10/10/2023 às 09h13min - Atualizada em 10/10/2023 às 09h13min

Contaminação de mercúrio em bebês indígenas: Fiocruz inicia estudo com gestantes Munduruku para avaliar riscos

Metal pesado usado no garimpo ilegal é altamente tóxico e pode causar graves problemas de saúde ao atacar o sistema nervoso. Em Brasília, indígenas brasileiros e sul-americanos foram ouvidos em reunião da Convenção de Minamata sobre o uso de mercúrio em seus territórios.

AB NOTICIA NEWS
G1
Foto: Ascom MPF-PA / Divulgação

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) inicia nesta semana um estudo para avaliar se gestantes Munduruku estão sendo contaminadas pelo mercúrio usado no garimpo ilegal e se há consequências para os bebês.

O objetivo da pesquisa é avaliar os efeitos da exposição à substância no neurodesenvolvimento de crianças Munduruku que vivem em áreas de influência de garimpos de ouro no Médio e no Alto Tapajós.

Gestantes que queiram participar da iniciativa serão acompanhadas ao longo da gravidez até o momento do parto. Após o nascimento da criança, a mãe será convidada a permanecer em acompanhamento até o bebê completar dois anos de idade.

O garimpo ilegal de ouro é um problema na região desde os anos 1980, mas piorou muito em períodos mais recentes. No final de 2022, depoimentos encaminhados ao Ministério Público Federal (MPF) apontam que houve aumento da tensão e intimidação por parte dos garimpeiros ao povo Munduruku nos últimos anos.

Os riscos
 

O mercúrio é usado na extração ilegal de ouro para separar o metal de outros sedimentos. Depois, é descartado sem qualquer cuidado nos rios, passa por um processo químico e se transforma em uma substância ainda mais tóxica: o metilmercúrio, que contamina dos micro-organismos aos peixes carnívoros.

A concentração do metilmercúrio se torna cada vez mais alta dentro da cadeia alimentar, conforme fica retido nos organismos, em um processo denominado bioacumulação. Conforme os peixes são consumidos, o metal pode se instalar no organismo humano.

Nas pessoas, a intoxicação por mercúrio pode provocar problemas respiratórios, renais e atacar, principalmente, o sistema nervoso.

O Mercurio

 

Um levantamento anterior da Fiocruz, realizado em 2019, coletou amostras de cabelo de 200 indígenas em três aldeias Munduruku no médio Tapajós, além de amostras de peixes consumidos na região.

pesquisa foi feita em resposta a uma carta enviada pela liderança Alessandra Korap Munduruku, da aldeia Sawré Muybu, em 2017. O documento já denunciava o avanço do garimpo ilegal e pedia que a contaminação por mercúrio fosse "investigada com profundidade". "Não é apenas o nosso rio que está sofrendo com isso, nós Munduruku também estamos".

Em todos os participantes -- adultos, crianças e idosos -- foram detectados níveis de mercúrio. Seis a cada dez indígenas apresentaram níveis acima dos limites considerados seguros. Os peixes também estavam contaminados.

Nas áreas mais impactadas pelo garimpo ilegal, nove entre cada dez participantes registraram alto nível de contaminação.


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