31/10/2023 às 17h42min - Atualizada em 01/11/2023 às 00h00min

Censo 2022: com o envelhecimento da população, economia brasileira terá desafios e oportunidades, afirmam especialistas

Segundo os dados apresentados, pessoas com 65 anos ou mais passaram de 7,4% para 10,9% da população brasileira nos últimos 12 anos

Carlos Lopes
https://equitysa.com.br/
Ariane Azevedo/Flickr

O Brasil está passando por uma transformação demográfica significativa que está moldando não apenas a estrutura social, mas também os setores econômicos e de mercado do país. Segundo o último relatório do Censo 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgado no mês de outubro de 2023, nos últimos 12 anos houve um crescimento de pessoas com idade acima de 65 anos, que passou de 7,4% para 10,9%, o que representa cerca de 22 milhões de pessoas com essa faixa etária. Os dados apresentam desafios e oportunidades distintos para a economia nacional, que precisa se adaptar para contemplar essa parcela crescente da sociedade.

Uma das principais implicações está relacionada à previdência e ao sistema de seguridade social. Com mais pessoas vivendo por mais tempo, aumenta-se a pressão sobre os sistemas de aposentadoria. O envelhecimento da população gera um desequilíbrio entre a quantidade de pessoas economicamente ativas e os aposentados, o que pode sobrecarregar as finanças públicas e exigir reformas previdenciárias para garantir a sustentabilidade do sistema em longo prazo.

Para o especialista contábil, M&A e valuation, e CEO da Equity S/A e Finance Capital, Heder Bragança, “é necessário entender que o modelo que temos hoje de previdência é uma pirâmide. Isso quer dizer que, com o envelhecimento da população, temos menos pessoas produtivas gerando receita para a previdência, o que diminui a receita e, por consequência, sua arrecadação”, explica.

Ainda segundo o especialista, temos um modelo econômico do governo muito pesado, então, grande parte do valor repassado ao sistema de previdência é consumido pela própria máquina entre salários, estrutura e serviços contratados. 

Ao longo do tempo, o sistema previdenciário passou por diversas reformas para se adequar ao crescimento e envelhecimento da população e o déficit econômico. Em 1946, quando se criou  uma sistematização constitucional da matéria previdenciária, o Brasil contava cerca de 200 mil aposentados. De acordo com o último Boletim Estatístico da Previdência Social/2022, esse número saltou para 7,5 milhões, incluindo aposentadorias, auxílios e pensões.

O crescimento contínuo do número de segurados da Previdência Social gerou um aumento expressivo nos gastos do INSS ao longo dos anos. Em dezembro de 2006, os benefícios totalizaram R$ 12,6 bilhões, saltando para R$ 48,7 bilhões em dezembro de 2021, de acordo com o Boletim Estatístico da Previdência Social.

Esse crescimento resultou em déficits significativos nos regimes previdenciários. O Regime Geral, de acordo com o projeto de lei orçamentária de 2023, teria um rombo estimado em R$ 267,2 bilhões no ano em questão. Já os regimes próprios dos servidores públicos civis e militares enfrentam déficits de R$ 47,3 bilhões e R$ 48,5 bilhões, respectivamente.

Em resposta ao desequilíbrio financeiro, o governo brasileiro já implementou algumas reformas previdenciárias para tornar o sistema mais sustentável. A reforma previdenciária de 2019 foi criada para conter esses déficits, projetando uma economia estimada em até R$ 156,1 bilhões para as contas da Previdência. Esse valor representa um aumento de 78,8% em relação aos R$ 87,3 bilhões previstos quando a proposta de emenda à Constituição (PEC 133/2019) foi aprovada pelo Congresso.

IMPLICAÇÕES NA SAÚDE - Além disso, o setor de saúde também é afetado. Com o envelhecimento da população, há um aumento na demanda por serviços de saúde, cuidados geriátricos e medicamentos, o que pode pressionar o sistema de saúde e os gastos públicos nessa área. Segundo o último Relatório de Envelhecimento Populacional do Ministério da Saúde, 70% das pessoas idosas utilizam o Serviço Único de Saúde (SUS). Destes, cerca de 25 a 30% são considerados de alta complexidade médica.

