05/03/2024 às 08h51min - Atualizada em 05/03/2024 às 08h55min

Oferta de energia cresce mais que consumo, e Brasil 'joga fora' excesso; entenda

Para atender picos de consumo, país ainda precisa ligar usinas termelétricas — mais caras e poluentes. Isso porque, as fontes eólica e solar, que cresceram nos últimos anos, não oferecem energia de forma constante.

AB NOTICIA NEWS
G1
Reprodução

O Brasil vive uma situação contraditória: o país produz energia renovável em excesso, mas ainda precisa ligar usinas termelétricas — mais caras e poluentes — para suprir a demanda em momentos de pico. O cenário tem como consequência um custo maior ao consumidor e desafios para a operação do sistema.

Segundo projeção do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em 2028, o Brasil terá uma demanda de 110,98 gigawatts de energia, contra uma oferta que pode chegar a 281,56 gigawatts ao final de 2027. Ou seja, a oferta vai superar a demanda em 2,5 vezes (veja arte abaixo). 1 gigawatt de capacidade pode iluminar mais de 1 milhão de residências por ano, a depender da fonte.

“Na hora em que você tem essa situação, o que tem que fazer como Operador Nacional do Sistema Elétrico? Tem que limitar essa geração. E aí você vai ter que limitar essa geração por algumas características. Vai ter que verter água, ou vai verter sol, ou vai verter vento”, explica o diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi.

No setor, “vertimento” acontece quando se abre o vertedouro, que controla o fluxo de água da usina hidrelétrica, para deixar correr a água que não vai ser utilizada para geração de energia. Também para as fontes solar e eólica, significa deixar de usar o recurso natural para geração de energia - é como “jogar fora” a capacidade de gerar.

Ainda assim, cada vez mais o ONS vai precisar acionar usinas termelétricas em momentos de pico de consumo. Isso ocorre porque o excesso de energia se dá durante o dia, em razão da geração de energia renovável, que começa a cair no início da noite.

Para o ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (
Aneel) Edvaldo Santana, os subsídios são os responsáveis pelo descompasso entre oferta e demanda de energia.

Os subsídios funcionam assim: para incentivar algumas fontes de energia, como eólica e solar, o governo concede descontos para as usinas nas tarifas de uso dos fios para distribuição e transmissão de energia. Esses descontos (subsídios) são custeados pelos consumidores, inclusive os residenciais.

Os subsídios foram mantidos mesmo depois de essas novas fontes de energia se tornarem mais baratas, o que acabou incentivando a construção de mais usinas eólicas e solares.

Santana explica que o planejamento do setor deveria seguir a premissa de que a oferta deve acompanhar a demanda por energia, o que prevê também alguma margem a mais de oferta no caso de falta de chuva e seu impacto sobre as hidrelétricas, por exemplo. 

“De um tempo para cá, mais ou menos de 2013 e 2014 para cá, as fontes renováveis — e isso é bom para o Brasil — tiveram muito crescimento na participação na matriz elétrica, só que tudo isso movido a subsídio. Excesso de subsídio para fontes que não precisavam provocou o aumento enorme de oferta, que se deslocou da demanda. Hoje, a oferta é mais que o dobro da demanda se for medir em termos de capacidade instalada [o quanto cada usina pode gerar]”, destaca o ex-diretor da Aneel.

O superintendente adjunto da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Renato Haddad Simões Machado, explica que o governo concede incentivos a uma tecnologia quando quer promover a sua entrada no sistema ou quando quer levá-la a locais aonde o investimento privado não chegaria naturalmente.



 


Link
Tags »
Notícias Relacionadas »
Mande sua denuncia, vídeo, foto
Atendimento
Mande sua denuncia, vídeo, foto, pra registrar sua denuncia