03/03/2019 às 20h32min - Atualizada em 03/03/2019 às 20h32min

Em bunker na Câmara, Aécio troca pão de queijo por ar-condicionado

Ex-senador assume posto de deputado com poucos amigos e silêncio

O Globo Natália Portinari
No subsolo. Desgastado, Aécio pediu um gabinete sob o plenário da Câmara, que nem mesmo tem janelas Foto: Daniel Marenco/O GLOBO
ex-senador Aécio Neves (PSDB-MG) como deputado federal começou com o máximo de discrição para um político que liderou o PSDB por quatro anos e chegou perto de presidir o Brasil até ser arrebatado por denúncias e gravações na Lava-Jato . Nas palavras de um deputado aliado, ele hoje está “comendo pelas beiradas, como um bom mineiro”. Aécio ainda não fez discurso na tribuna.

De dez dias com sessões, marcou presença em sete, mas não passou muito tempo confraternizando no plenário. Sai no meio das sessões e das reuniões do PSDB para se recolher em seu gabinete. Seus aliados mais próximos se restringem a três dos quatro mineiros da bancada: Domingos Sávio (presidente estadual da sigla), Paulo Abi Ackel e Rodrigo de Castro.

Aécio quis e conseguiu um espaço dos mais reservados da Casa, no subsolo do plenário. O gabinete tem pé direito baixo e nenhuma janela. Para evitar o abafamento, retirou a cozinha que existia no gabinete e instalou um ar-condicionado potente. Tal mudança implicou o sepultamento de um velho hábito: eram notórias as fornadas de pães de queijo que saíam quentinhos de seu gabinete no Senado e da presidência do PSDB na mesma casa.

Não tem falado sobre articulação política, ao menos não em público. Nos bastidores, contudo, atuou em favor de Renan Calheiros (MDB-AL) na disputa pela presidência do Senado, afirmando a aliados que o senador alagoano teria o voto do tucano mineiro Antonio Anastasia, o que não se concretizou.

 

Sobre a reforma da Previdência, disse à bancada que o Benefício de Prestação Continuada, um dos alvos da equipe econômica do governo, foi uma das grandes conquistas sociais do governo de Fernando Henrique Cardoso, aprofundada na era Lula, e não é algo de que se pode abrir mão.
 

Aécio, contudo, não dá sinais de que vá se contentar com seu esconderijo sem janelas por quatro anos. Quer integrar a Comissão das Relações Exteriores como titular e a Comissão de Constituição e Justiça como suplente. Antes do carnaval, protocolou seis projetos de lei voltados à assistência social, transparência e melhoria do sistema público de saúde. Um deles permite deduzir do imposto de renda doações feitas a abrigos para crianças e adolescentes. Outro dispõe sobre cuidados específicos que o sistema de saúde deve ter com crianças prematuras. Um terceiro prevê que a administração pública divulgue um detalhamento dos gastos com publicidade.

Mas, para ganhar espaço, terá de vencer uma ala do partido que o vê com desconfiança — em especial, setores do tucanato cada vez mais próximos do governo Bolsonaro. Nas reuniões da bancada, tucanos estreantes, à la João Doria, têm feito discursos pregando uma aplicação mais firme de princípios éticos e lisura no partido. Nas palavras de um tucano mais experiente, “tem gente que fica falando de corda em casa de enforcado”, ou seja, dando discursos sobre moralidade enquanto Aécio se mantém discreto. O ex-senador é investigado em nove inquéritos e réu em uma ação criminal por corrupção.


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