04/03/2019 às 21h44min - Atualizada em 04/03/2019 às 21h44min

Violência e falta d'água elevam o risco de zika, dengue e chicungunha

Agentes de saúde não conseguem combater infestações de Aedes em áreas controladas pelo crime; falta de saneamento e de abastecimento de água geram criadouros do mosquito

O Globo Ana Lucia Azevedo
Garotos improvisam uma piscina em rua de São Cristóvão; recipientes que armazenam água se tornam focos potenciais de mosquitos Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo

RIO - Dengue, zika e chicungunha são um problema nacional. Mas o Rio de Janeiro sofre com fatores de risco extras associados à violência, à coleta de lixo irregular e às constantes interrupções no fornecimento de água que infernizam o verão.

Como os vírus estão em circulação e não faltam mosquitos, os três fatores aumentam a vulnerabilidade do Grande Rio, afirma Rivaldo Venâncio, coordenador de Vigilância e Laboratórios de Referência da Fiocruz.
 

— A violência impede que agentes de saúde entrem em muitas comunidades controladas pelo tráfico ou pelas milícias. Isso faz com que o índice de infestação, o Lira, não reflita a realidade, pois não se sabe qual é o percentual em comunidades com risco de focos — explica Venâncio.

As casas de teto somente na laje, a falta de saneamento e o abastecimento de água precário produzem infinitas possibilidades de criadouros para oAedes nas comunidades. Já a interrupção de fornecimento de água, ainda que temporária, faz com que as pessoas armazenem do jeito que podem. Mesmo que tapados à noite, os recipientes improvisados se tornam focos em potencial durante o dia, quando abertos e em uso.
 

Denise Valle, pesquisadora do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus da Fiocruz, salienta que a falta de água pode ser pior do que a chuva para multiplicar a população de Aedes .

— O Aedes está sempre junto do homem. Se adaptou a viver dentro das casas, é doméstico. Por isso, os reservatórios improvisados devido à falta d'água são focos em potencial. E não adianta jogar a água fora, os ovos se grudam no fundo — alerta.

Venâncio acrescenta que o lixo não precisa ficar acumulado em grande quantidade para trazer problemas. Tampinhas de garrafas pet e copos descartáveis podem se tornar focos.
 

O professor da UFRJ Pedro Lagerblad de Oliveira, que investiga a bioquímica do Aedes, observa que não existe uma solução única para combater o mosquito. Ele diz que a bactéria Wolbachia, letal para o inseto, e os mosquitos transgênicos são estratégias que podem ajudar, mas não vão resolver.

— Claro que é preciso ter saneamento, melhores condições de habitação. E também mobilização popular, um constante trabalho de eliminação dos focos em casa. Não existe uma bala de prata. É um trabalho amplo e contínuo. Mas nada é mais caro do que continuar a deixar os vírus se espalharem. É inviável para o sistema de saúde — destaca.


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