07/06/2021 às 11h01min - Atualizada em 07/06/2021 às 11h01min

"Encontro de Lula e FHC é sinal de que é possível construir pontes"

O PT da Bahia surpreendeu na última semana ao voltar às ruas de Salvador para pedir o impeachment do presidente Jair Bolsonaro

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TRIBUNA DA BAHIA
Reprodução

Por Guilherme Reis, Henrique Brinco e Paulo Roberto Sampaio

O PT da Bahia surpreendeu na última semana ao voltar às ruas de Salvador para pedir o impeachment do presidente Jair Bolsonaro. A decisão dividiu opiniões. De um lado, os que apontaram o evento como forma de gerar aglomerações em plena pandemia da Covid-19. Do outro, pessoas que acreditam ser necessário os protestos no momento para que sejam solucionados os inúmeros problemas da gestão federal - sobretudo no que tange o atraso na compra de vacinas. O partido já planeja novas manifestações. "Quem foi às ruas no dia 29 de maio e quem vai voltar às ruas no dia 19 de junho, vai porque não aguenta mais a política genocida que está aqui. Vai por grito de desespero, de indignação, de revolta. Os companheiros e companheiras que voltam a ocupar as ruas da Bahia e do Brasil estão lutando pelo direito à vacina, pela volta do Auxílio Emergencial de verdade - e não esse vale gás que Bolsonaro cortou do povo mais pobre", declarou o presidente do diretório estadual na Bahia, Éden Valadares, em entrevista à Tribuna. Aliado de primeira hora do senador Jaques Wagner (PT), ele também comenta o cenário eleitoral que vem se desenhando no estado para 2022. "Não sei lhe responder se o candidato de Bolsonaro na Bahia será ACM Neto, João Roma, fulano ou sicrano. Sei que vamos defender o legado de Lula, de Wagner e Rui, com muita humildade, dialogando com o povo, mas também com muita firmeza por tudo que fizemos até aqui. Temos muito serviço prestado, muita obra pela Bahia inteira, muitos acertos", avalia. Ainda na entrevista, Éden traça um panorama geral da crise no país e faz mais projeções para o pleito do próximo ano.

Tribuna - Qual sua percepção sobre a condução da crise sanitária e econômica por parte do governo federal? Apesar dos erros no ano passado, acha que tem encontrado algum rumo?

Éden Valadares - Uma tragédia. Desde o início da pandemia o governo federal só acumula erro e incompetência. Errou ao não promover testagem em massa, errou quando em vez de unir o país abriu confronto com prefeitos e governadores, colocou o Brasil no fim da fila no que diz respeito à vacina, foi e segue sendo irresponsável ao promover medicamento sem eficácia, enfim, um horror. Por isso há uma CPI apurando e já comprovando que o Presidente da República e seu governo tem responsabilidade sobre a calamidade sanitária que o Brasil vive. A maior crise da nossa história. Quase 500 mil mortes, muitas delas evitáveis, se o Presidente não negasse a ciência, as recomendações médicas, o bom senso.

Tribuna - O governo do Estado e a prefeitura de Salvador têm sido competentes na condução das medidas restritivas e também da vacinação?

Éden Valadares - O governador Rui Costa é o melhor exemplo do contraponto à política do governo federal. Enquanto Bolsonaro dá ouvidos a quem prega a farsa da cloroquina, Rui ouve a ciência. Se o governo federal foi negligente com a aquisição e produção de vacinas, o governador lutou e segue lutando por mais vacinas para o povo baiano. Enquanto Bolsonaro abre uma crise por dia, abre um conflito por dia com os entes federados, o companheiro Rui Costa se pautou pelo trabalho e buscou unir todos os gestores, sem olhar coloração partidária do prefeito, no combate à pandemia.

Tribuna - Acredita que os erros do governo federal em meio à pandemia vão pesar contra Bolsonaro na tentativa de se reeleger?

Éden Valadares - Certamente. Todas as pesquisas mostram que sim. A população brasileira reprova o Presidente e seu governo. Não é brincadeira a desumanidade de Bolsonaro. É algo repugnante. Enquanto milhares de famílias estão enlutadas pela perda de algum ente querido, ele é incapaz de demonstrar compaixão e empatia pela vida das pessoas. Sequer visitou um hospital. E segue promovendo aglomerações injustificadas, sem máscara e fazendo apologia ao uso de um remédio que não só é ineficaz, como pode ter promovido a morte de muitas pessoas.

