandemia, trabalhava de 20 a 25 dias por mês. E agora só quatro ou cinco dias. Teve um mês em que não trabalhou", lamenta esta mulher, de 43 anos.

Hong Kong é um dos territórios mais ricos do mundo, mas também um dos mais desiguais.

Seu Produto Interno Bruto (PIB) per capita é de cerca de US$ 48.000. E, mesmo depois de um ano de gastos públicos incomuns em função da pandemia, o governo local possui amplas reservas, em torno de US$ 116 bilhões.

Esta cidade de 7,5 milhões de habitantes tem cerca de 5.000 bilionários, um número que aumentou 48% em cinco anos, de acordo com o relatório anual sobre a riqueza da Knight Frank. E são 280.000 milionários.

A riqueza dos ricos aumenta, mas a pobreza também.

Nos últimos dois anos, o número de famílias que ganham o equivalente a US$ 1.170, ou menos, por mês, dobrou para 149.000, de acordo com um estudo recente do governo.

- Pouca ajuda social -

Nesta foto tirada em 16 de junho de 2021, Maggie e sua filha no centro do grupo de caridade Concern for Grassroots 'Livelihood Alliance em Hong Kong

A família de "Rainbow" é uma delas. Há um ano, porém, sua renda era de quase o triplo.

No momento, tem conseguido limitar suas despesas diárias com alimentação ao equivalente a US$ 13 e faz o possível para que suas filhas, de 4 e de 18 anos, continuem a comer de forma equilibrada.

"Os adultos comem comida enlatada, e as crianças comem produtos frescos", explica.

Esta ex-colônia britânica foi atingida pela pandemia, quando a economia já estava em recessão por meses de crise política e pelas manifestações em massa em 2019.

Essas manifestações protestavam contra a crescente tutela chinesa, apesar do princípio "Um País, Dois Sistemas". A multidão também tomou as ruas contra o Executivo local - alinhado a Pequim - por sua incapacidade de conter as desigualdades e de resolver a crise imobiliária que faz de Hong Kong uma das cidades mais caras do mundo para se morar.

O avanço da pobreza em Hong Kong é alarmante, devido à baixa magnitude de subsídios sociais, afirma Lai Hiu-tung, da ONG Concern for Grassroot's Livelihood Alliance.

"A maior parte da ajuda é excepcional e de curto prazo", explica.

- "Muitos desempregados" -

Maggie, de 35 anos, é uma das centenas de pessoas que dependem da ajuda alimentar distribuída duas vezes por semana pela associação de Lai.

Depois de engravidar pela segunda vez, não encontrou trabalho como balconista e não tem mais um salário fixo para sustentar as duas filhas. 

Seu marido, que também é vendedor, sofreu uma queda de 30% no salário mensal durante a pandemia.

"A política da empresa dele mudou, e ele recebe muito menos comissões", acrescenta.

O casal pensou na possibilidade de trabalhar em plataformas de entrega de comida, mas há muita concorrência. 

"Há muitos desempregados. Não somos os únicos procurando um segundo emprego", lamenta.

A taxa de desemprego aumentou no início de 2021, atingindo seu maior índice em 17 anos, a 7,2%. Desde então, regrediu ligeiramente.

Os manifestantes acusam a chefe do governo local, Carrie Lam, de fechar os olhos para a situação econômica de seus eleitores e de se concentrar na repressão aos oponentes pró-democracia.

Recentemente, têm havido promoções entre os funcionários de alto escalão da área de segurança do governo. O ex-ministro da Segurança John Lee, por exemplo, tornou-se conselheiro de Lam, uma posição que lida, com frequência, com questões sociais.

Lam diz que fará da habitação o tema central de seu mandato, que termina no próximo verão.

Hoje, o tempo de espera para se ter acesso à moradia social é de em torno de 5,8 anos, 12 meses a mais do que quando Carrie Lam chegou ao poder.

A família "Rainbow" está à espera há sete anos e vive em habitações provisórias. Ainda assim, considera-se com sorte agora. Antes, sua família morava em um casebre como os que são construídos, ilegalmente, nos telhados dos prédios.

"Eu durmo mal e me sinto péssima" vendo nossas economias diminuírem, desabafa "Rainbow". 

E acrescenta: "todas as pessoas estão sob pressão".


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