Outro ponto a ser considerado é o de cuidado e assistência à população idosa. Esses elementos vêm abrindo portas para novos mercados como casas de repouso especializadas e hospitais de longa permanência. Tratam-se de segmentos emergentes cujos serviços essenciais são voltados para idosos que demandam cuidados constantes, mas que muitas vezes não dispõem da estrutura necessária em suas residências.

A crescente demanda por esses serviços sinaliza um potencial de parcerias com o Estado e entidades privadas, visando administrar de forma mais eficaz o cuidado de pessoas que necessitam de atenção contínua em saúde. Tais espaços proporcionam uma gama variada de serviços, desde cuidados médicos e terapias ocupacionais até suporte psicológico, fisioterapia, odontologia e nutrição, incluindo atenção especializada de geriatras.

Segundo Heder Bragança, as novas oportunidades de mercado devem exercer um impacto positivo também na economia em nível governamental. “Esta perspectiva de negócio não apenas representa uma oportunidade de exploração econômica, mas também um meio de gerar receita adicional para o governo. Ao mesmo tempo, proporciona um tratamento mais apropriado e focado para a população idosa, atendendo suas necessidades específicas e promovendo um cuidado mais adequado para esse segmento da sociedade”, explica o especialista.

NOVAS OPORTUNIDADES NA SAÚDE - Outra proposta que vem ganhando força e que deve ser impactada com o envelhecimento da população é o conceito de Hospital de Transição. Apesar de parecer novo para muitos, esse modelo, que se situa entre a atenção hospitalar convencional e os cuidados domiciliares. Atualmente, a implementação desse modelo de cuidados está em estágio inicial no Brasil, particularmente no setor privado. As unidades existentes representam apenas um pouco mais de 1% do total de leitos hospitalares.

A ideia é oferecer uma opção intermediária, que visa desafogar as unidades hospitalares convencionais, oferecendo cuidados intensivos em um ambiente que não requer uma estrutura hospitalar completa, mas ainda assim é capaz de prover tratamentos necessários.

OPORTUNIDADES ECONÔMICAS - O envelhecimento populacional também traz oportunidades econômicas. Setores como o mercado de produtos e serviços voltados para a terceira idade têm experimentado um crescimento significativo. Desde tecnologias assistivas até turismo especializado, existe um potencial econômico considerável para empresas que oferecem produtos e serviços adaptados às necessidades dos idosos.

Além disso, a experiência e expertise dos idosos no mercado de trabalho também são um recurso valioso. Programas que incentivam a permanência ou reinserção desses profissionais no mercado de trabalho podem contribuir para a economia, proporcionando não apenas um aumento na mão de obra disponível, mas também a transferência de conhecimento e experiência para as gerações mais jovens.

Segundo o especialista tributário, contábil e diretor da Alldax Contabilidade e Consultoria, William Almeida, para se adequar a essa nova realidade da população acima dos 65 anos, o mercado de trabalho precisa se atualizar de acordo com os novos modelos e ferramentas de trabalho. “O principal desafio está na preparação dessa população, que está envelhecendo, com as tecnologias atuais, que, com o passar dos anos, foram aprimoradas de forma exponencial”, afirma.

Diante desse cenário, políticas públicas e estratégias empresariais que considerem o envelhecimento populacional como um fator-chave são essenciais. Investimentos em educação, saúde e empreendedorismo para os mais velhos, bem como reformas que visem garantir a sustentabilidade dos sistemas previdenciários, são fundamentais para enfrentar os desafios e explorar as oportunidades trazidas por essa mudança demográfica.

O envelhecimento da população brasileira é um fenômeno complexo que impacta diversos aspectos da sociedade. Entender suas implicações econômicas e de mercado é crucial para a formulação de políticas e estratégias que possam promover um desenvolvimento sustentável e inclusivo para todas as faixas etárias no país.


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