17/07/2023 às 11h45min - Atualizada em 17/07/2023 às 11h45min

Bolsonaro retoma discurso como presidente nas redes sociais 6 meses após fim do governo

Ex-presidente está inelegível por decisão do TSE; comunicação na internet alterna entre feitos da gestão dele e demonstrações de ser um homem 'do povo'

AB Notícia News
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ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

SÃO PAULO - O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ainda fala em "nossa gestão" e usa verbos no presente para mostrar ações do governo dele, apresentadas com muitos números e misturadas a vídeos em que aparece cumprindo tarefas da "vida comum", nas redes sociais. O gesto, segundo especialistas, é uma estratégia para reter um apoio que está cada dia menor e reforçar, simbolicamente, a narrativa de "injustiçado".

Fora do governo há mais de seis meses, Bolsonaro foi declarado inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Paralelo a isso, a aprovação da reforma tributária do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conta como derrota para o ex-governante. Apesar de ele insistir para que o seu partido fosse contra a proposta, o texto passou na Câmara com um placar folgado e o apoio de 20 deputados do PL.

No início da semana, por exemplo, Bolsonaro relembrou um decreto antigo de autoria dele que estabelece a obrigatoriedade do pregão eletrônico em cidades pequenas. "Essa iniciativa do Governo Bolsonaro amplia a concorrência nas licitações públicas e permite que empresas de todo o Brasil participem destes processos realizados pelos Municípios", escreveu o ex-presidente. O decreto, contudo, é de setembro de 2019, primeiro ano do governo dele.

O ex-presidente frequentemente apresenta números que demonstram ações da gestão dele e compara suas práticas com as do governo Lula. Há alguns dias, por exemplo, ele usou a frase "governo Bolsonaro repassa R$ 722 milhões para estados e DF investirem em segurança pública", no tempo presente. O investimento foi feito em novembro de 2022, nos últimos dias de mandato.


 

A estratégia vem sendo utilizada com mais força em momentos mais sensíveis para o ex-presidente, como a posse de Lula e a decisão do TSE que o tornou inelegível. Nos últimos dias, a aprovação da reforma tributária na Câmara foi o ponto-chave.

"Bolsonaro age com a intenção de atrair parte da opinião pública a favor da sua causa, de que foi supostamente injustiçado e que as forças do Judiciário tentam boicotá-lo. É também uma forma de criar uma situação quase que utópica", avaliou o cientista político Paulo Ramirez, doutor pela PUC-SP e professor da ESPM. Ele também observa que ex-presidente reforça a oposição da sua base a Lula.

Como mostrou a Coluna do Estadão, Bolsonaro ainda tem influência no seu segmento político, mas vem em crescente desprestígio entre os pares. A aprovação da reforma tributária expôs essa tendência: enquanto o ex-presidente rivalizou com a proposta, Valdemar Costa Neto, presidente do PL, buscou apaziguar os ânimos da base e defendeu a negociação de emendas com o governo.

Para Ramirez, Bolsonaro virou "carta fora do baralho". "Ele tenta recuperar o apoio que está perdendo gradualmente. E também visa reforçar sua influência para as eleições do próximo ano, pois ainda tem um capital político muito forte", disse o professor.

Vida 'comum'

Outra linha frequente nas redes sociais de Bolsonaro são publicações que mostram o ex-presidente cumprindo tarefas da vida ordinária, cercado de demonstrações de apreço dos seus correligionários. Embora ele já fizesse isso durante a gestão, hoje o ex-presidente aparece mais acessível, com menos assessores e sem "cercadinhos". O gesto reforça a narrativa de que ele é um outsider do mundo político, embora tenha sido deputado por mais de 30 anos antes de assumir a Presidência.

Uma situação que simboliza esse movimento foi a noite da última sexta-feira, 14. Bolsonaro esteve em Goiânia, um dos seus redutos eleitorais (nas eleições passadas, ele teve 58,7% dos votos do Goiás), para "ir ao dentista e tomar caldo de cana", de acordo com o que divulgou o deputado bolsonarista Gustavo Gayer (PL-GO). Cercado por uma grande quantidade de apoiadores, o ex-presidente agradeceu o carinho do público, que entoava "Lula, ladrão, seu lugar é na prisão", um dos motes da oposição ao governo.

 


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