05/11/2018 às 11h59min - Atualizada em 05/11/2018 às 11h59min

Novo sucesso com método que permite a pessoas paralisadas andarem

Experimento na Suíça usou estimulação elétrica da medula espinhal e fisioterapia para fazer com que pacientes com lesões na coluna pudessem se levantar e caminhar com mínimo de assistência

O Globo Cesar Baima
Sequência de imagens sobrepostas mostra David Mzee, 28 anos, um dos voluntários do experimento, se levantando e caminhando com a ajuda de um andador Foto: Divulgação

RIO – Cientistas suíços relatam nesta quarta-feira novo sucesso com método que permite a pessoas paralisadas há anos por lesões na coluna se levantarem e caminharem com mínimo de assistência. Assim como em experimentos independentes divulgados por dois grupos de pesquisadores americanos no fim de setembro , os suíços da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL) e do Hospital Universitário de Lausanne uniram estimulação elétrica direta da medula espinhal com técnicas de fisioterapia e reabilitação para que três pacientes antes paralisados por ferimentos nas vértebras cervicais (as mais “altas” da coluna, na altura do pescoço) agora possam caminhar com auxílio de muletas ou andadores para apoio e equilíbrio.
 

Mais que nos experimentos americanos, no entanto, os cientistas suíços afirmam no artigo publicado nesta tarde na prestigiada revista científica “Nature” que os benefícios que os pacientes obtiveram com sua versão do método – que usa uma estimulação mais “dirigida” em termos espaço-temporais - foram além de poderem se levantar e andar com os aparelhos ligados. Segundo eles, após alguns meses os participantes também recuperaram o controle voluntário de músculos antes paralisados, podendo se movimentar independentemente, ainda que de forma limitada, mesmo quando eles estavam desligados, numa indicação de reabilitação neurológica com a criação de novas conexões nervosas.
 

- Nossos achados se baseiam em um profundo entendimento dos mecanismos subjacentes (do método) que ganhamos ao longo de anos de pesquisas com modelos animais – lembra Grégoire Courtine, neurocientista da EPFL e um dos líderes do experimento. - Assim, fomos capazes de mimetizar em tempo real como o cérebro ativa naturalmente a medula espinhal. A localização e momento exatos da estimulação elétrica são cruciais para o paciente produzir o movimento pretendido. E também é esta coincidência espaço-temporal que desencadeia o crescimento de novas conexões nervosas.
Já Jocelyne Bloch, cirurgiã responsável pelo implante dos aparelhos na coluna lombar dos pacientes, destaca que em apenas uma semana todos eles já podiam andar usando seu peso corporal.
 

- Soube imediatamente que estávamos no caminho certo – comemora. - A estimulação dirigida tem que ser precisa como um relógio suíço. No nosso método, implantamos uma rede de eletrodos na medula espinhal que nos permite focar em grupos de músculos individuais nas pernas. Configurações selecionadas dos eletrodos então ativam regiões específicas da medula espinhal, imitando os sinais que o cérebro enviaria para que se ande.

Segundo os pesquisadores, o maior desafio dos pacientes foi aprender a coordenar a intenção de andar em seus cérebros com a estimulação elétrica direcionada. Em estudos prévios que usaram abordagens mais empíricas, como uma estimulação mais geral e contínua, algumas pessoas paralisadas de fato puderam dar alguns passos com ajuda de muletas ou andadores, mas só andaram por curtas distâncias e quando os aparelhos estavam ligados, voltando a ficar paraplégicos assim que eles eram desligados.

Mas com os novos protocolos de reabilitação baseados na estimulação direcionada e um sistema inteligente de suporte corporal, os pacientes suíços puderam treinar a capacidade de caminhar naturalmente por longos períodos de tempo. Assim, durante as sessões de reabilitação, os três foram capazes de caminhar sem se apoiarem com as mãos por mais de um quilômetro, não apresentando fadiga dos músculos da perna, que também ganharam massa.
 

Esse treinamento intenso teria ainda sido um estímulo fundamental para disparar a chamada “plasticidade atividade dependente”, a capacidade intrínseca do sistema nervoso de reorganizar suas vias nervosas diante de novas demandas, que levou às melhorias de sua função motora mesmo quando os aparelhos estão desligados.

- Todos três participantes do estudo foram capazes de andar com suporte de seu peso corporal em apenas uma semana de calibragem, e o controle voluntário dos músculos melhorou imensamente com cinco meses de treinamento – conclui Courtine. - E o sistema nervoso humano respondeu muito mais profundamente ao tratamento do que esperávamos.

Paraplégico desde 2011, quando sofreu um acidente de trânsito enquanto pedalava de volta para casa do trabalho quando morava na China, o holandes Gert-Jan Oskam, um dos voluntários do experimento, lembra que os médicos disseram que ele “nunca mais voltaria a andar”.

- Mas agora posso andar pequenas distâncias com ajuda de muletas e da estimulação elétrica, e mesmo sem a estimulação elétrica – comemora. - Minha força muscular melhorou substancialmente e num futuro próximo espero poder fazer um churrasco ficando de pé por mim mesmo.

Confira no vídeo abaixo um dos pacientes andando recentemente à beira de um lago em Lausanne:
 

 


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