25/04/2021 às 18h56min - Atualizada em 25/04/2021 às 18h56min

Motoristas de apps temem que fusão entre Localiza e Unidas suba preço de locação

O temor é de que a fusão diminua a concorrência e aumente o preço da locação para os motoristas

AB Notícia News
jornal O Estado de S. Paulo
Jeenah Moon/Reuters
Uma das fusões mais importantes em análise pelas autoridades concorrenciais neste ano, a união das locadoras de veículos Localiza e Unidas ganhou, além da oposição dos competidores, novos antagonistas: os motoristas de aplicativos.
 
Representantes de condutores de serviços como Uber e 99 estão preocupados com o impacto para a categoria. De acordo com a Associação dos Motoristas de Aplicativos de São Paulo (Amasp), 25% dos motoristas dirigem carros alugados no estado. O temor é de que a fusão diminua a concorrência e aumente o preço da locação para os motoristas, reduzindo a oferta de transporte ou encarecendo o valor da corrida para os usuários.
 
"Já vimos uma disparada nos preços dos carros alugados desde que a fusão foi anunciada. Com a falta de concorrência no mercado, eles colocam o valor que eles querem", afirma o presidente da Amasp, Eduardo Lima de Souza.
 
Fundada por Salim Mattar, ex-secretário de Desestatizações do Ministério da Economia, a Localiza anunciou a fusão com a Unidas em setembro do ano passado, o que criaria uma empresa com valor de mercado consolidado de R$ 48 bilhões. O negócio, porém, só pode ser concretizado após a aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), onde está sob análise.
 
Questionamentos
No processo no Cade, a locadora de veículos Movida, que tem 15% de participação de mercado, e empresas menores, como Ouro Verde Locação e Porto Seguro Carro Fácil, manifestaram-se contra a fusão. A Movida e a Ouro Verde questionam o market share (participação de mercado) informado pela Localiza ao notificar o negócio ao conselho, que seria, somado ao da Unidas, de 40% da frota nacional de carros para aluguel.
 
"Em apresentações anteriores feitas a investidores, a Localiza falava que tinha mais de 50% e, a Unidas, mais de 17%. Juntas, as duas empresas têm quase 70% do mercado", afirma o consultor Juan Ferrés, contratado pela Movida para apresentar um parecer ao Cade em que analisa a operação.
 
A reportagem procurou a Localiza e a Unidas e questionou as empresas sobre as preocupações dos motoristas de aplicativo e os argumentos apresentados pela Movida.
 
A Localiza respondeu que a companhia, "seguindo suas reconhecidas práticas de governança corporativa e transparência", apresentou ao Cade informações sobre o negócio e estudos sobre a dinâmica do setor. "Eventuais esclarecimentos sobre a operação estão sendo discutidos com a autarquia", completou.
 
A Unidas disse que prefere não se manifestar sobre o tema neste momento. 
 
Falta de carros novos gera crise para locadoras
As locadoras de veículos vivem um ano mais difícil do que imaginavam. Diante dos atrasos nas entregas das montadoras, a receita de vendas de seminovos deve cair nos próximos meses, com os custos de manutenção crescendo em paralelo, por causa do aumento da idade da frota. Para preservar caixa, as locadoras têm aplicado reajustes até em contratos de longo prazo, segundo apurou o Estadão/Broadcast, mas a sustentabilidade dessa política de preços deve ser limitada.
 
Desde o ano passado, a indústria automotiva vem enfrentando problemas de falta de peças devido à severidade da pandemia de covid-19. Como consequência, as montadoras têm atrasado as entregas de pedidos no varejo e também no atacado (frotistas), ocasionando relevante alta dos preços dos veículos novos no mercado. Segundo a plataforma de precificação de veículos Checkprice, o preço médio do carro zero-quilômetro subiu de 20% a 25% em 2021.
 
