A proposta de Abe é que a Organização Mundial do Comércio crie regras para regular o comércio de dados, assim como acontece com bens e serviços. Sua posição foi acompanhada pelo presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, que se comprometeu a colocar o tema na agenda do próximo encontro de líderes da União Africana, que acontece mês que vem em Addis Ababa, na Etiópia.
— Quando se trata de tecnologia, eu apoio um órgão de supervisão que ajuste padrões — afirmou Ramaphosa, em entrevista.
A chanceler alemã, Angela Merkel, defendeu em seu discurso a criação de um “mercado comum digital” na União Europeia. Segundo ela, a supervisão internacional sobre o uso de dados é necessária para lidar com o poderoso lobby da indústria de tecnologia. Logo em seguida, Wang Qishan, vice-presidente da China, citou a necessidade de coordenação internacional na supervisão do setor de tecnologia, mas não mencionou a questão da privacidade.
Contudo, numa aparente referência à vigilância imposta pelo governo chinês com o uso de ferramentas tecnológicas, Wang defendeu que cada país tenha liberdade para definir algumas políticas internas.
— Precisamos respeitar as escolhas independentes do modelo de gerenciamento da tecnologia e de políticas públicas dos países, e seu direito a participar no sistema global de governança tecnológica como iguais — afirmou Wang.
As posições dos quatro líderes não se parecem com um esforço coordenado, pois não apresentaram uma proposta uniforme, apenas citaram a necessidade de regulação. Não há consenso sobre como seria a arquitetura desse órgão de supervisão, tampouco sobre quais setores da indústria de tecnologia devem ser incluídos.
Os EUA são fortes defensores dos gigantes do Vale do Silício, defendendo alguns padrões internacionais para a privacidade dos dados, mas com a imposição de poucas restrições ao uso dessas informações. Já o bloco europeu tem a tradição de defender a privacidade, inclusive com a adoção do GDPR (Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados, na sigla em inglês). A China não aceita qualquer limite para a coleta de dados pessoais pelo governo.
Para Merkel, o avanço acelerado da tecnologia trará consequências ao futuro do trabalho e da segurança de dados, que exigem maior cooperação internacional. Entretanto, ressalta a chanceler, ninguém sabe como escrever essas regras.
— Eu ainda não vi uma arquitetura global que lide com essas questões — afirmou.
O primeiro-ministro japonês prega velocidade no avanço do debate sobre a governança de dados, mas apresentou apenas uma indicação vaga sobre como a arquitetura pode parecer.
— Nós devemos, em uma mão, ser capazes de colocar nossos dados pessoais e nossa propriedade intelectual, nossa inteligência de segurança nacional e assim por diante, sob proteção cuidado, enquanto na outra mão, devemos garantir o fluxo livre de dados anônimos, não pessoais, para uso médico, industrial, de tráfego, entre outros, sem fronteiras. Repito, sem fronteiras.