05/11/2018 às 21h10min - Atualizada em 05/11/2018 às 21h10min

Voto em 36 estados pode apontar futuro dos EUA

Eleições que definirão governadores, congressistas e senadores serão indicadores de tendências para 2020

O Globo Henrique Gomes Batista, correspondente
Candidata ao governo da Geórgia, Stacy Abrams, ao lado do ex-presidente Barack Obama Foto: Jessica McGowan / AFP
WASHINGTON — A eleição para governador em 36 estados americanos nesta segunda-feira deverá ter uma influência nacional maior do que a dos últimos pleitos. Além de sinalizar quem poderá estar na próxima disputa pela Casa Branca, os eleitos terão o poder de redesenhar o mapa dos distritos eleitorais, algo fundamental não apenas para a definição dos deputados, mas do próprio Colégio Eleitoral que escolhe o presidente.

Nos EUA, cada uma das 435 cadeiras do Congresso corresponde a um distrito eleitoral. Vence o candidato que tiver a maioria simples dos votos em cada distrito. Com o sistema de apenas dois partidos e preferências ideológicas fortes em determinados grupos populacionais, o mapa eleitoral é tão determinante, em alguns casos, quanto as propostas dos candidatos.

De acordo com as pesquisas, os democratas devem ganhar espaço. Na mais recente, encomendada pelo “Washington Post” e a rede ABC, 50% dos eleitores dizem que votarão nos democratas, contra 43% que preferem os republicanos.

MAIS PESO PARA A FLÓRIDA

As pesquisas apontam que, assim como ocorre na renovação das 435 cadeiras de deputados e das 35 em disputa no Senado, a tendência é favorável à oposição. Hoje o Partido Democrata tem 16 governadores, enquanto os republicanos controlam 33 estados e há um independente. Analistas acreditam que os democratas podem eleger os governadores de 24 estados.
A possibilidade de revisão dos distritos tem a ver com o censo populacional. Se o de 2020 apontar as mudanças demográficas que se espera, nove estados (entre eles Nova York, Pensilvânia, Michigan e Illinois) perderão espaço na Câmara dos Representantes enquanto seis tendem a aumentar o peso no Congresso e no Colégio Eleitoral, entre eles Flórida, Texas, Colorado, Carolina do Norte e Arizona. E mesmo onde o número de representantes permanecer igual, há possibilidade de mudanças internas de população, o que poderá gerar redesenhos de mapas eleitorais em 29 dos 50 estados.
 

— Parece que vários governos estaduais podem de fato ficar azuis (cor do Partido Democrata). Isso será muito significativo, pois será um bom presságio para os democratas na próxima eleição presidencial — disse John Zogby, fundador da Zogby Analytics.

Candidato democrata ao governo da Flórida, Andrew Gillum, em marcha ao lado do Reverendo Al Sharpton Foto: SHANNON STAPLETON / REUTERS

Candidato democrata ao governo da Flórida, Andrew Gillum, em marcha ao lado do Reverendo Al Sharpton Foto: SHANNON STAPLETON / REUTERS

Candidato democrata ao governo da Flórida, Andrew Gillum, em marcha ao lado do Reverendo Al Sharpton Foto: SHANNON STAPLETON / REUTERS

Tanto no caso de mudança no número de representantes quanto no da redivisão de distritos, os governadores eleitos terão papel fundamental, pois caberá a eles liderar o processo. Principalmente se contarem com parlamentos estaduais alinhados. Onde há hoje, por exemplo, dois distritos vizinhos, um de maioria republicana e outro, democrata, um governador democrata pode, ao redesenhar os distritos, dividir a área da população majoritariamente republicana entre dois novos distritos, pulverizando sua concentração.

— Os governadores poderão mudar os desenhos dos distritos, e isso terá consequências (na próxima disputa para a Casa Branca). O controle de grandes estados é importante para um partido ganhar poder nacionalmente — afirmou Clifford Young, diretor para os EUA do instituto de pesquisas Ipsos.

CANDIDATOS NEGROS

Em dois estados, esta eleição é emblemática: na Geórgia e na Flórida. Ambos os estados atualmente são governados por republicanos, ferrenhos defensores do governo Trump, mas podem passar ao comando dos democratas. E fazer história.

A democrata Stacey Abrams pode ser a primeira governadora negra da história americana, se vencer o republicano Brian Kemp na Geórgia. As pesquisas apontam um empate. Lá o que fará a diferença é a participação dos eleitores (nos EUA, o voto é facultativo). Estado de elevada população negra e com uma crescente de latinos, a Geórgia é alvo também de denúncias de que o atual governo fechou seções eleitorais para dificultar a votação na candidata democrata.

A Flórida é ainda mais importante. Além do fato de o estado poder ganhar mais deputados após 2020, chegando a 29, atrás apenas da Califórnia e do Texas e deixando para trás Nova York, a disputa poderá ter peso na definição dos candidatos na próxima eleição para a Presidência. O republicano Ron deSantis é um dos políticos mais próximos a Trump, mas ele tem aparecido nas pesquisas atrás do democrata Andrew Gillum, que se tornaria o primeiro negro a governar a Flórida. Gillum representa a ala mais esquerda do partido, alinhada a Bernie Sanders, e pode chegar ao poder com um discurso mais radical. No restante do país, democratas optaram por candidatos mais moderados.

O próprio Donald Trump nacionalizou a disputa. Depois de criticar Gillum em tuítes, afirmando que ele é prefeito de “uma das cidades mais pobres e corruptas do país” (Tallahasse), disse nos comícios deste fim de semana frases que muitos consideram ser preconceito racial:

— Andrew Gillum não está preparado para ser seu governador. Isso não é para ele, não é para ele — afirmou o presidente num comício em Pensacola.

 


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