09/08/2023 às 07h44min - Atualizada em 09/08/2023 às 07h44min

Torres diz que ministros eram 'convocados' para lives de Bolsonaro

O ex-ministro do governo Bolsonaro falou em depoimento à CPMI do 8 de janeiro; de acordo com ele, a convocação para as transmissões partia da Presidência da República

AB Notícia News
O Tempo
Sergio Lima/AFP

O ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, declarou nesta terça-feira (8) que a Presidência da República "convocava" agentes públicos para participarem das lives semanais realizadas nas redes sociais do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). As transmissões foram alvo de críticas, muitas vezes, pela propagação de informações falsas.

Torres falou durante depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos criminosos de 8 de janeiro. No momento, ele era questionado pelo deputado Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) se considerava adequado que um ministro de Estado participasse de uma live questionando o sistema eleitoral brasileiro.

A referência foi a uma transmissão realizada em julho de 2021 com a presença de Torres e de Bolsonaro. Na ocasião, o ex-presidente atacou as urnas eletrônicas. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) chegou a abrir um inquérito para apurar o caso.

"Eu não posso fazer juízo sobre isso [se considera adequada sua participação na live citada]. Eu quero dizer só que nessas lives, os ministros, os secretários, os diretores eram convocados a participar da live", disse. Questionado por quem partia a convocação. Torres respondeu que pela "pela Presidência da República".

Ele reafirmou a informação à senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS): "Em todas as lives o presidente Bolsonaro convocava um ministro, enfim, um diretor de agência. Ele sempre estava acompanhado de alguém. A gente era convocado pela Presidência."

 

De acordo com Torres, o assunto da live era sempre informado com antecedência. "A minha participação sempre foi técnica. O que eu fiz naquela live foi ler um relatório técnico elaborado por peritos criminais federais que opinavam sobre o sistema de urna eletrônico brasileiro. [...] Tanto que eu não sabia o que falar naquela live. Mandei fazer uma pesquisa no âmbito do Ministério [da Justiça], e me vieram esses relatórios que eu li ao final", contou.

Anderson Torres era secretário de Segurança Pública do Distrito Federal no dia dos ataques às sedes dos Três Poderes. Antes, foi ministro da Justiça do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em 8 de janeiro, ele estava em viagem aos Estados Unidos. Torres foi preso ao desembarcar no Brasil, em 14 de janeiro, e está em liberdade provisória desde 11 de maio, por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Torres é um dos principais alvos das investigações sobre o 8 de janeiro. Em 10 de janeiro, a Polícia Federal encontrou na casa dele uma minuta de golpe, inconstitucional, com o rascunho de um decreto que permitiria a Jair Bolsonaro, quando ainda era presidente, instaurar estado de defesa na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) após sua derrota nas urnas para o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

No depoimento à CPMI, Torres afirmou que a "minuta de golpe" fazia parte da "coleção de absurdos" que detentores de cargos públicos recebem. Ele classificou o documento como "fantasioso", uma "aberração jurídica" e "imprestável para qualquer fim", e que não foi descartado por "mero descuido".

Ele também contou que houve uma "falha grave" no cumprimento do Plano de Ações Integradas (PAI) que poderia ter evitado a depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília (DF), em 8 de janeiro. Entre os erros, a falta de efetivo policial nas ruas. Se tivessem cumprido à risca o plano, os atos de vandalismo do dia 8 de janeiro não teriam sido consumados", declarou.

Torres compareceu à CPMI na condição de testemunha. Antes, conseguiu uma decisão de Moraes, no STF, para permanecer em silêncio em perguntas que possam autoincriminá-lo. Ele também foi proibido de ter qualquer contato com os senadores Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Marcos do Val (Podemos-ES), por "evidente conexão dos fatos em apuração e as investigações das quais ambos fazem parte".


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