27/01/2019 às 16h31min - Atualizada em 27/01/2019 às 16h31min

Zuckerberg planeja integrar WhatsApp, Instagram e Facebook Messenger

Ideia é compartilhar a infraestrutura de mensagens, permitindo comunicação entre os aplicativos

Do New York Times
O diretor executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, planeja a integração da infraestrutura de mensagens dos aplicativos Instagram, WhatsApp e Facebook Messenger Foto: Josh Edelson / AFP
SÃO FRANCISCO, Califórnia — O diretor executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, planeja integrar as plataformas de mensagens mantidas pela companhia — WhatsApp, Instagram e Facebook Messenger —, reafirmando seu controle sobre os diferentes negócios da companhia, num momento em que é bombardeado por escândalos. O plano foi descrito por quatro fontes envolvidas nas discussões ao jornal americano “New York Times”. A ideia, contaram, é manter os aplicativos operando de forma independente, mas com a infraestrutura de mensagens unificada.
O esforço envolve milhares de funcionários da companhia, que precisarão reconfigurar como o WhatsApp, o Instagram e o Facebook Messenger funcionam. Os trabalhos ainda estão no início e devem ser concluídos no fim do ano ou no início de 2020. Zuckerberg também ordenou que todos os aplicativos incorporem a criptografia de ponta a ponta, o que limita o acesso ao conteúdo das mensagens apenas ao emissor e ao receptor.

Com a mudança, um usuário do Facebook poderá, por exmeplo, enviar uma mensagem crptografada a um usuário do WhatsApp. Hoje, isso não é possível porque os aplicativos operam em sistemas separados. O objetivo é aumentar a utilidade da rede social, mantendo seus bilhões de usuários ainda mais engajados com o ecossistema. Segundo as fontes, a ideia é tentar manter os usuários fora de aplicativos de rivais, como Apple e Google, pois, se os usuários interagirem de forma mais frequente por aplicativos do Facebook, vão gerar mais receitas com publicidade.

Em comunicado, o Facebook informou que deseja “construir as melhores experiências em trocas de mensagem; e as pessoas querem que as trocas de mensagens sejam rápidas, simples, confiáveis e privadas”, acrescentando que a companhia está “trabalhando para melhorar nossos produtos criptografados de ponta a ponta e considerando maneiras de tornar mais fácil o alcance entre amigos e famílias através das redes”.
 

A decisão de Zuckerberg de assumir mais controle sobre os diferentes negócios do Facebook vem depois de dois anos de forte escrutínio sobre a rede social, que tem sido criticada por permitir interferência eleitoral e a disseminação da desinformação. Essas e outras questões desaceleraram o crescimento do Facebook e prejudicaram sua reputação, aumentando a ira dos legisladores e reguladores em todo o mundo. Zuckerberg repetidamente pediu desculpas e prometeu corrigir os problemas.

Ao reunir as plataformas de mensagem, Zuckerberg abandona a política de manter o WhatsApp e o Instagram como negócios independentes dentro do conglomerado. Na época em que os aplicativos foram adquiridos, o executivo prometeu ao WhatsApp e ao Instagram autonomia plena para operarem. Segundo uma das fontes, desde a aquisição os dois negócios cresceram muito, levando à mudança de postura de Zuckerberg. Agora, o diretor executivo acredita que a integração irá beneficiar toda a “família de aplicativos” do Facebook no longo prazo. Ele pensou sobre a ideia durante meses e começou a promovê-la mais fortemente entre seus funcionários a partir do fim do ano passado, disseram as fontes.

Saída dos fundadores dos aplicativos

Mas a mudança da postura acarretou perdas importantes para a companhia. Os cofundadores do Instagram, Kevin Systrom e o brasileiro Mike Krieger, deixaram o Facebook de forma abrupta, o mesmo aconteceu com os cofundadores do WhatsApp, Jan Koum e Brian Acton. Recentemente, dezenas de funcionários do WhatsApp confrontaram Zuckerberg sobre os planos de integração em mensagens internas e durante uma reunião em dezembro.
 

