Há verdades incontestáveis, como 1+1=2. A menos que a 1 monte de roupas sujas você adicione 1 monte de roupas sujas e fique com 1 montão de roupa para lavar.
Ou que esteja misturando tintas, e 1 cor + 1 cor = 1 nova cor, como um estudante de artes disse à matemática Eugenia Cheng, que incluiu vários desses exemplos em seu livro Is Math Real?: How Simple Questions Lead Us to Mathematics’ Deepest Truths ("A matemática é real?: Como perguntas simples nos levam às verdades mais profundas da matemática", em tradução livre).
Claro que isso não significa que 1+1≠ 2. Significa apenas que até o que é mais conhecido nos convida a pensar, que tudo merece um certo grau de questionamento e que muito depende do contexto.
Mas uma soma semelhante às anteriores tem uma longa, prestigiada e até polêmica história: 2+2.
Se você acha que a resposta é sempre 4, adianto que há quem argumente que isso não é necessariamente certo.
️ Vamos começar com René Descartes, no século 17, embora possamos seguir essa história até passados ainda mais remotos.
O filósofo francês que questionou tudo em busca da verdade perguntou-se por que não se duvidava que dois mais dois são quatro, se até mesmo a nossa existência era colocada em dúvida.
Duvidar que 2+2=4, observou, não era logicamente incoerente, pois, afinal de contas, os números eram ideias abstratas que não podíamos encontrar na natureza.
Mas afirmar "duvido que eu exista" era, sim, logicamente incoerente.
A mera capacidade de duvidar, observou ele, reafirma a nossa existência, daí a abordagem fundamental do racionalismo ocidental: cogito ergo sum ou "penso, logo existo".
Ele não estava, no entanto, colocando em questão se a duas coisas se somar mais duas, dará quatro; valeu-se precisamente dessa soma, pois era uma verdade óbvia.
️ E questioná-la era tão absurdo que o inglês Ephraim Chambers usou a expressão 2+2=5 como exemplo ao explicar o significado do conceito naquela que foi uma das primeiras enciclopédias da história.
Na Cyclopaedia, ou Um Dicionário Universal de Artes e Ciências (1728), cujo subtítulo indica que "contém uma explicação dos termos e uma conta dos significados das coisas nas várias artes, tanto liberais e mecânicas, e várias ciências, o humano e divinas", observa:
Assim, seria absurda uma proposição que afirmasse que dois e dois são cinco, ou que negasse que são quatro.