Tribuna - A presença do presidente Lula na eleição do ano que vem vai intensificar a polarização da disputa? Ou acredita que há a chance de haver a construção de outros nomes?

Éden Valadares - Lula e o PT pautam a política brasileira desde a década de 1980. Infelizmente, um golpe já revelado do ex-juiz Sérgio Moro o impediu de disputar as eleições de 2018, quando ele liderava todas as pesquisas. Um pouco da injustiça foi refeita e Lula teve sua inocência comprovada e seus direitos políticos plenamente restabelecidos. E só o fato dele estar apto a disputar as eleições já mexe com o coração do povo brasileiro. A lembrança do tempo de Lula é muita viva na cabeça das pessoas. A memória de quando tínhamos um governo de verdade, preocupado com sua gente, que promovia direitos, oportunidades e sobretudo prosperidade. Então, logicamente, polariza. De um lado, da parte de Bolsonaro, há crise, incompetência, desumanidade, falta de perspectiva, desemprego em alta e a volta da fome. Do outro, Lula e tudo que ele traz de signos, a inclusão social, o desenvolvimento, o crescimento econômico e a oportunidade para todos e todas, sobretudo para aqueles que mais precisam. Viabilizar uma terceira alternativa nesse cenário não é fácil.

Tribuna - Qual o perfil ideal para um candidato a vice de Lula considerando o atual cenário político?

Éden Valadares - Olha, não sei se o PT está discutindo isso. É muito cedo. Nós estamos concentrados naquilo que Lula orientou: estar ao lado do povo buscando soluções para o sofrimento que nossa gente vem passando. Então estamos lutando por vacina para todos, pelo Auxílio Emergencial de 600 reais, pela volta do emprego e estamos mobilizados, através de uma campanha nacional chamada PT Solidário, para arrecadar e levar alimentos àqueles que, infelizmente, tem enfrentado a fome. É um número muito grande. Mais da metade das famílias brasileiras estão em situação de insegurança alimentar. Ou seja, mais da metade dos lares no Brasil tiveram que reduzir a qualidade ou a quantidade de comida na mesa, ou não tiveram o que comer. Isso é muito grave. Um retrocesso muito grande. Por isso aumenta a “saudade do meu ex”, por isso cresce a esperança na volta de Lula e do PT.

Tribuna - O que achou do encontro de Lula e FHC? Acredita que haverá um aprofundamento desse diálogo em 2022?

Éden Valadares – No primeiro turno, acredito que não. Mas caso haja segundo turno, é uma sinalização importante. É um gesto político de primeira grandeza. Duas das principais referências políticas nacionais juntas, colocando suas diferenças históricas de lado, pelo bem do país, da democracia e da nossa sociedade. O governo que aí está é negacionista em todas as áreas. Nega a ciência, nega a importância do meio ambiente, nega as políticas sociais, nega as conquistas do povo brasileiro e nega a própria democracia. Bolsonaro afronta as instituições da República e a Constituição Federal cotidianamente. Portanto, o encontro de Lula e Fernando Henrique é um sinal de que é possível sim construir pontes de entendimento em defesa do Brasil.

Tribuna - Teremos uma disputa acirrada na Bahia, com as possíveis candidaturas de Wagner e ACM Neto? Qual a expectativa do PT?

Éden Valadares - Nós temos dois grupos políticos distintos na Bahia. O nosso, o do PT e nossos aliados, que sob a liderança do governador Rui Costa terá em nosso palanque Lula e Jaques Wagner. Do outro lado, Bolsonaro e a turma que dá sustentação a ele, como o pessoal do DEM. A gente não escala time adversário. Não sei lhe responder se o candidato de Bolsonaro na Bahia será ACM Neto, João Roma, fulano ou sicrano. Sei que vamos defender o legado de Lula, de Wagner e Rui, com muita humildade, dialogando com o povo, mas também com muita firmeza por tudo que fizemos até aqui. Temos muito serviço prestado, muita obra pela Bahia inteira, muitos acertos. Sem xingamento, com argumentos, sem cair no método deles que é da política do ódio e das Fake News, vamos defender nosso projeto que transformou para melhor a Bahia e criou as condições da gente planejar novos saltos, novos ciclos de desenvolvimento, com crescimento econômico e justiça social.

Tribuna - Como está o diálogo com os demais partidos da base, como o PSD e o PP, que também afirmaram a possibilidade de disputar o governo do Estado?