Zuckerberg alega que a integração trará benefícios, mas para os usuários, o movimento levanta ainda mais questionamentos sobre a privacidade e a forma como os dados serão compartilhados entre os serviços. Hoje, o WhatsApp exige apenas um número de telefone para o registro na plataforma, enquanto o Facebook exige a apresentação da identidade real. Com o compartilhamento, essas informações terão que ser cruzadas. Juntar os dados de usuários do Facebook e do Instagram a seu WhatsApp fará muitos refletirem se não preferem que cada aplicativo use seus dados de forma compartimentalizada.

“Como esperado, existem muitas discussões e debates no momento em que começamos o longo processo de definir detalhes de como isso vai funcionar”, informou o Facebook no comunicado.

Oportunidades de negócio

Em muitos países, as pessoas geralmente dependem de apenas um ou dois serviços de mensagens de texto. Na China, o WeChat, que é fabricado pela Tencent, é popular, enquanto o WhatsApp é muito usado na América do Sul. Mas os americanos estão fragmentados em vários serviços, como o iMessage, o SMS da Apple e vários aplicativos de bate-papo do Google.

Para o Facebook, a mudança fornece melhores perspectivas de faturamento com o Instagram e o WhatsApp, que ainda geram poucas receitas, mesmo com um número enorme de usuários. O Instagram tem 1 bilhão de usuários, e o WhatsApp, 1,5 bilhão. Entretanto, disseram as fontes, Zuckerberg ainda não tem planos específicos em como lucrar com a integração dos serviços. Mas uma audiência mais engajada abre oportunidades para novos modelos de publicidade ou serviços.
 

Uma oportunidade de negócio envolve o comportamento em torno do Facebook Marketplace, um produto gratuito semelhante ao Craigslist, onde as pessoas podem comprar e vender produtos na rede social. O serviço se tornou popular no Sudeste da Ásia e em outros mercados fora dos Estados Unidos.

Quando os aplicativos forem reunidos, os compradores e vendedores do Facebook Marketplace no Sudeste Asiático poderão entrar em contato e se comunicar entre si usando o WhatsApp — que é popular lá — em vez de usar o Facebook Messenger ou outro serviço de mensagens de texto. Isso poderia levar a novas oportunidades de anúncios ou serviços com fins lucrativos, disse uma das fontes.

Funcionários confusos

Dentro do Facebook, alguns funcionários disseram que estavam confusos sobre o motivo da decisão de Zuckerberg. Alguns classificaram a atitude como chocante, por causa de suas promessas passadas sobre a independência dos apps. Quando o Facebook adquiriu o WhatsApp por US $ 19 bilhões em 2014, Jan Koum falou publicamente sobre a privacidade do usuário e disse: "Se a parceria com o Facebook significasse que precisávamos mudar nossos valores, não teríamos feito isso".

No início do mês passado, durante uma das reuniões mensais do WhatsApp na terça-feira, ficou claro que a decisão de Zuckerberg seria uma prioridade em 2019, de acordo com uma pessoa a par do assunto. Um funcionário do WhatsApp fez uma análise do número de novos usuários em potencial nos Estados Unidos que o plano de integração poderia trazer para o Facebook. A quantidade foi relativamente pequena, mostrou a análise.
 

Para amenizar os temores, Zuckerberg convocou uma reunião de acompanhamento com os funcionários do WhatsApp no final da semana, disseram três pessoas. Em 7 de dezembro, os funcionários se reuniram em torno de microfones nos escritórios do WhatsApp para perguntar a Zuckerberg por que ele estava tão envolvido na fusão dos serviços. Alguns disseram que suas respostas foram vagas e sinuosas. Vários funcionários do WhatsApp saíram ou planejam sair da empresa por causa dos planos de Zuckerberg, disseram as fontes.

Unificar a infraestrutura de WhatsApp, Instagram e Facebook Messenger é tecnicamente desafiador. Ao contrário do Facebook Messenger e do Instagram, o WhatsApp não armazena mensagens e mantém dados mínimos do usuário. E é o único dos três serviços que atualmente usa criptografia de ponta a ponta por padrão.

As mensagens criptografadas há muito tempo são apoiadas por defensores da privacidade que temem que governos ou hackers possam interferir nelas. Mas a criptografia vai levantar outras questões para o Facebook, particularmente quanto à capacidade da empresa de detectar e conter a disseminação de atividades ilícitas ou desinformação.

O WhatsApp recentemente impôs limites a quantas vezes uma mensagem pode ser encaminhada, numa tentativa de reduzir a distribuição de conteúdo falso.

 


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