23/02/2021 às 21h14min - Atualizada em 23/02/2021 às 21h14min

Não seja vítima dos “padrões” de beleza

Muitos cedem à tirania da mídia e chegam a comprometer a saúde e a vida para mudar de aparência

AB Notícia News
Folha Universal
Reprodução
A influenciadora digital cearense Liliane Amorim, de 26 anos, gostava de sua imagem. Em suas redes sociais, ela publicava muitas fotos de si mesma em eventos e lugares paradisíacos. Infelizmente, ela apareceu na mídia em janeiro deste ano por outro motivo: a jovem morreu por causa de uma infecção após uma lipoaspiração (sucção de gordura por uma cânula), na qual teve seu intestino acidentalmente perfurado, segundo a autópsia. Ela sofreu fortes dores por 15 dias até morrer.

Em setembro de 2020, dois casos parecidos ganharam o noticiário. A policial militar Valquíria da Silva, de 46 anos, do ABC paulista, faleceu por conta da obstrução de suas veias por coágulos também por causa de uma lipoaspiração. Em Belo Horizonte, Minas Gerais, a cabeleireira Edisa Soloni, de 20 anos, passou mal durante um procedimento para lipo e enxerto de silicone e morreu no dia seguinte à cirurgia. O laudo aponta órgãos perfurados. Independentemente disso, seu cardiologista tinha dito que ela estaria sob risco na operação porque tinha um problema cardíaco, mas ela o desconsiderou.

 
Apesar dos riscos, há quem procure procedimentos estéticos para aparecer melhor nas redes sociais – intenção revelada por 55% dos pacientes norte-americanos aos cirurgiões, segundo uma pesquisa realizada em 2017 pela Academia Americana de Cirurgia Facial, Plástica e Reconstrutiva.
 
Não há nada de errado em manter a boa aparência, procurar se vestir bem e cuidar do corpo, mas muita gente passa dos limites em nome da vaidade e por vontade de agradar aos outros e, mesmo que não perca a vida, acaba construindo uma imagem artificial de si mesma e perde sua própria essência. Também não há nada de errado com as cirurgias plásticas, às vezes elas são realmente necessárias. O erro reside na busca desenfreada por elas, quando feitas por gente incapacitada e se o paciente tem problemas de saúde preexistentes, entre outros.
 
Como lidar com a aparência de forma saudável? Se somos espírito, alma e corpo, é importante que haja equilíbrio. Por que alguns só conseguem dar atenção ao corpo, que é a parte material e passageira?
 
Insatisfação fabricada
O Bispo Renato Cardoso, no programa Entrelinhas, revelou como muitos caem nessa armadilha: “as indústrias da beleza e da moda precisam que você fique insatisfeito com a sua aparência para vender seus produtos e procedimentos. Elas trabalham nisso em novelas, filmes, revistas, em todo tipo de conteúdo para que você, olhando aquele ‘padrão’ de beleza, de moda, não fique satisfeito com como você é, o que o leva a gastar seu dinheiro mudando seu guarda-roupa, fazendo tratamentos e cirurgias. O comércio é necessário, mas às vezes as pessoas não sabem diferenciar entre necessidade e desejo, então se perdem nesse caminho e podem comprometer a própria vida.” No mesmo programa, o Bispo Adilson Silva complementou: “muitos nem se parecem mais com as fotos que têm em seus documentos. É uma busca sem fim, pois o verdadeiro problema não é resolvido”.
 
Todo cuidado é pouco
A lipoaspiração, como qualquer cirurgia. por menor que seja, apresenta riscos. É imprescindível analisar se há mesmo necessidade de passar por uma, com aval de médicos sérios e competentes, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).
 
Segundo divulgado em 2020 pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (Isaps, na sigla em inglês), em 2018 o Brasil registrou mais de 1 milhão de cirurgias plásticas e 969 mil procedimentos estéticos não cirúrgicos, o que fez do País o campeão mundial em procedimentos estéticos. É cerca de um décimo das cirurgias estéticas de todo o planeta no mesmo período. De acordo com a instituição, o Brasil também é o campeão de operações do tipo em jovens entre 13 e 18 anos – não por acaso os mais influenciados pela mídia –, com quase 100 mil ao ano.
 
E quantas pessoas morrem por lipos que dão errado? Os números são “abafados” pela indústria estética, segundo um levantamento feito pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que alega que os laudos são imprecisos quanto às causas de mortes após esse tipo de cirurgia, escondendo eventuais erros médicos, apesar de nem sempre eles serem a causa.
 
Ilusão do corpo perfeito
Outro fenômeno que invadiu a mídia também requer cuidado, segundo a especialista em educação física Fabiana Kadota Pereira, de São José dos Pinhais, no Paraná: “muitas pessoas acabam sendo presas fáceis para blogueiros e youtubers oportunistas que utilizam as redes socais para se autopromover ou vender produtos e serviços sem nenhuma comprovação ou fiscalização do Ministério da Saúde”, avalia.
 
Ela diz que não existe milagre quando se busca uma transformação no corpo. “Toda mudança vem de esforço e dedicação e passa por uma transformação no estilo de vida, associando alimentação balanceada, exercício físico e cuidados com os transtornos psíquicos.”
 
Fabiana dá um conselho: “fique atento e desconfie de notícias e propagandas de produtos que usam fotos e depoimentos de pessoas que aparentemente passaram por transformações impressionantes, com resultados rápidos e supostamente eficientes”.
 
Valorize o seu interior
Antes de buscar mudanças externas, avalie o seu interior. Afinal, a verdadeira transformação de vida começa dentro de nós. Isso não significa que você não possa cuidar da sua aparência. Entretanto, é importante fortalecer a autoestima para poder usar a razão e tomar decisões conscientes, sem colocar sua vida em risco.


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