29/02/2024 às 09h35min - Atualizada em 01/03/2024 às 00h02min

“A Batalha dos Guararapes Parte II”, do programador de cinema Geraldo Pinho, ganha exibição especial no Recife

Filme será exibido no dia 5 de março, às 19h30, como parte do projeto O Programador, que vai originar curta-metragem resgatando a contribuição valiosa do profissional que respondeu pelas principais salas de cinema de rua do Recife

Rachel Motta
Mia Comunicação
Diego Nigro
Cinemero. Era assim que ele gostava de ser chamado. Com uma vida inteira dedicada ao cinema de Pernambuco, e não só às produções, mas principalmente à gestão de espaços e à programação de filmes de tantos deles, Geraldo Pinho deixou um legado que está prestes a ser apresentado no projeto ‘O Programador’, da equipe do Laboratório de Antropologia Visual (LAV), da UFPE, com apoio do Governo do Estado, via Funcultura, mantido pela Secretaria de Cultura de Pernambuco e a Fundarpe.
 
A missão de contar a história deste criador, pesquisador, professor e apaixonado por cinema levará à produção de um documentário em curta-metragem com lançamento previsto para o final do ano. Antes disso, no dia 5 de março, o público terá a oportunidade de conhecer mais sobre a figura emblemática do programador, em sessão no Teatro do Parque, na estreia da versão digital de “Batalha dos Guararapes Parte II”, com roteiro e direção de Geraldo Pinho, Fredi Maia e Paulo André Leitão.

 
Gravado originalmente em Super 8, o curta, que data do final da década de 1970, foi recuperado e digitalizado por meio da Iniciativa de Digitalização de Filmes Brasileiros, um projeto do Cine Limite em parceria com a Associação Brasileira de Preservação Audiovisual. A exibição tem o apoio da Prefeitura do Recife e do Teatro do Parque.
 
Após a sessão, será promovida uma roda de conversa com a participação de Kate Saraiva e Janaína Guedes, do Movimento Cinerua, além do jornalista e programador de cinema Luiz Joaquim (Fundaj), do professor Titular aposentado na UFPE e doutor em Artes e Ciências da Arte pela Universidade de Paris, Paulo Cunha, do jornalista Paulo André Leitão e de Leonardo Paiva, filho do homenageado. A noite contará ainda com a exibição do curta ‘Por Trás da Tela’, da Agência Cabine, realizado por Aline Albuquerque, Dhamierys Rodrigues, Júlia Lima, Leonardo Cícero, Leonardo Neves e Mônica Silva. Trata-se de uma entrevista gravada com Geraldo Pinho em 2019.
 
“A ideia de contar a história de Geraldo Pinho chegou a ser discutida com ele. Foi gravado algo, mas o foco era outro projeto, o Museu Suape, o qual Pinho teve participação importante por nos falar deste acervo raro em Super 8, pertencente ao Mispe. Ele foi diretor do museu por um bom tempo”, lembra o diretor Walter Andrade.
 
A morte prematura de Geraldo Pinho, em 2021, aos 70 anos de idade, impediu que fossem gravadas cenas com o programador. “Temos imagens dele no Mispe com Pedro Aarão, organizando as bitolas de filmes que seriam digitalizadas pelo projeto Suape (LAV), e gravações da homenagem feita a ele no São Luiz, quando o letreiro estampou: Geraldo Pinho, um herói”, revela o diretor estreante.
 
Num exercício de metalinguagem, o doc “O Programador” incluirá cenas a serem gravadas no lançamento de “Batalha dos Guararapes Parte II”, no Teatro do Parque. “Vamos gravar com alguns convidados, a exemplo de Luiz Joaquim, do filho de Geraldo, Leonardo, e com amigos do programador”, salienta Andrade.
 
A previsão de conclusão das gravações é o final do segundo semestre de 2024. “Estamos fazendo um corte etnográfico, gravando em espaços ligados a Geraldo Pinho e ao cinema de Pernambuco, que são o Teatro do Parque, o Cinema da UFPE e o Mispe. O trabalho que foi desenvolvido por ele foi decisivo para formar não só plateias para o cinema, mas outros profissionais e pensadores do cinema que vieram depois dele. Tem um marco estético forte e de resistência, que destaca a importância de manter os cinemas de rua em funcionamento”, completa o codiretor, Alex Vailati,
 
O PROGRAMADOR
Além de garantir a memória de um pedaço da história do cinema local, a exibição se torna mais especial por se dar no espaço consagrado como sala de cinema a preço popular quando Pinho foi diretor-adjunto de Cinema da Fundação de Cultura do Recife. A paixão pelo cinema veio da infância, como o programador fazia questão de lembrar: “Meu interesse oi da vida toda. Desde pequeno, com quatro, cinco anos, já ia a cinemas de bairro. O escurinho me despertou para a fotografia, para a interpretação, e me voltei para o cinema”, contou, certa vez.
 
Ao longo da carreira, Geraldo Pinho participou do Cineclube Leila Diniz, fez alguns filmes e trabalhou em comerciais, mas foi como programador que se consagrou. Começou em 1993, no Teatro do Parque, onde criou as famosas sessões a 1 real. Ele ainda lançou o Cinema Apolo até assumir o Cinema São Luiz.
 
A BATALHA DOS GUARARAPES II
Criado como uma crítica ao longa original do diretor Paulo Thiago, ‘Batalha dos Guararapes’, gravado pela Embrafilme na ditadura, “Batalha dos Guararapes Parte II” data de 1978. A obra teve cenas gravadas no Forte de Pau Amarelo, em Paulista, e na Av. Guararapes, Centro do Recife.
 
A nova versão recuperou e digitalizou a base original reversível em Super 8, produzida em 1981. “O trabalho feito pelo Cine Limite foi importantíssimo porque não só digitalizou, mas restaurou o filme, buscando ao máximo aproximar a cor dos tons originais”, explica Paulo André Leitão. O jornalista e diretor do curta analisa a obra. “O filme aborda a batalha do dia a dia, dos vendedores da avenida, dos recifenses que passam por ela. Depois da dominação holandesa, relatada na Batalha original, a capitania volta para os colonizadores, e se vê a sucessão da cultura de dominação e poderio. Apresentamos isso como ferida social, em tom crítico, em plena ditadura”, ressalta Leitão.
 
SERVIÇO:
Exibição da versão digital de “A Batalha dos Guararapes Parte II”, de Geraldo Pinho, Fredi Maia e Paulo André Leitão. Dia 5/3, às 19h, no Teatro do Parque (R. do Hospício, 81, Boa Vista). Gratuito.
 
FICHA TÉCNICA DO PROJETO O PROGRAMADOR
Direção: Walter Andrade
Codireção: Alex Vailati
Produção: Júlia Morim
Assistência de produção: Rayana Mendonça
Roteiro: Alex Vailati, Walter Andrade
Direção de Fotografia: Rennan Peixe
Som: Miguel Bittencourt
Incentivo: Funcultura Audiovisual
Realização: Laboratório de Antropologia Visual (UFPE)


 


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