Éden Valadares - Nós entendemos como legítimas as pretensões de todos os aliados. São partidos importantes, com grandes quadros, não só estes você citou, mas também o PCdoB, o Podemos, o PSB de Lídice da Mata, PP de João Leão e o PSD do senador Otto. Mas entendemos que o PT pode também pleitear e apresentar aos partidos aliados e ao conjunto da sociedade baiana alguém da qualidade e da capacidade do companheiro Jaques Wagner. Foi um grande governador, inaugurou o processo de democratização da Bahia, tem uma visão de mundo moderna, antenada com as melhores práticas do Brasil e do mundo, enfim, dispensa apresentações. Entendemos que Wagner é quem reúne as melhores condições para manter a unidade do nosso grupo e representar o nosso projeto, o projeto de Lula, Wagner e Rui Costa na Bahia.

Tribuna - Há risco de rupturas? Comenta-se que o PP tem dialogado bastante com o grupo da oposição...

Éden Valadares - Desconheço e não acredito nisso. Temos uma boa relação, uma excelente parceria. Veja, do ponto de vista da política, essa nossa experiência é uma grande novidade na Bahia. Qual era o padrão anterior e que é defendida por ACM Neto? O mandonismo. Uma política onde se tem chefe, em que manda quem pode e obedece quem tem juízo. Vivíamos na Bahia o controle sobre a imprensa, tutela sobre o Judiciário, sobre a atividade empresarial e as oposições não eram tratadas enquanto adversários, mas sim como inimigos. Superamos esse tempo. Inauguramos a era da democracia, do respeito, do diálogo. Ninguém quer andar para trás. Então sou um entusiasta de que nosso grupo não só chegará unido e forte, como pode até ser ampliado.

Tribuna - O PT está aberto a dialogar com o PDT, que apoia Bruno Reis em Salvador e tem perdido espaço no governo?

Éden Valadares - Eu tenho um enorme respeito pelo PDT, pela história do partido, tenho grandes amigos lá, inclusive. Mas acho que eles têm que decidir se vão mesmo apostar na política errática de ACM Neto. E o que chamo de política errática? É a prática dissociada do discurso. Repare, ACM Neto fala em independência em relação a Bolsonaro mas o seu partido, o DEM, dá sustentação ao governo federal não só votando com ele no Congresso, mas indicando diversos nomes para o governo. Ministros, dirigentes de órgãos, e aqui na Bahia não é diferente. O presidente do DEM na Bahia, deputado Paulo Azi, é vice-líder de Bolsonaro na Câmara. Então há uma questão aí. O DEM vai ficar, para usar uma expressão de Rodrigo Maia, na boquinha de Bolsonaro os quatro anos e depois vai apoiar Ciro Gomes?

Tribuna - O PT voltará às ruas em novos atos contra Bolsonaro? E como gerenciar o desafio de se preservar em meio à pandemia e ao mesmo tempo manter o engajamento político?

Éden Valadares - Quem foi às ruas no dia 29 de maio e quem vai voltar às ruas no dia 19 de junho, vai porque não aguenta mais a política genocida que está aqui. Vai por grito de desespero, de indignação, de revolta. Os companheiros e companheiras que voltam a ocupar as ruas da Bahia e do Brasil estão lutando pelo direito à vacina, pela volta do Auxílio Emergencial de verdade - e não esse vale gás que Bolsonaro cortou do povo mais pobre. Então nós respeitamos, entendemos e saudamos essa militância. Mas o PT, enquanto partido político, tem orientado nossos filiados a priorizar as manifestações remotas ou virtuais. Você viu o sucesso do último Panelaço. Ou atos simbólicos, com pouca gente, respeitando o afastamento social. Não podemos perder de vista os esforços dos nossos prefeitos, está aí Moema em Lauro, ou do próprio governador Rui Costa em assegurar as medidas de segurança sanitárias ou a oferta de leitos de UTI, de atendimento nas redes públicas e privadas. O direito à vida é mais elementar dos direitos e nossa principal bandeira. Mas é justamente porque o governo federal não assegura este direito que os movimentos sociais, estudantes, artistas, intelectuais tomam as ruas. O Fora Bolsonaro é um grito muito presente na garganta da sociedade brasileira. Milhões expressarão nas urnas, outros nas sacadas das janelas, outros tantos em protestos pelas ruas do Brasil.


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