Durante dez anos, Ana foi tratada como se tivesse um quadro de depressão. Continuava dormindo durante o expediente e era apontada como preguiçosa, até receber o diagnóstico: narcolepsia. Na sequência, um novo golpe: foi aposentada por invalidez aos 44 anos. Diz que estava "no fundo do poço" quando foi encaminhada para o ambulatório de distúrbios do sono do serviço de neurologia do Hospital Universitário Pedro Ernesto, da UERJ.
Embora a maior parte dos pacientes que procuram o setor sofra com a falta de descanso, a neurologista Christianne Martins Bahia, coordenadora do local, já havia abraçado a causa dos que têm suas vidas destruídas pelo excesso de sono.
O ambulatório acabou de ser "promovido", com louvor, a Centro de Pesquisa em Hipersonia, e é o retrato da dedicação da doutora Christianne. Além do atendimento, faz a bateria de exames indispensáveis para dar o diagnóstico. Para começar, a polissonografia, que mapeia o padrão de sono durante a noite, e o teste das latências múltiplas, para avaliar a sonolência durante o dia. E o mais importante: realiza a medição da hipocretina, um biomarcador para a doença, atualmente através de uma parceria com a Universidade Stanford, como conta a médica:
A Ana Cristina que chegou ao antigo ambulatório deprimida e revoltada com a aposentadoria compulsória é hoje outra pessoa. Em 2019, criou a Associação Brasileira de Narcolepsia e Hipersonia Idiopática, que já mapeou 200 portadores da doença e se tornou uma espécie de extensão do serviço do hospital.
O Rio sediará o Congresso Mundial do Sono, entre 20 e 25 de outubro, e a Abranhi terá um estande no evento. A cereja do bolo: o professor Mignot virá para o evento e se encontrará com os associados. A presidente não cabe em si de animação:
Hoje em dia, Ana talvez não tivesse sido aposentada por invalidez. A narcolepsia inviabiliza tarefas como operar máquinas e dirigir, mas é compatível com um leque amplo de atividades, explica a neurologista: