30/08/2023 às 13h01min - Atualizada em 30/08/2023 às 13h01min

Entenda por que golpes militares são recorrentes no continente africano

O Gabão é o oitavo país em três anos a ter um governo deposto. Todos são ex-colônias francesas.

AB Notícia News
g1
Gabon 1ere/Reuters

Uma epidemia de golpes de Estado marca o continente africano, que desde 1952 registrou 98 bem-sucedidas tomadas de poder, moduladas por má gestão, corrupção e falência das instituições, entre outras mazelas que assolam seus países. O último golpe ocorreu nesta quarta-feira no Gabão, quando militares anunciaram a deposição de Ali Bongo, logo após declarar-se vitorioso numa eleição que lhe garantiria o terceiro mandato.

Pela primeira vez em 56 anos as forças armadas do Gabão se voltaram contra o regime comandado pela família Bongo, dissolvendo instituições e anulando as eleições, que foram denunciadas como fraudulentas pela oposição, sem observadores políticos ou cobertura da mídia.

 

Bongo herdou o poder do pai, Omar, há 14 anos. Seu principal adversário, o Albert Ondo Ossa, obteve 30% dos votos e liderou uma campanha que teve como slogan: “O Gabão não é propriedade dos Bongo.”

O panorama é recorrente no continente: militares interferem para depor ditadores ou dinastias longevas. Mas, em geral, a tomada de poder não resulta na prometida estabilidade política. Nos últimos três anos, oito países africanos, todos ex-colônias francesas, sofreram golpes de Estado.

 

No Chade, em 2021, uma junta militar interveio para assegurar a governança do general Mahamat Idriss Deby, após a morte do pai, Idriss, que governava o país há três décadas.

 

No Mali, um grupo de coronéis depôs o presidente Ibrahim Boubacar Keita e, após enfrentar protestos populares, cedeu o poder a um governo civil de transição, derrubado por um segundo golpe militar.

Níger era considerado uma espécie de oásis pelo Ocidente, parceiro no combate ao terrorismo promovido por jihadistas islâmicos, e recebeu vultuosa ajuda financeira dos EUA e da França.

Em julho passado, contudo, soldados prenderam o presidente Mohamed Bazoum em casa e instalaram uma junta militar para governar o país. O líder golpista, general Abdourahamane Tchiani, prometeu devolver o Níger a um governo civil em três anos.

Os sucessivos golpes em países que foram colonizados pela França expressam também uma disputa entre Ocidente e Rússia pela influência na África e o ressentimento contra a ex-colônia por apoiar alguns desses regimes.

No Níger, o presidente e aliado do Ocidente era, por outro lado, tachado de marionete. A tomada de poder foi seguida por protestos populares e ataques à embaixada francesa. Em Burkina Faso, o governo militar que depôs em janeiro de 2022 o presidente Roch Kabore encerrou um acordo que permitia às tropas francesas operarem no país.

Assim, a raiva popular contra o legado colonial da França foi atribuída como um fator encorajador para que os militares agissem e a usassem como justificativa aos golpes em série promovidos nesses países.


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