Por ora, as locadoras vêm se beneficiando desses aumentos, porque, quando o preço do carro novo sobe, os usados também se valorizam. Em relatório do Bradesco BBI na última sexta-feira, os analistas Victor Mizusaki e Pedro Fontana destacaram as "altas margens" das locadoras no negócio de seminovos, que devem "sustentar o crescimento no primeiro trimestre".
 
No entanto, eles alertaram para a queda nas vendas de seminovos diante da ruptura na indústria automotiva. Sem poder comprar carros, as locadoras não conseguem renovar frota. Além da perda de margens com a venda de seminovos, os custos com manutenção crescem de maneira significativa.
 
"As locadoras já estão trabalhando com a estabilização das entregas das montadoras somente para o último trimestre deste ano ou até no início de 2022", afirma uma fonte da cadeia, que prefere não ser identificada.
 
Neste cenário, as locadoras vêm se preparando para um ano difícil. No início do mês, a Localiza anunciou uma emissão de debêntures no valor de R$ 1,2 bilhão, recursos que segundo a empresa deverão ser destinados à recomposição de caixa. Em fevereiro deste ano, a Unidas aprovou uma emissão de R$ 450 milhões em debêntures também para reforço de caixa.
 
Pedidos suspensos
No fim de março, a Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (ABLA) informou que as encomendas atrasadas na indústria automotiva somam cerca de 100 mil unidades. Os atrasos podem ultrapassar 180 dias, e montadoras como a Volkswagen chegaram a suspender temporariamente novos pedidos de frotistas.
 
Para enfrentar um período de pressão, as locadoras estão reajustando até os contratos de longo prazo para pessoas físicas (também conhecidos como "carro por assinatura") e de terceirização de frota.
 
Segundo apurou o Estadão/Broadcast, as empresas têm aplicado cláusulas de reajustes no meio do período de vigência dos contratos em razão da inflação no setor, o que historicamente não acontecia. "As locadoras estão fazendo o possível para preservar o caixa neste ano, mas os reajustes têm um limite de aplicação porque o cliente só vai absorver o que ele puder", diz uma fonte ligada às montadoras.
 
Em nota, a Localiza informa que "não houve mudança no modelo de precificação da companhia" e que os contratos de longo prazo, tanto para pessoas físicas quanto para empresas, "são feitos de acordo com condições específicas, desenhadas em função das demandas e necessidades de mobilidade dos clientes, incluindo quilometragem rodada e prazo que normalmente varia entre 24 e 48 meses".
 
A empresa acrescenta ainda que "os preços de aluguéis para novas contratações podem variar de acordo com as condições de compra e venda de cada carro e cenário econômico, em especial taxas de juros futuros."
 
Locação direta por montadoras amplia problemas do setor
A pressão sobre as locadoras também cresce por um fenômeno recente: a entrada das montadoras no negócio de locação. Volkswagen, Fiat, Jeep, Toyota e Caoa Chery passaram a oferecer carros por assinatura e gestão de frotas para empresas. Além de brigar por fatias de mercado, as montadoras vão ter mais poder de barganha para negociar com frotistas.
 
A relação de interdependência entre os dois setores teve momentos de vantagem para as locadoras, que historicamente mantiveram ajudaram a ampliar a escala de produção das montadoras, e de aumento de poder de barganha para a indústria. O presidente da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), Paulo Miguel Jr., afirmou no mês passado que os reajustes para as locadoras chegaram a 30% em 2020.
 
"É difícil negociar quando a montadora está com toda a produção vendida. Nós vamos continuar brigando para manter os descontos, mas este vai ser um ano de desafios", disse ele, em entrevista recente ao Estadão/Broadcast.
 
O consultor Milad Kalume Neto, da Jato Dynamics, diz que, em um cenário de restrições da produção, as montadoras terão de equilibrar as vendas para as locadoras e para seus braços de locação: "As montadoras devem praticar descontos menores."
 
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo


Link
Tags »
Notícias Relacionadas »
Mande sua denuncia, vídeo, foto
Atendimento
Mande sua denuncia, vídeo, foto, pra registrar sua denuncia