23/02/2020 às 15h00min - Atualizada em 23/02/2020 às 15h00min

Falece Geraldo, o balseiro que conduziu Lula em Itinga, berço do Fome Zero

Foi para ele que o ex-presidente prometeu (e cumpriu) construir uma ponte sobre Rio que corta a pequena cidade do Vale do Jequitinhonha

Ab Noticia News
Por Henrique Nunes da Agência PT de Notícias
Ricardo Stuckert

Bastaram apenas 10 dias como presidente da República para que Lula colocasse em prática algo que sempre o fascinara: viajar pelo país e ir de encontro aos sonhos do povo brasileiro. Não à toa, o então recém-eleito ao cargo escolheu o Vale do Jequitinhonha para dar início às caravanas oficiais acompanhado de seus ministros: a região carregava o estigma da pobreza como poucas outras e tinha em cidades como Itinga-MG espécie de vitrine às avessas, retrato fiel do abandono do Estado.

A visita, sacramentada em 10 de janeiro de 2003, também era a redenção do ex-presidente, que 10 anos antes já havia prometido aos moradores locais construir novas páginas da história do pequeno município – o local, que possuía um dos piores IDHs da nação, também seria escolhido para ser o berço do programa Fome Zero.

 

 

Foi preciso pouco mais de um ano para que a promessa de Lula se materializasse na hoje indispensável ponte que corta o Rio Jequitinhonha e que alterou para sempre a paisagem (e a economia) dos itinguenses.  Entre as testemunhas oculares desta história, estava Geraldo Vieira Sousa, ilustre por conduzir Lula de balsa durante a visita e a quem o ex-presidente garantiu que a ponte sairia do papel.

A trajetória do balseiro, infelizmente, fez a sua última travessia nesta quarta (19), quando veio a notícia do seu falecimento.

Seu Gera, como era conhecido, era também a personificação dos anseios de seus conterrâneos. Ao longo de três décadas, viveu entre as duas margens do Jequitinhonha, conduzindo a todos – do ex-presidente a anônimos – com a mesma alegria.  Foram 14 anos com um barco a remo e ao menos outros 20 com uma canoa a motor. Durante este tempo, foi ele também a face do desenvolvimento da cidade, já que nada nem ninguém atravessava o rio sem a sua ajuda.

A sua morte pegou a cidade de surpresa e muitas têm sido as homenagens por lá. O poeta Jô Pinto, também de Itinga, escreveu nesta quinta (20) : “Antes da ponte, o alimento que chegou as nossas mesas dependeu dos braços fortes de seu Geraldo, se seu carro ia de um lado ao outro, foi também os braços de seu Geraldo que o conduziu a outra margem”.

O reencontro

A árdua labuta do seu Gera só foi interrompida quando a ponte inaugurada por Lula passou a fazer o trabalho que os seus braços fizeram ao longo de décadas. Mas ainda havia tempo para um reencontro: em 2017, o já aposentado balseiro esteve com Lula pela terceira vez durante uma nova etapa das caravanas pelo Brasil.

“O dia que o Lula veio aqui eu atravessei ele numa balsinha nova. Ele viu nosso sofrimento e disse que, se um dia ganhasse as eleições, voltaria aqui para fazer a ponte. Ele voltou e fez. Não consigo nem falar o que to sentindo”, declarou Gera na ocasião.

Naquela data, os papeis se inverteram: era Lula quem fazia questão de reverenciar seu Gera ao pedir ao cidadão ilustre de Itinga que relatasse a ele todos os problemas da cidade.  Foi o último encontro entre dois dos grandes representantes do povo brasileiro.

Por Henrique Nunes da Agência PT de Notícias


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