24/02/2020 às 16h36min - Atualizada em 24/02/2020 às 16h36min

Escrito por Nelson Motta, livro '101 Canções Que Tocaram o Brasil' vira série

Ab Noticia News
Estadão Conteúdo 24/02/20
Reprodução
Por Renato Vieira
Nelson Motta diz não saber como não pensou antes em transportar o livro 101 Canções Que Tocaram o Brasil para uma série de televisão. O conceito tinha possibilidades demais para ficar apenas no papel.

O empresário dele, Diogo Gonçalves, e Roberto de Oliveira - amigo de Nelson há anos, diretor de clássicos especiais com Elis Regina e Chico Buarque - tiveram a ideia de levá-lo para a tela, evidentemente com apresentação do jornalista, compositor e escritor, multimídia por excelência desde o início da carreira.

Nesta segunda, 24, às 23h30 (Brasília), o canal Curta! exibe o primeiro de 13 episódios da série baseada no livro. Ao lado do sobrinho Pedro Motta Gueiros, Nelson escreveu os roteiros usando "a experiência e a intuição". Além do texto em si, a canção retratada precisava combinar com o material de arquivo utilizado. "Quando você lê uma coisa sobre música, a vontade é ouvir. Achei que na TV ia ganhar muito com imagens de época e várias versões da música", conta Nelson.

Ao ser convidado por Eduardo Bueno, o Peninha, para fazer 101 Canções Que Tocaram o Brasil, que saiu em 2016 pelo selo Estação Brasil, da Sextante, ele descartou fazer algo na linha "101 melhores canções" ou "101 canções mais importantes". Tomando como base que as canções representam momentos da sociedade e da História, optou por 101 canções que tocaram o Brasil. Fosse no rádio, na televisão e, mais especialmente, na sensibilidade da população de um país extremamente musical.

O primeiro episódio de 101 Canções Que Tocaram o Brasil começa com a recordação de Ó Abre Alas, clássico de Chiquinha Gonzaga datado de 1899. Nelson destaca o papel da compositora à frente do tempo, conta a história da música que permanece como um dos grandes momentos da folia e mostra uma releitura em ritmo de funk com MC Leozinho. "Pela sua concisão e permanência, os versos de Ó Abre Alas são provavelmente os mais repetidos da música brasileira", explica Nelson na série.

O samba ainda é lembrado neste primeiro episódio por meio de Pelo Telefone, música de Donga e Mauro de Almeida considerada o primeiro samba gravado em disco, Feitiço da Vila, composta por Noel Rosa e Vadico, e Adeus Batucada, sucesso de Carmen Miranda escrito por Synval Silva, um mecânico que trabalhava como motorista da Pequena Notável.

No mesmo capítulo, Nelson também discute como uma determinada música pode ser recebida através dos tempos. É o caso da marchinha O Teu Cabelo Não Nega. Versos como "O teu cabelo não nega, mulata/ Porque és mulata na cor/ Mas como a cor não pega, mulata/ Mulata, eu quero o teu amor" causam controvérsia ultimamente, além da própria palavra "mulata".

Composta no fim dos anos 1920 pelos irmãos Valença, do Recife, foi adaptada para o carnaval carioca por Lamartine Babo, que assumiu a autoria sozinho. Os irmãos entraram na Justiça para também serem creditados, e conseguiram.

Nelson defende os compositores das reações contrárias a O Teu Cabelo Não Nega. "Fui buscar algumas contradições de quem vê racismo na música. O cara está falando que quer a mulata, ele quer o seu amor. Quem vai ofender a quem ama, a quem quer? Como vai fazer exaltação de algo que se despreza? Os irmãos Valença eram dois mulatos pernambucanos. O 'como a cor não pega' pode até ser uma piada de mau gosto, mas o cara precisava achar uma rima pra 'o teu cabelo não nega'. Outras músicas hoje não têm mais condição, são ofensivas e pejorativas", afirma Nelson.

O segundo episódio retrata o samba-canção, celebrando os compositores Ary Barroso, Assis Valente, Dorival Caymmi e Alberto de Castro Simões da Silva, o Bororó.

Nelson joga luz sobre este personagem pouco lembrado, que era sobrinho da Marquesa de Santos. Da Cor do Pecado, lançada por Silvio Caldas, é sua principal obra, que aparece na série em um videoclipe de Ney Matogrosso feito na época em que o cantor estava em cartaz com o provocativo show Bandido (1976).

Diante de uma produção tão boa e vasta, Nelson conta que foi difícil fechar a seleção em 101 canções - o livro original conta com um complemento incluindo algumas que ficaram de fora, mas poderiam perfeitamente ter sido incluídas entre as 101 marcantes A escolha de músicas do período da bossa nova, entre o fim dos anos 1950 e início dos anos 1960, foi bastante complicada.

Nascido em São Paulo, mas morador do Rio desde a infância, Nelson viu o estilo nascer e tem em João Gilberto um grande ídolo, assim como muitos de seus contemporâneos. "A bossa nova tocou muito o Brasil e também a crítica. Eu considero tudo que João Gilberto gravou clássico", afirma.

No quarto episódio, intitulado A Batida Diferente, Nelson fala sobre os bastidores de Chega de Saudade, música de Tom Jobim e Vinicius de Moraes que é considerada o pontapé inicial da bossa nova.

Ele lembra que a canção foi gravada inicialmente por Elizeth Cardoso para o álbum Canção do Amor Demais (1958), com o próprio João Gilberto ao violão.

Mas o arranjo não apontava para nenhuma revolução. Somente quando João fez seu registro, com uma batida de violão singular, a mágica se fez e a música brasileira nunca mais foi a mesma.

Nelson também fala da importância de Johnny Alf. Considerado por muitos um dos precursores da bossa nova, ele é autor de Ilusão à Toa. Alf foi referência para Jobim, João Donato e Carlos Lyra, que frequentavam as boates de Copacabana onde ele se apresentava

Adepto das plataformas digitais para ouvir música - "às vezes recebo um lançamento em vinil, toco de onda, mas tem muito tempo que não coloco um disco pra ouvir" -, Nelson avalia que o formato da canção está em um período de baixa, superada por hip-hop, funk e reggae. Mas diz que ela não vai acabar nunca. "Não tenho grandes preocupações, Caetano, Gil, Chico Buarque, Roberto Carlos, todos os grandes nomes continuam produzindo normalmente. Pode-se dizer que a música deles não faz mais sucesso como antes. Aí já é querer muito. O importante é estarem produzindo e estarem fazendo História."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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