O estoque de insumos de janeiro de 2022 a janeiro de 2023 chegou a 21,3%, o dobro da média da indústria brasileira nos últimos anos, segundo a Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav). O volume chama a atenção, porque, além de ser um valor acima do considerado saudável pela indústria, é um fator que acarreta atrasos nas vendas.
No negócio de distribuição de insumos, um estoque saudável é de 10% a 12%, estima a Andav. No entanto, a indústria brasileira começou 2022 com estoque alto, estimado em 16,4%, e terminou o ano com 21,3%, o equivalente a 6% a mais.
No varejo, armazenar um percentual de produtos é uma forma de suprir a demanda de pronta-entrega dos produtores. No entanto, quando os insumos começam a ficar parados nos estoques, o que era planejamento de mercado pode virar prejuízo.
"Este valor é quase 10% a mais do que é normal. Esse estoque levou a um atraso nas negociações de 40 e 60 dias, o que fez o mercado correr nessas últimas três semanas antes do plantio da safra 2023/24 para compensar", explicou à Globo Rural o presidente executivo da Andav, Paulo Tiburcio.
Os efeitos dos estoques altos foram sentidos pelos canais de distribuição que, já no primeiro semestre, tiveram que tentar vender o estoque - comprado a preços mais elevados em 2022 devido à guerra entre Rússia e Ucrânia - mais barato para os produtores a fim de dividir o prejuízo.
Para este semestre, os estoques ainda protagonizam um problema do distribuidor. Se o produtor começou a correr contra o tempo para negociar os produtos da próxima safra, as revendas querem se livrar dos estoques e escapar do risco de inadimplência, por isso está 'aceitando' uma margem mais achatada, oferecendo condições de pagamento mais atrativas.
Tiburcio constatou, ainda, que algumas empresas do Cerrado que participariam do Congresso da Andav, realizado em São Paulo entre os dias 8 e 10 de agosto, preferiram vir em menor grupo, porque na última hora identificaram a necessidade de especialistas estarem no Centro-Oeste para finalizar as comercializações atrasadas.
Com a situação, o executivo alerta que as distribuidoras precisam planejar melhor o próximo ano para recompor os estoques de forma saudável, além de se atentar a garantias oferecidas aos produtores para não perder contratos.
O prazo-safra, que é algo muito característico das vendas de insumos no Brasil, garante que o produtor adquira defensivos ou fertilizantes com parcelas a vencer só a partir da colheita da safra.
No entanto, no último ciclo esse modelo de negócio do segmento fez a inadimplência alcançar patamares entre 25% e 30% no início deste ano, segundo o Serasa.