A J&F pede que sejam suspensos todos os negócios "decorrentes da situação de inconstitucionalidade estrutural e abusiva em que se desenvolveram as Operações Lava Jato e suas decorrentes, Greenfield, Sépsis Cui Bono".
Na petição de quase 50 páginas, os advogados da companhia dizem que a venda da Eldorado "se apresentava como premissa imposta pelo MPF para celebração da leniência." A J&F também cita a venda de outros negócios, como a Vigor e a Alpargatas. Juntas, essas empresas somavam R$ 24 bilhões.
Segundo a empresa, essas negociações teriam sido feitas porque ela, "por estar à mercê dos abusos da Lava Jato, viu-se forçada a realizar diversos negócios jurídicos patrimoniais desvantajosos."
A defesa da J&F cita ainda a Operação Spoofing, que investigou e prendeu os responsáveis pela invasão hacker a aparelhos de agentes públicos, incluindo os procuradores da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba (PR). O material acessado com a invasão foi obtido inicialmente pelo The Intercept Brasil e publicado por diversos veículos, entre eles a Folha de S.Paulo, em 2019.
Entre os diálogos vazados, há conversas de um procurador com um executivo sobre os trâmites da venda da Eldorado. A J&F diz, no pedido ao STF, que o empresário trabalhava para a Paper Excellence e, portanto, seria beneficiado pela negociação.
A venda da companhia de celulose para a Paper Excellence foi fechada em setembro de 2017. O negócio foi anunciado, na época, por R$ 15 milhões. Na primeira fase, o braço brasileiro do conglomerado de Jackson Widjaja comprou 49,41% da ações da Eldorado.
Um ano depois, a transação começava sua saga judicial. As duas companhias não se entenderam sobre a transferência da parte restante e deram início a um pingue-pongue de pedidos judiciais.
Nesta quinta (9), a Paper Excellence divulgou considerar que o pedido da J&F tem base em uma "narrativa fantasiosa e sem compromisso com a verdade". Afirmou também que a medida é "mais um manobra repulsiva" para atrasar a conclusão do negócio.
A venda da fábrica localizada em Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, já passou por arbitragem na 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), mas a J&F pediu a anulação da decisão favorável à Paper.
Ele é o relator do pedido da J&F para anular a arbitragem, e completa 75 anos em fevereiro de 2024. Por causa da idade, terá de se aposentar. Em seu despacho, ele descartou o pedido da J&F e votou que as ações devem ser repassadas para a Paper.
O desembargador também opinou ter havido litigância de má-fé da J&F porque, segundo ele, a empresa alterou a verdade dos fatos em juízo; procedeu de forma temerária ao longo do processo, provocando frequentes recursos apenas para protelar a decisão, levantou tese de hackeamento sem apresentar elementos de que tenha acontecido e colocou suspeita sobre árbitro com base no que o relator avaliou ser um trabalho corriqueiro de advocacia.