O banco Safra recuou nas críticas e decidiu aderir ao plano de recuperação judicial da Americanas duas semanas após entrar com uma ação para impedir o andamento do processo. A adesão foi revelada pelo colunista de O Globo Lauro Jardim e confirmada pela Folha.
A Americanas está em recuperação judicial desde janeiro, com dívidas declaradas de R$ 42,5 bilhões, e tem as maiores instituições financeiras do país como principais credoras.
Com a adesão do Safras, a Americanas consegue ultrapassar a marca de 50,01% de sua dívida detida por credores que concordem com sua proposta de recuperação judicial. Esse é o mínimo necessário para que seu plano judicial seja aprovado em assembleia.
No último dia 27, a empresa anunciou um acordo com Bradesco, BTG Pactual, Itaú e Santander, que detêm cerca de 35% da dívida da varejista. Na última terça (12), os bancos Votorantim e Daycoval aderiram ao plano. Na sexta-feira (15), foi a vez do Itaú Asset Management e do Banco ABC Brasil, conforme divulgado em fato relevante, o que elevava a adesão a 47% dos credores, nos cálculos da empresa.
A empresa precisava de novas confirmações de apoio até esta segunda (18) para alcançar o mínimo de credores com mais de 50% da dívida antes da assembleia geral prevista para a terça-feira (19).
O Safra tem R$ 2,5 bilhões a receber do total de R$ 42,5 bilhões (5,8%), o que eleva a porcentagem para cerca 53% da dívida nas mãos de credores que concordam com o plano de recuperação judicial.
A adesão representa um recuo no tom elevado do Safra nas últimas semanas. Há duas semanas, a instituição entrou com processo na Justiça do Rio para impedir que a varejista avançasse com o plano de reestruturação.
Na petição, o banco diz querer evitar que a aprovação do plano coloque "uma 'pá de cal' nas fraudes confessadas nas demonstrações financeiras de uma companhia de capital aberto".
A defesa do Safra condenava ainda a rapidez com que a varejista pretende aprovar o plano de recuperação judicial. "O objetivo é claro: empreender de forma açodada, ao encerrar das luzes de 2023, uma verdadeira 'corrida' para a aprovação 'à fórceps' do PRJ dentro do presente exercício fiscal em busca de benefícios tributários exclusivos para as recuperandas e as instituições financeiras coniventes com a fraude", dizia a petição.
Na ocasião, a Americanas reagiu afirmando que a "intenção [do Safra], desde o início, não era de negociar, mas apenas satisfazer os seus interesses particulares, sem quaisquer concessões, como é natural num processo de recuperação judicial".
Procurados neste domingo (17), nem o Safra nem a Americanas quiseram comentar o acordo.
A assembleia de credores da Americanas para aprovação do plano de recuperação judicial está marcada para esta terça, último dia útil do Judiciário em 2023. O plano inclui o aumento de capital da companhia via emissões de novas ações. Serão R$ 12 bilhões para os acionistas controladores -Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles- e até R$ 12 bilhões para os bancos, totalizando uma injeção de R$ 24 bilhões na empresa. Os bancos converterão a maior parte da dívida em ações da varejista.