Uma manobra arriscada e que, muitas vezes, pode acabar em um grave acidente. Normalmente utilizado por motoristas para ganhar tempo no trânsito, as conversões proibidas, também conhecidas como “roubadinhas”, são um fato comum em Salvador, mas que não tem passado despercebido pelos órgãos de fiscalização.
De acordo com a Superintendência de Trânsito do Salvador (Transalvador), somente em 2018 foram emitidas 3.586 notificações contra 5.869 no ano anterior por conta da manobra – uma queda de 39%. A maior parte delas, 2.608 registros (aproximadamente 73%), foi a de motoristas que, conforme o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), em 2018, executaram a operação conversão à esquerda em local proibido pela sinalização.
Também no ano passado, outra infração bastante realizada foi a de “executar operação de retorno em locais proibidos pela sinalização”, com 504 registros. Em seguida, com 126 casos cada, aparecem “executar retorno nas interseções, entrando na contramão da via transversal” e “executar operação de conversão à direita em local proibido pela sinalização”.
Todas estas ações citadas estão previstas nos artigos 206 e 207 do CTB. Enquanto a primeira e a última situações elencadas são consideradas infrações de natureza grave (cinco pontos na Carteira de Habilitação e R$ 195,23 de multa), as demais relatadas são infrações gravíssimas, com multa no valor de R$ 293,47 e perda de sete pontos.
Certos pontos da cidade já são bem conhecidos no que se refere ao ato em si. Na região da Federação, dois locais se destacam. O primeiro deles é a Avenida Cardeal da Silva, sentido Centro, próximo a Rua Caetano Moura – da mesma forma ocorre no sentido inverso, em direção ao Rio Vermelho –, onde é comum os motoristas, ao tentar acessar a Rua Ferreira Santos ou a Avenida Anita Garibaldi, realizarem a manobra arriscada.
Alguns metros à frente, próximo ao Hospital Santo Amaro, na Ladeira do Campo Santo, também não difícil encontrar “espertinhos” tentando ganhar tempo fazendo a conversão para acessar a Rua Arlindo de Assis e chegar a Avenida Centenário, sentido Lapa e Avenida Garibaldi. No local há uma placa de trânsito indicando a proibição. O detalhe é que o retorno correto está a cerca de 150 metros adiante, na Rua Beirute, e que dá acesso à mesma avenida, mas no sentido Barra.
Também é possível conferir motoristas fazendo a “roubadinha” em outros locais como a própria Avenida Centenário, depois do Instituto Médico Legal (IML), e no cruzamento das Avenidas Garibaldi e Lucaia. Na Rua dos Tupys, no bairro de Brotas, alguns motoristas, para acessar a Rua dos Bandeirantes, sentido Sete Portas, fazem uma conversão proibida à esquerda, mesmo com uma placa indicando o contrário.
De acordo com a Transalvador, a fiscalização para este tipo de infração é feita por agentes de trânsito, que devem flagrar a situação (presencialmente ou através de câmeras de monitoramento) para realizar a notificação. Para dar suporte a esse trabalho, existem 300 câmeras de videomonitoramento espalhadas pela cidade.
Mobilização
Para mudar essa realidade, o especialista em trânsito, Elmo Felzemburg, aponta que é preciso uma maior mobilização por parte da sociedade como um todo, além de investimentos em educação. “Isso é reflexo dos baixos investimentos em educação, além da própria educação doméstica. É preciso esclarecer à população, fazer com que se entenda que é um ato inadequado. A ‘roubadinha’, além de acidentes, causa transtornos e restrição de circulação de veículos. A mobilização precisa ocorrer, da mesma forma como aconteceu com o cinto de segurança e ser contínua”, afirmou.
Mas, enquanto isso não acontece, ele defende que àqueles que realizam a manobra para tentar ganhar tempo, sejam penalizados de acordo com a lei, seja através dos agentes de trânsito, ou através de radares e câmeras. “Os radares reduziram metade do número de mortes no trânsito. É uma maneira eficaz de punir”, comentou. Por outro lado, Felzemburg pontuou que, antes da punição, seja feita a instrução aos motoristas.
“Acho uma questão de falta de educação doméstica, O que muitas pessoas praticam em casa acabam fazendo o mesmo na rua. A pressa e o estresse diário não podem servir como desculpa”, disse o motorista, Rafael Dias. Já o administrador, Vitor dos Reis, apontou que é a “roubadinha” é uma atitude comum na cidade, mas que a maior parte dos motoristas não admite. “Isso é errado e pode causar acidente”, salientou.