03/02/2019 às 21h35min - Atualizada em 03/02/2019 às 21h35min

Apple dá as cartas em disputa de titãs da tecnologia

Google e Facebook sofrem com exclusão de programa para desenvolvedores

O Globo Sérgio Matsuura
A Apple controla quais aplicativos serão oferecidos para 1,4 bilhão de dispositivos da marca Foto: REGIS DUVIGNAU / REUTERS
RIO — O que era para ser mais uma denúncia de como o Facebook trata a privacidade dos internautas se transformou numa disputa entre três das maiores empresas de tecnologia, e a Apple mostrou quem está na banca. Na noite de terça-feira, o site TechCrunch revelou que a rede social oferecia pagamentos mensais de até US$ 20 para quem instalasse um aplicativo que permitia a coleta de dados de iPhones. A Google, com o Screenwise Meter, fazia o mesmo. Acontece que as duas gigantes faziam uso indevido de um programa para desenvolvedores corporativos para burlar o crivo da App Store e distribuir os aplicativos diretamente aos usuários. Como punição, a Apple suspendeu as duas rivais do programa.
A suspensão não durou muito, mas demonstrou o poder da Apple na indústria de tecnologia. Google e Facebook têm seus negócios baseados na venda de anúncios on-line, não disputam diretamente com a gigante de Cupertino no mercado de smartphones e outros gadgets. Mas estão interessadas nos donos — e em suas informações pessoais — dos 1,4 bilhão de smartphones, tables, computadores e outros produtos Apple ativos no mundo. Quanto mais dados, mais direcionada e eficaz é a publicidade.

Para coletar essas informações, as duas violaram regras do programa para desenvolvedores corporativos da Apple. Ele permite que empresas criem aplicativos para seus funcionários, seja com serviços exclusivos ou versões de teste e atualizações de produtos para o mercado. Google e Facebook aproveitaram este privilégio, de não precisar passar pela avaliação da loja da Apple, para instalar aplicativos que coletavam dados de uso e navegação diretamente nos smartphones de consumidores.

Em comunicados, as duas se desculparam e se prontificaram a desabilitar os apps, mas não foi suficiente. A exclusão do programa, aparentemente uma questão trivial, se mostrou devastadora nos escritórios da Google e do Facebook. Funcionários da rede social relataram, por exemplo, que não conseguiam acessar seus calendários, checar os horários dos ônibus internos, nem mesmo ver o cardápio do almoço nos restaurantes do campus de Menlo Park.
 

No trabalho, os aplicativos Workplace e Work Chat, usados internamente para a comunicação entre as equipes, parou de funcionar. Em comunicado interno divulgado pelo site Business Insider, o vice-presidente de engenharia de produção e segurança do Facebook, Pedro Canahuati, cita ainda versões para funcionários do Facebook, do Instagram e do Messenger.

“Nossa relação com a Apple é realmente importante — muitos de nós usamos produtos Apple no trabalho todos os dias, e nós confiamos no iOS em muitos aplicativos para nossos funcionários, então não poderíamos colocar esta relação em risco intencionalmente”, afirmou o executivo.

Em Mountain View, os funcionários com iPhone também não podiam pegar os ônibus internos nem checar os cardápios das cafeterias. Fontes informaram ao “New York Times” que atualizações em teste de produtos como Gmail e Google Maps pararam de funcionar.

Na quinta-feira, acordos foram fechados e Google e Facebook retornaram ao programa de desenvolvedores corporativos, mas o episódio mostra onde está o poder no Vale do Silício. O Facebook é a maior rede social do mundo e possui os mais populares aplicativos de fotografia e de troca de mensagens; a Google reina entre as ferramentas de busca e oferece serviços como Gmail, Maps e YouTube. Mas é a Apple quem controla a distribuição desses aplicativos para uma base de 1,4 bilhão de dispositivos.


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