10/11/2023 às 09h03min - Atualizada em 10/11/2023 às 09h03min

Entidades científicas rebatem políticos do agro sobre críticas ao Enem e chamam de 'censura' pedido de anulação de questões

Políticos ligados ao setor do agronegócio protestaram contra o que chamaram de 'ideologização' do Enem. Eles pedem que o Inep anule três perguntas da prova (sobre exploração do Cerrado, desmatamento da Amazônia e corrida espacial).

AB NOTICIA NEWS
G1
Reprodução

Entidades acadêmicas chamaram de "tentativa de censura" o pedido da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) para que sejam anuladas três questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023, aplicadas no último domingo (5):

▶️uma sobre a exploração do Cerrado e os prejuízos do agronegócio para os camponeses;

▶️outra acerca do desmatamento da Amazônia no cultivo da soja;

▶️e uma terceira a respeito da corrida espacial.

A Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia (Anpege), que representa mais de 70 programas acadêmicos, e a Associação dos Geógrafos Brasileiros referem-se especialmente às duas primeiras perguntas da lista acima, que trazem excertos de artigos científicos.

Por meio de nota de repúdio, as entidades defendem a credibilidade dos autores das pesquisas e dizem que "a insatisfação e a manifestação barulhenta de parte dos congressistas" traz "ranços do negacionismo científico" do governo Bolsonaro e demonstram um "comportamento rancoroso". Leia mais abaixo.

Contexto: A bancada do agro criticou a "ideologização do Enem" no governo Lula e a escolha de perguntas consideradas por deputados como enviesadas e contrárias às práticas capitalistas no campo. O presidente da FPA e deputado federal do PP, Pedro Lupión, pediu que o ministro da Educação, Camilo Santana, falasse a respeito "da falta de honestidade intelectual".

Postura do Inep: Em audiência na Comissão de Educação da Câmara, nesta quarta-feira (8), o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, Manuel Palácios, afirmou que os candidatos tinham apenas de interpretar os textos e responder às questões, sem necessariamente concordar com o que os autores dos trechos escreveram.

 

"A resposta correta não depende de opinião, atitude, visão de mundo. Depende da capacidade de compreender um texto", disse.

 

Ao g1, o órgão reforçou que não interfere nas ações dos colaboradores selecionados para compor o Banco Nacional de Itens (de onde são selecionadas as perguntas).

 

'Inversão absurda e tragicômica da realidade', dizem acadêmicos

 

As entidades científicas afirmam que:

️as pesquisas citadas nas perguntas do Enem foram produzidas a partir de "minuciosa investigação", com visitas a campo, coleta de depoimentos e mapeamento de áreas;

️esses estudos confirmam o que a comunidade científica internacional vem alertando: que "o avanço do agronegócio violenta e desterritorializa comunidades tradicionais que dominam o manejo sustentável da biodiversidade, especialmente nos biomas Cerrado e Amazônia";

️os autores dos textos são "doutores com vasta experiência acadêmica e científica, com larga publicação de livros e artigos, carreira consolidada e premiados por suas respectivas comunidade".

"Este comportamento rancoroso [de pedir a anulação das questões], sim, precisa ser compreendido como manifestação de uma ideologia extemporânea, classista e excludente, que sentencia o Brasil a ser uma nação socialmente injusta e com desigualdades econômicas (...)", aponta o texto.

 

"A nota de ameaça e censura publicada pela Frente Parlamentar da Agropecuária usa a noção de negacionismo científico contra os próprios cientistas e os resultados das suas pesquisas, em uma inversão absurda e tragicômica da realidade."


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